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Os humanos foram levados a aposentos reservados a eles dentro do complexo. Yuri e Daniele acompanhavam Alih'Ell e um soldado tritoniano que fazia a proteção da embaixatriz. Porém Yuri sentia que não deveria ser necessário tanta segurança. Tanto a embaixatriz quanto a imperatriz tinham um poder de influenciar os outros indivíduos tritonianos por uma subordinação tanto feromônica como mental, e essa influência podia ser sentida até mesmo por humanos.

– Como funciona seu sistema político? – Perguntou Daniele curiosa.

– Nós tritonianos sempre elegemos um líder máximo que governa a colônia por toda sua existência. É a figura da imperatriz. Mas os deveres de uma imperatriz são muitos, a exigência necessária para o cargo é tamanha que a expectativa de vida de uma tritoniana no poder cai drasticamente. Em geral a fêmea mais influente da colônia sobe ao poder, e a segunda mais influente é eleita embaixatriz. Com nossa influencia nós comandamos os líderes militares e civis. Mas nunca tomamos decisões sozinhas. Pra isso existe o conselho dos anciãos que sempre votam as decisões mais importantes e debatem conosco em reuniões.

– E a população aceita as decisões da imperatriz sem questionamentos? – Yuri perguntava confuso.

– Cada tritoniano recebe a benção da imperatriz antes de se tornar um adulto. Ela é como uma deusa viva, durante essa benção a imperatriz sente nossa alma e determina qual será nossa função na sociedade. Não questionamos uma dinvindade. Toda a engrenagem da comunidade funciona perfeitamente dessa forma, os soldados crescem soldados e garantem a segurança, os médicos crescem médicos, cientistas crescem cientistas, professores, políticos, agricultores, transportadores distribuem a comida, e assim por diante.

– Não existem classes sociais? Tritonianos mais ricos ou mais pobres? Dinheiro? – Yuri questionava ainda muito confuso.

– Desculpe, eu não entendi algumas palavras que você falou, seu tradutor não deve ter encontrado uma equivalente no nosso idioma.

– Acho que posso compreender. Vocês são biologicamente determinados a formar uma economia socialista perfeita, não conhecem nem mesmo o conceito de dinheiro. Parece uma organização natural para uma espécie que obedece sem questionamentos a figura de uma imperatriz que mantém um controle hormonal poderoso na comunidade.

– Acho que a senhora está correta senhorita Daniele. – Falou Alih'Ell com um sorriso satisfeito de quem se orgulhava de seu povo.

– Por um lado, vocês parecem felizes com a sustentabilidade da sociedade. – Yuri tentava chegar a uma conclusão. – Por outro lado, vocês estão claramente atrasados tecnologicamente por não existir competição. Sofreram com um golpe vindo de uma espécie mais poderosa. Acho que nós crescemos, aprendemos a lutar mais rápido com nossas próprias guerras.

– Senhor Yuri, eu entendo que o sofrimento promova o crescimento em seu mundo. Aqui crescemos lentamente porém em paz e harmonia. O nosso mundo não conhecia a guerra, ela veio até nós. Infelizmente nossa paz não foi capaz de conter toda a violência, Atlas era uma presa fácil.

– As imperatrizes são sempre fêmeas? – Daniele já sentia que iria gostar da resposta.

– Sim, as fêmeas tritonianas possuem o poder nato da influência. Em algumas é tão forte que conseguimos influenciar outros animais, em diferentes espécies. Podemos sentir as intenções dos que estão próximos inclusive. Foi assim que a imperatriz acreditou no que vocês falavam. Usamos isso para manobrar toda a colônia com ajuda do conselho. Não tentem contrariar um desejo das tritonianas desse complexo, vocês não irão conseguir.

Os jardins daquele edifício podiam ser vistos dali das janelas daquele corredor, iluminados apenas por algumas poucas luzes, eram lindos, lagos artificiais e pequenas cachoeiras em queda sobre eles. Ouvia-se um canto de algum animal noturno.

– A maioria dos nossos aposentos são submersos, nós vivemos melhor abaixo d'água, o que podem ver aqui na superfície é cerca de 20% da cidade. – Alih'Ell continuava – Então temos poucos aposentos aqui acima para abriga-los. A nossa estrela vermelha é danosa a nosso corpo se exposto por muitas horas, nos rios subterrâneos desse planeta encontra-se a maior parte da vida.

Ela parou em frente a dois aposentos no corredor.

– Desde que os vi juntos sinto uma ligação entre vocês, vocês preferem ficar em um aposento juntos ou separados?

– A não, nós não... – Falou Daniele desconfortável. – Separados por favor.

– Pois bem, fique nesse sr. Yuri. Daniele pode ficar no próximo. Seus colegas serão acomodados no andar superior. Pela manhã um soldado deve acompanha-los até a varanda onde faremos a reunião da tropa.

O complexo de inteligência servia também como aposento da maioria dos anciãos que formavam o conselho dos anciãos. Os dois líderes e o resto do conselho formado por 100 anciões de carreira política na sociedade tritoniana.

Nairo, Júlio, Elvis Blanko e Honoldo foram acomodados no andar superior, acompanhados de Otto'Ni o conselheiro civil.

– Em todos os meus 105 anos eu sempre imaginei que existissem seres em outros mundos fora de Atlas, mas tudo parecia tão utópico. – Falava Otto'Ni como se não acreditasse nos acontecimentos daquela noite – Desde que conquistamos o espaço eu acreditava que seria possível algum dia encontrarmos vida fora deste planeta, mas nunca pensei que eu estaria vivo para conhecer um alienígena.

– O Senhor não é o único Senhor Otto'Ni, há poucos meses atrás nós acreditávamos viver no único planeta que desenvolveu vida em toda a via láctea. – Falou Nairo Kaezar.

– Hoje sabemos que a vida não só é comum no espaço, mas é contagiosa – Continuou Willian Honoldo – a partir do momento que se desenvolve, ela se espalha e faz de tudo para sobreviver. Se fosse uma praga seria uma praga impossível de erradicar.

– Eu entendi que o senhor falou que tinham um governo galáctico e que foram derrubados pelas forças do império Borck. Como desconheciam o espaço a poucos meses atrás?

– Nós somos os descendentes da espécie humana que governou a galáxia a 5 mil anos atrás. – Explica Honoldo – Somos pertencentes a uma colônia humana que viveu isolada e não conhecia a própria história. Encontramos ruínas de uma inteligência artificial humana que nos trouxe até aqui. Ela se chama Seth, e está nos guiando até onde começou nossa existência. Não temos certeza da causa da extinção de nossa espécie, mas Seth acredita que os Borck podem ser o predador que nos varreu da galáxia.

– Uma história trágica, porém fascinante. Tenho milhões de perguntas para os senhores, mas teremos muito tempo para conversar, só me respondam, como é o seu mundo? – Perguntou Otto'Ni com um brilho peculiar nos olhos.

– Nós viemos de uma estrela que chamamos de Aires, 10x menor do que a sua estrela Antares. Ela pode ser vista daqui. – Nairo apontava para uma estrela no céu de Atlas – Nosso planeta, Raven, não é mais tão verde quanto o seu, eu só conheço florestas naturais e animais silvestres através de simulações de realidade virtual, de uma época em que nosso planeta tinha vastas florestas como seu planeta Atlas.

– Imagino que esse é o destino natural da tecnologia. Crescer a ponto de substituir tudo.

– O planeta é completamente coberto por uma metrópole só, aproveitamos a energia tectônica e térmica do núcleo do planeta. Temos usinas espaciais para captação da energia proveniente da radiação da estrela Aires. – Falou Nairo Kaezar – Controlamos o clima por satélites geoestacionários, nunca mais na história houve um desastre natural ou descontrole climático no planeta. Em compensação a maior parte dos nossos alimentos são artificiais, colonizamos planetas vizinhos para usarmos de depósito de lixo, a flora e fauna que antigamente existia hoje é mantida a pequenas reservas de proteção florestal, são parques para visitarmos e experimentarmos a vida primitiva no nosso planeta. Não é um destino tão animador para considerar ele um destino natural. Prefiro enxerga-lo como trágico, nossa espécie destruiu a natureza de nosso planeta natal e buscamos um recomeço nas estrelas vizinhas.

– Se isso incomoda vocês humanos, porque as pessoas não se unem para mudar essa realidade?

– A maioria das pessoas preferem dormir em órbita do planeta, em criogenia, vivendo em uma realidade virtual onde podem ser eternos, numa natureza simulada. Porém nunca terão a chance de desfrutar de uma natureza real como a sua.

– Muito bem, é melhor deixá-los descansar, em breve teremos mais batalhas a travar e vencer.

Órfãos de Olimpus [COMPLETO]Место, где живут истории. Откройте их для себя