capítulo 4

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-O que você está fazendo aqui?

-Só olhando -disse eu.

Instintivamente, segurei a faca cega que trazia no bolso. Você apertou os lábios e me encarou. Senti meu coração bater mais rápido.

-Já que vou ficar aqui por uns tempos, achei melhor conhecer o lugar -continuei em voz trêmula.

Você meneou a cabeça. Pareceu satisfeito. Depois deu um passo para o lado e me deixou passar. Suspirei o mais baixo que pude.

-Achou alguma coisa interessante?

-Um bocado de lentilhas.

-Eu gosto de lentilhas.

-Tem um bocado de comida.

-Nós vamos precisar.

Contornei a mesa da cozinha para me manter longe de você, me sentindo aliviado e um pouco mais corajoso.

-Não há nenhuma loja por aqui? Nenhum lugar para comprar comida?

-Não, eu já lhe disse.

Olhei de novo para o armário. Como você tinha levado tudo aquilo para lá? E o que aconteceria se eu destruísse tudo? Você sairia para comprar mais? Deslizei a mão no encosto de uma das cadeiras da mesa.

-Quanto tempo vai durar? -perguntei.

Olhei para o armário de alimentos, fazendo cálculos. Havia o suficiente para um ano, talvez. Ou mais.

Você deu de ombros.

-Há mais comida no galpão-você disse.-Muito mais.

-E quando acabar?

-Não vai acabar. Não por muito tempo

Fiquei com o coração apertado. Lentamente, você abriu a torneira da pia. Um pequeno filete de água caiu gorgolejando.

-Além disso, temos galinhas. E quando você...-você parou e olhou para mim, escolhendo a palavra certa -Quando você estiver aclimatado, nós podemos dar uma volta por aí para colher plantas silvestres. Podemos capturar um camelo também, talvez dois. Podemos deixar os camelos nos rochedos, construir uma cerca em volta...

-Camelos?

Você assentiu.

-Para tirar leite. Também podemos matar um para comer acarne, se você quiser.

-Carne de camelo? Isso é loucura -eu disse.

Percebi a expressão de advertência em seus olhos e vi seus ombros se contraírem. Não falei mais nada; e segurei com força o encosto da cadeira.Você lavou as mãos. A água que espiralava no ralo era marrom-avermelhada, lembrando sangue. Você usou uma escova para limpar a sujeira das unhas. Como eu já disse, estava me sentindo um pouco mais corajoso naquele dia. Não sei o motivo, mas queria perguntar coisas a você. Como você não parecia estar me vigiando, dei uma volta pela cozinha. Parei ao lado da gaveta trancada.

-Por que está trancada? -perguntei.

-Para sua segurança. Depois do que você fez no pulso...

Você se virou de novo para a pia e continuou o trabalho de limpeza.

-Não quero que se machuque de novo.

-O que tem aí dentro?

Você não respondeu.

Quando comecei a puxar a gaveta de novo, você se aproximou, me agarrou pela cintura e me arrastou para o corredor. Eu gritei e chutei você, mas você continuou a me arrastar até chegar ao meu quarto, onde me largou na cama. Rapidamente, engatinhei para longe de você. Procurei a faca no bolso. Mas você já estava do lado de fora quando a saquei.

Stolen (L.S Version)Where stories live. Discover now