capítulo 8

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Você permaneceu deitado ali, preguiçosamente, por mais alguns minutos. De olhos fechados e lábios um pouco entreabertos, parecia quase sereno.

Após algum tempo, você guardou as coisas do piquenique e nós descemos a colina. A caminhonete ficava quase na vertical em algumas partes da ladeira. Às vezes passávamos sobre pedras tão grandes que faziam o volante girar sozinho. A visão panorâmica foi encolhendo à medida que descíamos; quando chegamos à base da 1colina eu já quase tinha esquecido a vastidão infindável que se estendia diante de mim quando eu estava no topo.

Você estacionou à sombra da montanha. Como estava quente demais para ficarmos dentro da caminhonete, você me disse para descer e me postar embaixo de um ressalto da encosta. Os camelos continuavam a se aproximar de nós.

Vinham andando pachorrentamente, mas de repente aumentaram o ritmo das passadas. Seus vultos ficavam maiores à medida que chegavam mais perto. Você apontou o binóculo para eles. Então se virou para mim e gritou.

— Entre na caminhonete! Eles nos viram. Vão dar meia-volta
antes de chegarem aqui.

Ouvi o martelar distante de cascos na areia dura.

— Vamos! Você acenou para mim. — Rápido, senão vou deixar você para trás.

Era uma sugestão tentadora. Mas eu estava excitado também embora fingisse não estar. Eu queria ver como você iria capturar uma daquelas criaturas enormes. Antes mesmo que eu fechasse a porta, você partiu a toda. Depois relanceou os olhos para o lado, verificando se eu estava na caminhonete.

— Procure alguma coisa para se agarrar!

Enquanto acelerávamos na direção dos camelos, o velocímetro deu um pulo para cima. A caminhonete andava mais rápido na areia dura. As coisas no porta-malas começaram a se entrechocar. Torci para que a cobra não estivesse mais lá, prestes a ser arremessada na minha direção a qualquer momento.

Eu podia sentir os pneus derrapando. Mais de uma vez a caminhonete se inclinou violentamente para o lado. Seu rosto concentrado tinha um ar feroz.

— Isso é perigoso! — gritei.

Minha cabeça bateu no teto quando passamos por cima de uma grota seca. Seu binóculo deslizou pelo banco traseiro e colidiu contra a porta. Você deu uma olhada para trás.

— Talvez seja.

Enquanto pisava fundo no acelerador, você ria. Segurei a maçaneta da porta com tanta força que meus dedos ficaram dormentes. O velocímetro passou dos quarenta quilômetros.
Estávamos quase ao lado dos camelos. Como você dissera, eles tinham dado meia-volta ao chegar perto de nós. Agora corriam a toda em direção ao horizonte, com os pescoços esticados e abaixados. Davam passos incrivelmente largos.

Eu nunca vira um camelo selvagem antes. Dava medo o modo como eles se agigantavam ao lado da caminhonete. Um coice bem calibrado poderia atravessar minha janela.

— Pegue a vara no banco de trás! — você berrou. — Rápido!

Eu me virei e peguei a comprida vara de madeira com um laço de corda na ponta. Tentei entregá-la a você, mas isso era difícil naquele espaço estreito. Ela se prendia nas laterais e eu não conseguia fazer com que transpusesse o espaço entre os assentos.

Você olhou para a vara e depois para os camelos, procurando manter a caminhonete paralela a eles.

— Preciso disso agora!

— Estou tentando.

Você estendeu o braço e deu um puxão na vara, que acabou atingindo seu rosto. A caminhonete guinou de forma alarmante para a direita, na direção dos camelos. Eu gritei. Você me deu um tapa no ombro.

Stolen (L.S Version)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora