capítulo 9

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— Se está realmente tão desesperado, lou, então vá. Vamos ver até onde você consegue ir.

Antes mesmo de você terminar a frase, eu já tinha saído dali, apertando a chave na mão. Estava achando que você viria atrás de mim a qualquer momento e me empurraria para o chão com seus braços poderosos. Não olhei para trás. Passei correndo por uma touceira de erva-sal, cujas folhas pontiagudas arranharam minhas pernas. Um raminho grudou no meu short, mas não me dei o trabalho de retirá-lo. Eu mal o sentia. Pulei sobre um pequeno cupinzeiro.

Avistei a caminhonete estacionada ao lado do galpão de pintura, com o capô apontado para o deserto. Torci para que você tivesse deixado alguma coisa no porta-malas... água, mantimentos, combustível. Entrei no cercado da camela, que se levantou e trotou na minha direção. Mas passei por ela correndo.

— Tchau, menina — arquejei. — Sinto muito não poder levar você.

Ela correu ao meu lado por alguns metros, com passadas equivalentes a três das minhas. Tive vontade de soltá-la, mas não podia perder tempo.

Ao chegar perto da caminhonete, parei e enfiei a chave na fechadura da porta. A chave não girou. Talvez fosse dura demais. Ou talvez eu estivesse com a chave errada. Girei a chave de um lado para outro, correndo o risco de quebrá-la. Então percebi que a porta não estava trancada e a puxei. A porta se abriu emitindo um rangido alto.

Olhei para trás. Um erro.

Você estava saindo dos Separados e vindo na minha direção, balançando os braços e a cesta vermelha. Você não estava com pressa. Talvez achasse que eu não sabia dirigir, parecia convencido de que eu não poderia escapar. Mas eu sabia que poderia. Sentei no assento do motorista. Bati a porta. Enfiei a chave na ignição. Meus pés estavam longe dos pedais. A alavanca de ajuste estava entupida de areia e não consegui modificar a posição do banco. Então me sentei na beira do banco. O volante estava tão quente que não consegui segurá-lo por muito tempo. Não havia ar dentro da caminhonete. Só calor.

Tentei me lembrar do que papai me dissera: gire a chave na ignição, pé na embreagem, alavanca em ponto morto. Ou a alavanca deveria estar na primeira marcha? Olhei para trás. Você estava caminhando mais depressa, gritando alguma coisa para mim, mas não consegui entender o que era. Você tinha acabado de sair do cercado da camela. Girei a chave. A caminhonete ganhou vida e deu um grande salto para a frente. Neste momento pensei que tinha conseguido.

Estava indo embora!

Mas meu pé escorregou do pedal, a caminhonete parou de repente e meu peito bateu contra o volante.

— Vamos, vamos! — gritei, batendo com as mãos no volante.

Você estava a uns dez metros da caminhonete, provavelmente
menos.

— Comece a andar, lata velha!

Você também estava gritando alguma coisa. Apertei os pedais com o pé e sacudi o corpo, como se minha vontade pudesse fazer a caminhonete andar. Algo úmido escorria pelo meu rosto — podia ser suor, lágrimas ou sangue. Você estava estendendo os braços na minha direção, como que suplicando.

— Por quê, Louis? — você estava dizendo. — Por que isso?

Mas eu sabia por quê . Porque era minha única chance; porque eu não sabia quando teria outra chance de sair daquele lugar.

Coloquei o câmbio em ponto morto. Girei a chave. Não sei como, comecei a me lembrar de tudo. Era como se uma parte de mim tivesse assumido o controle, uma parte mais lógica e adulta que se lembrava dessas coisas.

Apertei o acelerador, mas não muito. A caminhonete não morreu; ficou apenas roncando, aguardando. Quando eu observei você, no outro dia, você tinha empurrado a alavanca devagar. Tentei fazer a mesma coisa, apertando o acelerador com o outro pé. A caminhonete roncou mais forte.

Stolen (L.S Version)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora