capítulo 13

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- Você não precisa mais se preocupar com ele - disse a voz suavemente. - Ele já era.

- O que você quer dizer com isso?

Os dedos deslizaram pelo meu pulso e o apertaram. Suas pontas eram muito frias.

- Seus pais estão a caminho.

Dormi.

Primeiro ouvi mamãe falando no corredor, com voz alta e esganiçada.

- Nós viemos o mais rápido que pudemos. Onde está ele?

Os saltos dos seus sapatos clicavam rapidamente, cada vez mais alto... se aproximando.

Ao fundo a voz de papai, mais baixa, falava com uma terceira voz.

- Ela esteve em coma induzido por causa do veneno - dizia a voz. - Ele vai se sentir estranho por algum tempo.

Subitamente, eles estavam no quarto; mamãe, papai e um médico de jaleco branco. Havia um policial à porta. Mamãe me abraçou, quase me sufocando com seu perfume caro e seu macio casaco de lã. E chorou nos meus ombros. Papai estava de pé atrás dela, falando alguma coisa. Estava sorrindo. Sorrindo com o rosto todo, o que me deixou confuso por alguns momentos, porque papai nunca sorria daquele jeito. Não para mim, de qualquer forma, não que eu me lembre.

Então todo mundo começou a falar, fazendo perguntas e me olhando fixamente... Olhei de mamãe para papai e depois para o médico. Havia barulho demais. Olhei para suas bocas se abrindo e fechando, mas não conseguia entender as palavras. Abanei a cabeça. Então, quase ao mesmo tempo, todos ficaram em silêncio.

Eu queria falar com eles. Queria conversar. Queria mesmo. Uma parte de mim, a maior parte, estava feliz com a presença deles, tanto que tive vontade de me desmanchar em lágrimas. Mas eu não conseguia chorar, não conseguia nem mesmo falar. Não saía nada. Eu nem mesmo conseguia erguer os braços para dar um abraço. Não ainda.

Não imediatamente.

Mas mamãe chorou por mim, despejando rios de lágrimas, que deixaram meu pescoço molhado e viscoso.

- Ah, Louis, deve ter sido horrível para você - soluçou ela. - Mas agora nós estamos aqui. Prometo que vai ficar tudo bem. Não precisa se preocupar. Você está seguro.

Havia algo estranho no modo como ela disse essas palavras. Era como se estivesse tentando convencer a si mesma. Tentei sorrir para ela. E realmente fiz isso. Todos os músculos do meu rosto doeram. Uma dor latejava na minha testa. As luzes no quarto eram brilhantes demais.
Tive que fechar os olhos.

Mamãe voltou mais tarde, sozinha. Seus olhos estavam vermelhos e pareciam cansados. Ela havia trocado de camisa. Agora usava uma cor de pêssego, recém-passada, com cheiro adocicado.

- Nós não devíamos ter vindo juntos - disse ela. - Deve ter sido difícil para você... depois de não ter ninguém por tanto tempo, ninguém a não ser...

Ela não conseguiu dizer seu nome. Só de pensar em você fez o rosto dela se contrair numa careta de dor. Assenti com a cabeça, indicando que compreendia, e ela prosseguiu.

- Os médicos me disseram que as pessoas às vezes custam a se readaptar à vida real. Eu sei que não posso esperar que você...

O rosto dela lutava com uma emoção que eu não conseguia entender. Franzi a testa.

- E nem sei o que ele fez com você - murmurou ela. - Você parece diferente, de alguma forma.

Ela teve que olhar para outro lado, mordendo os lábios. Depois respirou fundo até recobrar a serenidade.

Stolen (L.S Version)Where stories live. Discover now