capítulo 7

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Ouvi um ruído surdo vindo da varanda; o barulho constante de alguma coisa sendo atingida.

Abri a porta de tela e me imobilizei, com os pés descalços plantados na madeira. O sol da manhã estava mais suave naquele dia, não tão intenso. Não precisei esperar os segundos habituais para que meus olhos se ajustassem à claridade.

Você estava à minha esquerda, vestindo um short amarelo e uma camisa branca. Um saco de boxe balançava entre seus punhos e o ar. Eu nunca tinha reparado nele antes, talvez você tivesse acabado de pendurá-lo. Você estava nas pontas dos pés, pulando de leve, socando fortemente o saco com as mãos nuas. Contornos de músculos se projetavam por baixo de sua camiseta. Não havia nada macio em seu corpo, nada desnecessário.

Você soltava um grunhido baixo quando atingia o saco. Os nós dos seus dedos estavam vermelhos. Acho que você não percebeu que eu estava ali. Sua expressão era extremamente concentrada e todos os músculos de seu corpo estavam direcionados para os socos.

Tremi ao imaginar você me batendo com aqueles punhos duros como pedras, ao imaginar minhas costelas se partindo... as manchas negras na minha pele. Você continuou a desferir golpes até o suor mudar a cor da sua camiseta. Então imobilizou o saco de boxe e limpou a testa com a camiseta. Tive um vislumbre da sua barriga: era totalmente musculosa.

Você andou até uma barra de metal presa num dos lados da varanda e a segurou. Depois içou o corpo até o queixo e o abaixou lentamente. Seus bíceps inchavam a cada movimento, dando a impressão de que sua pele iria estourar. Você era o homem mais forte que eu já tinha visto.

Poderia me matar com facilidade, se quisesse. Poderia me estrangular com um leve aperto, ou estourar a minha cabeça com um simples soco. Não havia nada que eu pudesse fazer. Uma faca cega embaixo do colchão não era páreo para você.

Mais tarde, segurei a faca que tinha tirado da cozinha. Testei seu gume fazendo um corte no dedo. Imaginei que era a sua garganta que eu estava seccionando. Uma gota de sangue caiu manchou o lençol. Depois me inclinei sobre a base da cama e fiz mais alguns cortes. Achei que tinham se passado dezesseis dias, mas fiz uma marca extra, para o caso de estar enganado. Dezessete dias.

Você estava no quarto quando eu acordei.

- Está pronto para ver os Separados? - você perguntou. -Vou levar você lá hoje.

Franzi a testa.

- Já vi os Separados.

Rolei para o outro lado, tentando esquecer minha fracassada tentativa de fuga, mas você contornou a cama, de modo a poder me ver para onde quer que eu me virasse. Você estava sorrindo enquanto me olhava.

- Você não viu direito. Não comigo.

Depois saiu do quarto. Quando me levantei, um bom tempo depois, você estava na cozinha à espera. Quando me viu, abriu a porta.

- Venha - você disse.

Então segui você. Não sei bem por quê. Poderia dizer que foi porque não tinha nada melhor para fazer a não ser olhar para quatro paredes, ou porque queria fugir de novo. Mas acho que era mais do que isso. Quando eu estava dentro da casa me sentia como se estivesse morto.

Quando estava com você pelo menos sentia que minha vida tinha alguma importância... não, não é bem isso, sentia que minha vida estava sendo notada. Parece estranho, eu sei, mas eu sabia que você gostava da minha companhia. E esta era a melhor alternativa - a sensação de vazio que ameaçava me sufocar a cada hora que eu passava dentro daquela casa.

Você foi na frente. Quando chegou à cerca, puxou o pedaço que tinha cortado para eu passar para o outro lado. Caminhamos em silêncio até chegarmos à entrada da trilha. Você parou, com a mão repousando no tronco de uma das árvores que cresciam nas pedras. Fiquei um pouco para trás, mantendo um metro ou dois entre nós.

Stolen (L.S Version)Where stories live. Discover now