A Vidente

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Elisa chegou a praia e encontrou Zuzu. O menino estava sentado na areia atirando pedras no mar. Ela percebeu o quanto ele estava entediado e sentou ao seu lado, pegando também uma pedra e atirando bem longe. Em seguida perguntou:

— Percebo que está muito triste! O que aconteceu?

— Não aconteceu nada! Eu só queria conversar com ela, mas as suas palavras foram claras ao dizer que eu ainda não posso ouvi-la – respondeu o menino com certa tristeza.

— Ela quem? – perguntou Elisa curiosa.

— A vidente. Ela quase nunca vem aqui e pelo que me disseram, já fazia muito tempo que ela não aparecia.

— E o que um menino tão jovem precisa saber para precisar de uma vidente?

— Não sou tão jovem assim! Já faz muito tempo que estou aqui. Apenas queria saber se um dia poderei ajudar de verdade.

— Agora estou confusa! Como assim ajudar de verdade? — ela perguntou intrigada, foi então que Zuzu levantou-se e correu para o mar. Ao chegar, gritou para ela o acompanhar.

— Venha amiga, vamos nos divertir — insistiu o menino que já não demostrava nenhuma tristeza.

— Não posso me molhar, acho que vou dar uma volta. Se chegar em casa molhada, a minha mãe irá desconfiar.

A menina resolveu subir a trilha das pedras e chegou até o Pontal das Margaridas. Algumas vezes o vento levava o perfume das flores, espalhando-o por toda a praia. Foi dessa forma que Elisa descobriu aquele lugar maravilhoso. Borboletas de diversas cores eram a sua única companhia. Ela sentou-se de frente para o mar, quando teve a oportunidade de apreciar uma linda embarcação. Era um imenso navio que deslizava com suavidade na calmaria das águas prateadas. Tempos depois, quando a menina se preparava para regressar, surpreendeu-se ao ouvir uma voz:

— Olá Elisa, tudo bem?

— Quem está falando? Onde está?

Uma mulher levantou-se do meio das margaridas e Elisa enfim encontrou a dona daquela voz suave.

— Estou aqui minha jovem – era uma senhora de cabelos brancos e carregava na mão direita uma caneta de pena dourada, um objeto magnifico que mais tarde ela revelou usar para retocar algumas palavras desbotadas da história.

— Como sabe meu nome? Quem é a senhora?

— Eu sei de tudo. A minha função é saber! Sou a Madame Lenci, a vidente.

— Então é a senhora que o Zuzu quer encontrar? Mas porque você não fala com ele?

— Ele ainda não precisa conversar comigo. Tudo que ele sabe, é o que precisa saber. Aquele menino tem o dom de encantar a todos, porém, é apenas uma criança. Deixemos as crianças serem crianças, pois se há uma certeza, é de que todas vão crescer. Não precisamos antecipar isso, você não acha?

Elisa sorriu, talvez tenha se lembrado das diversas vezes quando ainda era apenas uma menina, mas desejava ser adulta. Ela sabia que muitas crianças perdiam a infância bem antes do tempo. Felizmente isso não aconteceu com ela e talvez fosse por isso que a vidente não quisesse conversar com Zuzu. Afinal, ela havia acabado de dizer que as crianças deveriam ser crianças. Algum tempo depois, Elisa perguntou o porquê de nunca ter ouvido falar sobre ela.

— Não é necessário aparecer para todos. Basta aparecer na hora certa. — a menina refletiu e compreendeu que talvez ela estivesse ali para ajudá-la.

— Tu tens o dom de ver o futuro? — perguntou imaginando que talvez ela pudesse orientá-la sobre seu amor.

— Tudo é possível. Mas nem sempre é necessário olhar adiante para ver o óbvio — respondeu a vidente.

— Como assim? Não entendi.

— O passado é uma lembrança e o futuro ainda não aconteceu. O melhor de tudo é viver o presente. Porque perder todo o milagre que nos cerca pensando em tempos que não podemos estar. Por acaso conheces alguém que tenha viajado no tempo? Acho que a resposta é não! Mesmo assim me diga: O que queres ver?

— Pode me mostrar onde Guto mora? Podes me dizer quem ele é?

— O que me pedes é algo tão simples, contudo, não sei ver assim. Esse é um caminho que terás que percorrer sozinha, mas acredito que chegarás onde precisas estar.

— E o que consegue ver? Tem alguma coisa para me falar?

— Posso ver tanta coisa. Vejo por exemplo que serás muito feliz onde quer que esteja. Seu coração é generoso e pessoas assim nunca deixam de sorrir.

— Pode ao menos dizer se o encontrarei no lugar de onde venho?

— Muitas vezes aquilo que procuramos, também nos procura. Mas algumas vezes, por um segundo de desatenção, acabamos por não perceber.

— Então o amor pode falhar? — perguntou a menina com o olhar triste.

— O amor jamais falha, esse é um sentimento perfeito. Mas entenda uma coisa, existe um tempo certo para tudo, por isso, não desanimes se o que não podes ver agora tardar em ficar visível. Na hora certa tudo se torna claro como o sol e, será nesse momento, que aprenderás a enxergar com o coração.

Elisa sentiu algo dentro de si e acreditou no encontro. A vidente não falou nada de seu futuro, e talvez, nada precisasse ser dito. Tudo era incerto e era isso que tornaria a sua busca inesquecível.

 Tudo era incerto e era isso que tornaria a sua busca inesquecível

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A Menina que se apaixonou por um livroWhere stories live. Discover now