O Canto da Saudade

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Após a partida da escultora, o casal subiu em direção a colina e quando alcançaram o topo, sentaram-se em um banco de madeira embaixo da grande árvore e aguardaram pacientemente o pôr do sol. Os dois estavam abraçados e, em silêncio, contemplavam a beleza daquele paraíso. Foi então que, de repente, um triste som ecoou vindo do galho mais alto da árvore. Intrigado, Guto indagou:

— Que som desolado, eu nunca ouvi algo assim! Quem será o dono dessa triste melodia? – Antes que Elisa tentasse responder, outra pessoa tomou a sua frente e explicou:

— É a Saudade! Ela está lá em cima, bem no alto. Mas acreditem, por mais alto que ela possa estar, apenas deseja ser feliz. Vejam as suas penas pretas e amarelas, dizem que ela canta a espera do amor, aquele que um dia foi embora, sem que ela soubesse o motivo. Eu acho linda a sua devoção, pois mesmo após tanto tempo, ela nunca se cansou de esperar. Eu tenho um palpite que a sua busca está perto do fim.

Eles olharam para trás e viram um homem de chapéu de palha com uma inchada nas mãos, logo em seguida, observaram o pássaro, estava exatamente onde ele falou. Após contemplarem a beleza daquela triste ave, olharam novamente para o senhor e então perguntaram:

— Quem é o senhor? E de onde veio que não te vimos antes? — perguntaram em uníssono.

— Vocês chegaram tão quietos e apaixonados, depois sentaram admirando o mar, proporcionando uma cena tão perfeita que, eu não tive coragem de atrapalhá-los. Sou o guardião da colina, ou talvez, apenas o jardineiro. Sempre que posso venho para cá e cuido desse lugar. Amo tudo por aqui e faço a minha parte para que esse mundo continue maravilhoso. Na maioria das vezes, é somente a saudade que me faz companhia.

— Estranho! De onde eu venho ninguém cuida das colinas. Acho que a própria natureza é que faz isso. — Revelou a menina, ainda surpresa.

— Talvez esse seja o motivo de não haver colinas tão brilhantes de onde vens! Lembra-te de algo assim por lá? — Perguntou o jardineiro sorrindo.

— De fato, não lembro! Talvez tudo aqui seja mágico e é isso que torna esse lugar fantástico.

— Não acho que seja magia minha jovem! Eu acredito que o poder de mudar as coisas está presente em cada um de nós. A força maior que move o universo são a vontade e o amor. Quando elas se juntam, nada é impossível.

— Nossa! O senhor é muito inteligente. Tens mesmo certeza que és um jardineiro? — Perguntou Guto curioso.

— Sim, meu jovem! Acredite que, jardineiros e filósofos tem a mesma essência. Tu encontrarás verdades nas citações de ambos e também a mesma oportunidade para aprender. Um filósofo um dia foi alguém comum e, se olharmos para o passado, poderemos confundi-lo com um jardineiro. Mas isso não o tornará menos filósofo, pelo contrário, apenas mostrará mais humano. O conhecimento está ao alcance de todos, tudo depende de como ouvimos e, principalmente, se queremos ouvir.

O casal estava encantado, era a segunda vez que encontravam alguém estando juntos e este os ensinou tanto quanto a menina. O sorriso daquele homem era belo e cativante.

Após um longo tempo conversando, o senhor falou:

— Acho melhor se virarem agora, pois o sol está quase se pondo! Não quero que percam esse espetáculo por minha causa.

Eles se viraram e admiraram mais uma vez aquele ritual magnifico de cores reluzentes e encantadoras. Nenhuma palavra foi dita e poucos minutos depois tudo estava concluído. Foi então que eles olharam novamente para trás e não encontraram o jardineiro. Intrigados, concluíram que tivesse ido embora achando que iria atrapalhar. De toda forma eles estavam irradiantes por terem o conhecido. O canto da saudade os ensinou muito mais do que poderiam imaginar.

 O canto da saudade os ensinou muito mais do que poderiam imaginar

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A Menina que se apaixonou por um livroWhere stories live. Discover now