s e v e n

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E naquela manhã chuvosa em especial, você conheceu os meus pais. E eu gostaria de dizer que eles não gostaram de você e que não nos apoiavam, mas seria uma grande mentira. A minha mãe e até mesmo o meu pai te amaram desde o primeiro dia em que conheceram você, eles ficaram encantados, tanto que insistiram para que não fossemos a aula naquela segunda-feira.

Você parecia um príncipe encantado para eles, e até hoje continuam achando isso por não saberem os reais motivos do nosso término.

Você era fascinante e enigmático, o seu sorriso e você por completo agradava as pessoas ao seu redor, você sempre teve o talento de ser querido mesmo sendo um babaca muitas vezes.

Aquele dia foi um marco especial entre nós, muito especial. Você conheceu os meus pais e também demos um passo gigante com o nosso "relacionamento". Foi simples, incrível e um dos dias em que só tenho lembranças boas sobre você

****

Minha mãe ficou levemente chocada com a cena que viu, mas não parecia incomodada. Na verdade, ela parecia um pouco feliz. Ela e o meu pai nunca foram muito presentes na minha vida por causa das viagens a trabalho e a lazer, eles sempre foram extremamente festeiros e reclamavam por eu não aproveitar as minhas férias o bastante, mas você sabe disso, você sabe quase a minha vida inteira enquanto eu mal sei quem você é de verdade.

—Noora, quem é esse bonitinho? —Minha mãe perguntou para mim, e eu imediatamente fiquei vermelha... mas você não, você se virou pra minha mãe e deu um grande sorriso pra ela.

—MÃE! —Eu falei, enquanto escondia meu rosto nos lençóis envergonhada.

Mas você se levantou com a coberta amarrada ao quadril e se aproximou da minha mãe que estava em pé em frente a porta do quarto, e quando chegou até ela, se curvou um pouco e beijou a mão dela e em seguida falou:

—Prazer, Evan, o namorado da sua filha.

E esse foi o momento em que você ganhou o coração da minha mãe. E embora eu tenha adorado o que você falou, não era verdade, não namorávamos.

—Estou encantada, bom partido a Noora escolheu, você tem que conhecer o pai dela, ele vai te adorar. —Minha mãe respondeu enquanto sorria de orelha a orelha.

—Na verdade, a gente não namora, mãe. —Eu falei e instantaneamente o sorriso da minha mãe diminuiu um pouquinho de forma perceptível.

—Por enquanto não, mas prometo mudar isso em breve, Dona Marie. —Você respondeu mais sorridente ainda enquanto piscou para mim. E como um passe de mágica, o grande sorriso da minha mãe voltou, e se dando por satisfeita, ela aceitou com a cabeça e saiu do quarto saltitante.

E quando ela saiu do quarto, eu falei a você irritada e com desdém: —Você sabe que não namoramos, porque você falou isso pra ela, Evan Allen?

—Porque eu gostaria que fosse verdade, meu bem. —Você me respondeu tranquilamente.

Então sem esperar uma resposta minha, você me levantou e me pôs aos seus ombros da mesma forma que na noite do lago, me levou até a cama e em seguida se jogou nela comigo. Em seguida você me abraçou enquanto sorria, e aquilo foi tão natural e bonito, que eu retribui. Muitas vezes você me fez sentir muito bem, era como um sopro de esperança no caos. E as vezes você era o caos, como atualmente.

Então passamos minutos abraçados e sorrindo um para o outro em intervalos de carícias e abraços carinhosos e acolhedores, e de uma hora pra outra, estar com você não parecia mais uma alternativa ruim. Só paramos quando minha mãe gritou que a comida estava pronta e fomos ir comer depois que você colocou uma roupa qualquer do meu pai.

E ele também amou você depois de conversarem no almoço.

—Você pretende fazer o que quando terminar o ensino médio? —Meu pai perguntou a você, e eu sabia que ele realmente não se importava com isso, e só queria ser um bom pai.

—Ser feliz, embora não saiba exatamente como, eu só sei vai ser mais fácil ao lado da sua filha, senhor. —Você falou sorridente enquanto olhava nos meus olhos.

E foi assim que você conquistou o meu pai.

Mas aquilo me deu uma estranha sensação do inalcançável. Não namorávamos e eu sentia que todos aqueles planos ditos aos meus pais eram uma grande piada pra você.

Mas as coisas mudaram ainda naquela segunda.

Quando o almoço acabou, fomos até a área externa da casa e sentamos na grama enquanto acendíamos nossos cigarros.

Então pequenos respingos de chuva começaram a cair do céu e as árvores balançaram com mais força do que antes, em pouco tempo, a chuva estava forte o bastante para os cigarros se apagarem e a os pingos de chuva baterem forte no vidro das janelas de casa.

E mesmo assim, lá estávamos nós dois, ainda deitados na grama, rindo com a chuva caindo sobre nós.

E antes mesmo que pudéssemos perceber, estávamos brincando com a lama da grama.

E na grama enlameada da casa, você me fez um pedido na qual nunca esquecerei. E eu, que sempre fui estudiosa e me sentia confortável ao ir para as aulas,  fiquei contente por faltar aquele dia de aula.

—Eu não sei bem como se faz isso, mas você quer... Você sabe, namorar comigo e tudo mais. —Você me perguntou, extremamente desconcertado.

E eu aceitei.

Porque por mais que cada átomo meu gritasse o como você era errado, que cada átomo gritasse que o perigo morava em você, eu os ignorei, e os ignorei porque amei você.

E ainda amo.
Mas me odeio por aceitar namorar com você, porque as coisas começaram a desmoronar não muito tempo depois disso, e não desmoronou porque estávamos namorando, e sim porque você não estava preparado pra isso, e então você destruiu o que havia de bom entre nós.

Mas antes disso, você me proporcionou momentos bons e eu não poderia negar isso mesmo que quisesse, Evan. E eu lembro deles bem.

Você deu sentido a frase:

As coisas lindas, muito mais que lindas, elas ficarão.
Carlos Drummond de Andrade

Quem é você, Evan? Where stories live. Discover now