Do Sapo ao Anjo

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- Desisto,nunca conseguirei encontrar a peça restante ... Se pelos menos eu conseguisse entender o que diz esse quebra-cabeça...- bufo e o sapo se aproxima de mim. Ele começa à crescer até ficar mais alto que eu,depois me abraça,pega minha mão e o sigo sem exitar. Depois de um tempo,o estapeio enquanto ele me olha confuso,contudo,não solta minha mão. Paro de lhe agredir quando ele apanha um pequeno baú e arranca do seu interior uma peça de quebra-cabeça. Encargo aquele pequeno pedaço de papelão colorido e sorrio quando percebo que essa é justamente a peça que faltava para que eu concluísse o jogo. Então, agarro o objeto e o puxo das mãos do sapo,mas ela não larga dele. Ele tenta arrancá-la de sua mão, mas também não consegue. Quando ponho mais força ao puxar,a peça se solta de nossas mãos e cai no solo e, invés de apanhá-la,o sapo e eu nos abraçamos amorosamente. Nesse momento, brilha forte uma luz e a peça começa a se mover pelo ar em direção ao quebra-cabeça e,sozinha,se encaixa à ele...


-Fique longe da luz! - O que? Andrey? Onde você está? Olho ao redor e tudo está desaparecendo.


-Acorda! - ouço distante. Essa não! Tudo sumiu e o sapo também está desaparecendo. Começo a correr sem parar. O que está havendo?


-Essa demente é lenta até pra acordar. -Hein ?!


Abro os olhos e me deparo com meus amigos bobalhões praticamente em cima de mim.


-O que houve? Cadê o sapo? -pergunto em confusão.


- Que sapo,criatura? - pergunta Maya com cara de deboche.

- O que me ajudou a preencher o quebra-cabeça, oras! - Falo e os dois riem.


-Passou tão mal que está delirando com anfíbios. - Diz Maya.

- Me diga uma coisa: esse sapo aí veio à cavalo também? Beije-o para que ele vire seu príncipe encantado! -Andrey zomba.


Volto à raciocinar direito e tento perceber onde estou. Pela palidez pintada nas paredes, pelo cheiro de remédio e ar condicionado, e pela estreita e dura cama,logo percebo que estou em um hospital.


- Por que estou aqui?


- Porque você morreu. Não vês a claridade do ambiente? Estás no céu! - Andrey fala gesticulando lentamente como um anjinho.


- sério, lindo? Acordei assustada,num local que não conheço, com dois retardados em cima da minha cama gritando e minha cabeça dói tanto que penso que irá explodir a qualquer momento. Sinceramente, só pela parte de vocês estarem aqui,isso mais parece o inferno! - falo e meus amigos me olham assustados. Acho que exagerei no sarcasmo dessa vez... Ou não!


- Se você não fosse tão demente talvez a gente não precisasse estar num hospital numa segunda à noite. - Maya cospe


- Espera! Segunda à noite? -pergunto sem acreditar.


- Sim, já é noite. Não sei se você lembra, mas você estava morrendo quando sua tia chegou em casa hoje pela manhã. Depois ela e o Maurício te trouxeram pro hospital, te deram um soro e algum remédio pra dor, acho que foi esse remédio que te fez dormir tanto. Ou talvez tenha sido o fato de você ter passado a noite acordada pensando no Douglas que te fez dormir tanto... -Andrey explica


- Espera aí, quem é Maurício, como você sabe que passei a noite acordada e o que te faz pensar que eu estava pensando nele ? - minha cabeça dói ainda mais com essa confusão de frases.


- Maurício é o tio da Maya que chegou do Brasil há dois dias -por sinal, não entendemos quase nada do que ele fala- ele é o novo crush da sua tia Sula. Ah, e sobre você ter passado a noite acordada, eu te conheço, sei que fazes isso às vezes, aí suspeitei e você se entregou. E enquanto ao Douglas, eu só tava zoando mesmo... A não ser que seja verdade, aí não estou zoando...

- Okay, acho que entendi. - gesticulo para que ele pare de falar. Meu cérebro está dando um nó. - e minha tia,onde está?

-Ah, ela passou o dia aqui com você, então nos oferecemos para ficarmos aqui até que você acorde e possamos ir pra casa. - Maya diz calmamente

- Casa? Eu não estou internada?

- Não. Você chegou desacordada e com muita febre, então o médico temeu que você tivesse uma convulsão e pediu para que sua tia a deixasse aqui até que acorde, porque caso você tivesse mesmo uma convulsão, estaria em um hospital onde as pessoas sabem o que fazer. - explica Andrey

- Ta, mas o que eu tenho?

- Nada. Quer dizer, você não estava consciente então não tiveram como saber o que sentes, assim, você só irá precisar fazer alguns exames depois,mas por enquanto só precisa de repouso e está medicada. - Maya continua.

- Por que minha cabeça dói tanto? - pergunto massageando minha nuca.

- Em algum momento nesta manhã, você bateu a cabeça ao cair no chão, acabou abrindo um profundo corte, mas não há nada com o que se preocupar, higienizamos a ferida, fizemos um curativo, e colocamos junto aos outros medicamentos aplicados em sua veia um antiinflamatório. Você sentirá dores de cabeça durante essa semana,mas é só por consequência da pancada, logo cessarão. - Um rapaz magro e vestindo branco dos pés à cabeça se aproxima da gente e explica minha pergunta. Ele é loiro e seus olhos são num tom azul demasiado claro. Agora sim concordo com o Andrey, estou no céu, já estou até vendo anjos.

-Uau, e que anjo viu...! - deixo escapar. Andrey e Maya me encaram espantados

- Sou o Dr. Hubberman, prazer. Mais alguma pergunta,senhorita Wolff ?

- Você é casado? - An? O que estou fazendo? Esses remédios vão me ferrar.

- Eu quis dizer alguma pergunta sobre a sua situação aqui,mas não, não sou casado. - o Dr. Hubberman diz e sinto minhas bochechas corarem.

- Quanto tempo mais eu tenho que ficar aqui? - pergunto.

- Só mais duas horas, só até os efeitos dos antibióticos passarem completamente. Espero que não se importe em passar todo esse tempo trancada em um quarto de hospital - ele diz e ri.

- Se você estiver comigo nesse quarto não me importo nem um pouco. - CALA A BOCA,LIZA, AI QUE VERGONHA.

Não estou conseguindo raciocinar direito por causa dos remédios. Os meus amigos estão rachando de rir de mim. Q-U-E V-E-R-G-O-N-H-A.

-Se isso te fizer se sentir melhor, estarei aqui à cada trinta minutos. - OPA,LINDO, pera...o que?

- Okay - respondo secamente temendo falar outra besteira.

Ele sorri enquanto deixa o quarto e meus amigos caem na gargalhada.

- Não tem graça, gente, são esses remédios. - bufo.

- Ai doutor, estou tão mal, vem aqui e aplica sua injeção em mim. - Maya interpreta

- Não posso senhorita Wolff, não seria justo com o meu amigo sapo! - Andrey entra no jogo

- Mas você é tão lindo, tão sedutor, vem cá e me beija... Não me importo em passar das mãos do sapo pras mãos do anjo no mesmo dia. - Meu Deus,com essa até eu ri.

- Mas senhorita Wolff, não posso ser preso por pedofilia, você é gostosinha,mas é chave de cadeia na certa, além de parecer retardada. - Andrey parte pra baixaria.

- Não sou gostosinha nem retardada, muito menos chave de cadeia. Ah, chega gente! Sério, minha cabeça ta explodindo, me deixem passar essas horas em silêncio, por favor.

- Tudo bem então. À vontade. - Maya diz e os dois sentam-se num sofá do outro lado da sala.

Fecho os olhos e tento voltar a dormir, afinal, duas horas sem fazer nada parecem mais um milênio.

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