Conversa franca

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- Liza? É você, não é? - A voz do outro lado da linha me reconhece.

- Sim, senhor Suzacky, sou eu.

 Por estar ciente de que não receberei respostas do Samuel, liguei para o seu pai -e meu chefe- para perguntar a ele, pois se alguém sabe de alguma coisa que aconteceu com esse garoto, esse alguém é o senhor Suzacky. A curiosidade e a preocupação não me permitiriam dormir sem tomar essa atitude.

- É sobre o Samuel - continuo -, o que aconteceu com ele?

- Samuel? Onde ele está, você sabe? Como ele está? - Meu chefe demonstra preocupação.

- O encontrei machucado na rua e o convenci a vim pra minha casa. Ele parece bem melhor agora! Mas então... O que aconteceu? 

- É uma longa história, mas resumidamente ele e o Dylan brigaram feio... - Ele suspira - Pode me passar seu endereço? Vou buscá-lo. 

"Deixe-o ir, é o pai dele e é uma situação em família, não se envolva mais" é o que a razão me diz.  

"O que ele menos precisa agora é voltar para esse ambiente que, supostamente, o fez tão mal, então deixe-o ficar contigo e ajude-o até o fim" é o que o coração me diz. 

Pensei por uma fração de segundos e acabei por decidir: 

Dane-se o medo do que virá a seguir, eu vou ouvir meu coração com mais atenção que outrora ouvi, porque pela primeira vez sinto que sei o que devo fazer. 

- Não. Ele está dormindo, não tire-o daqui hoje. - Meu tom de voz inevitavelmente pareceu autoritário.- Provavelmente ele não irá para o café amanhã, então podemos conversar sobre isso?

Contemplar o garoto mais rude e insensível -pelo menos até então- que conheço daquela forma deplorável, de certa forma me fragilizou. Um silêncio inquietante se fez do outro lado da linha...

-Está bem! - Ele disse depois de um tempo - Mas se ele se sentir mal ou acontecer qualquer coisa, não hesite em me ligar e passar o endereço, por favor. - Confirmo com a cabeça esquecendo que ele não verá esse gesto e acabo por sussurrar um "okay". -Até mais e obrigado, Liza.

- Boa noite, senhor. - Me despeço e desligo.

"Foi uma quarta-feira e tanto!" penso enquanto retorno à sala levando comigo um cobertor e um travesseiro e me acomodo no sofá ao lado do que aconchega o Samuel. Ele pode se sentir mal, então vou estar aqui por perto caso ele precise de ajuda... Espera!

Por que eu me importo, pra início de conversa? 

De qualquer forma, talvez eu peça aumento por ser sua babá. 

Não tardo a adormecer.

Acordei bem cedo na manhã seguinte e preparei um café da manhã reforçado para o Samuel. Mesmo tendo em mente que, os cereais, as frutas frescas e todas estas delícias não mereciam ser entregues a ele, fiz com todo esforço do mundo como quem falasse ocultamente : Você inferniza minha vida sendo um imbecil, mas eu sou gentil e dócil, então coma saboreando bem a culpa da sua injustiça.

Minha tia e seu namorado também acordaram cedo e agora vieram para a cozinha. Eles se sentam para o café da manhã me cumprimentando e eu, obviamente, os ignorei depois do comportamento inaceitável  da minha querida parenta ontem, até que ela começa a despejar pedidos de desculpa e justificativas e eu impulsivamente desvaneço do local. 

Em poucos minutos eu estava sentada cara a cara com o pai do Samuel, com uma das mãos no queixo e uma sobrancelha levantada. O clima e a minha pose fizeram parecer que o Sr. Suzacky estava sendo preparado para um interrogatório criminal.

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