Prometa Ficar

Food Paradise

- Por que não me disse que morava em Silver Street? - Tony questiona, com os olhos brilhantes de encanto.

- Porque você não perguntou, oras!

Me abaixo para pegar a chave de casa em baixo do tapete. Com a chuva, tia Sula deve ter ficado presa na casa do tio da Maya, o tal namorado dela. O Tony entra em minha casa ainda com os olhos esbugalhados e um sorriso entusiasmado.

- Eu sempre quis conhecer a Silver Street, a mais bela rua turística de toda a Inglaterra. - Ele exagera.

- Isso porque você não a viu durante o dia! O alvorecer é magnífico, tudo é magnífico, na verdade. Recheada de pessoas, esquilos, pássaros... Incrível! - Me empolgo também.

- Você está me convidando para vir aqui mais vezes durante o dia? - Indaga com um entusiasmo esquisito.

Apenas dou de ombros e subo para pegar um casaco, gorro e luvas. Acabo pegando dois pares de luvas e dois gorros, o Tony também sentirá bastante frio. Ele agradece. Os acessórios lhe caíram muito bem.

- Então, onde vamos? - Questiono depois de meu estômago apertar de fome.

- Bom, eu nunca havia estado na Silver Street antes, mas já estive algumas vezes aqui por perto e conheço um lugar maravilhoso, aconchegante, culinária muito boa e ainda tem música ao vivo. Na verdade deve ficar a três, quatro ruas daqui, acho que conseguimos chegar até lá inteiros. O máximo que pode acontecer é a gente se perder, quanto a isso não se preocupe, fui escoteiro, então estou preparado! A gente pode fazer fogo com galhos, assar um esquilo e fazer sinal de fumaça. - Rimos bastante com a possibilidade.

-Então vamos. - Sugiro.

Deixo um bilhete na porta da geladeira avisando à minha tia e saímos.

O Tony não para de falar desde que saímos de casa. Em pouquíssimo tempo sei quase tudo sobre ele. Seu nome completo é Antony Wilson Marshal, está prestes a fazer dezessete anos, mora na Sidney Street, que fica a sete minutos de carro daqui, tem uma irmã muito chata -segundo ele- três anos mais velha, sua mãe é professora de história e seu pai é advogado criminalista. Ele é fã do Ed Sheeran , toca alguns instrumentos e nos fins de semana costuma ganhar uma grana extra ensinando as crianças da vizinhança a tocar violão. Apesar da renda familiar dele ser muito boa, diz que dá essas aulas porque gosta e porque quer ganhar o próprio dinheiro. Enquanto ele fala, apenas sorrio, tentando ocultar meu desinteresse. Ele falou, falou, falou e falou de novo... Não que isso me interesse, mas ele é ainda mais gatinho quando está empolgado.

Finalmente chegamos. O letreiro piscando na entrada diz "Food Paradise", com certeza é o nome desse estabelecimento. O lugar é bem preservado e bastante aconchegante. Ele é dividido em alguns cômodos, porém, não tem portas entre eles, o que nos permite ver tudo que está do outro lado. Em um fica a lanchonete, que ao mesmo tempo é Pizzaria, e no outro é uma espécie de discoteca com um bar, um salão de dança, bancos ajustáveis nos balcões e um pequeno palco contendo um projetor para karaokê e alguns instrumentos e microfones. No momento, tem um homem aparentemente de uns trinta anos no karaokê cantando "Nemo da banda Nightwish" , eu não conheço, mas foi isso que o Tony sussurrou pra mim quando estávamos nos ajustando numa mesa da lanchonete.

- Há quanto tempo esse lugar existe? - Questiono.

- Acho que desde que nos entendemos por gente... O que vai comer? Pizza é uma boa!

- Por mim tudo bem, pode pedir.
Ele obedece e acaba pedindo uma pizza tamanho família que eu como cinco das oito fatias. Ele encara o prato com as sobras das três fatias que ele comeu e depois encara o meu prato limpinho, limpinho e faz uma cara levemente espantada. Se ele soubesse a quanto tempo eu não comia uma pizza, não estaria me olhando assim! E outra coisa: Eu amo comer, então não posso ser julgada.
Depois ainda pedimos milk shake. Durante o tempo em que estamos comendo, ele faz algumas piadas do tipo : "Você parece ter um buraco negro na barriga" e eu apenas sorrio.