Salvador

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Caminhando para o tribunal, ou melhor, para a diretoria, já pude sentir um clima extremamente pesado no ar. Enormes nuvens obesas e escuras se enfileiraram no céu em poucos minutos, como um protesto misericordioso por perceberem meu medo excruciante e esse feixe de nervos que comprime minhas costelas.
O medo sumiu de repente quando adentramos a sala. Dei uma rápida olhadela na sala e sentei-me tranquilamente como se nada tivesse acontecido, enquanto a diretora circunda minha cadeira várias vezes, obviamente esperando me intimidar para conseguir explicações para os meus atos.

- E então...?! - Ela quebra o silêncio depois de se atirar numa cadeira atrás da mesinha à minha frente.

- Então o quê? - meu cinismo é revelado num sorriso levemente debochado. Começo a rodopiar a cadeira com rodinhas em que me encontro.

- Não vai falar nada? - A diretora questiona, até então, paciente. Que droga... Eu quero que ela perca as estribeiras, que grite, me despeça; eu quero sair daqui e o único jeito é irritando-a ao ponto de não aguentar-me perto.

- "Só na presença de um advogado." Assim sugerem os estudiosos, não?

- É a primeira vez que a encontro em minha escola... Uma novata... - Ela começa a procurar algo numa gaveta em sua mesa e de repente retira uma pasta amarela e fina de lá. Ela abre a pasta e começa a ler. - Muito bem, Elizabeth Wolff, seu histórico escolar já é recheado de problemas, hein?- Ela me surpreende ao rir-se. - Três dias de aula... TRÊS! E olha onde você já está.

- Pois é, quem diria... Recepção calorosa hahaha, o desprazer é todo meu.

- Você está achando isso tudo uma brincadeira , não é? Tens a noção do quão encrencada você pode ficar se continuar a me desrespeitar dessa maneira?

- Mas de modo algum ousei desrespeitar-te. Eu só falei a verdade porque não pude me conter diante de chocantes informações. Por quê? Pra que fazer aquilo? A senhora é desprezível, querida diretora. Desculpa, mas é a verdade.

- Garotinha petulante, como insiste? Como ousa continuar com essas baboseiras? Pois eu te digo que agora sim estás bem encren...

- Com licença... - Ela é interrompida por alguém que atravessa a porta demasiado rápido e senta numa cadeira próximo a mim. Não tirei os olhos dela nenhum instante, por isso não me importei com a 'visita'.

- Fica na sua. Quietinha. - Uma voz suave sussurra no meu ouvido e ao mudar o olhar e me deparar com um garoto conhecido , resolvo obedecer.

- O que você quer, Antony Marshal ? Quem permitiu que entrasse? - A diretora agora bufa de irritação.

- Ouça, tia...

Oi? Tia? Mas hein...?! Apesar da surpresa, continuo sem esboçar reação além da cara debochada.

- Olhe para essa menina... Já viu-a por aqui antes?

- Já vi que ela é aluna nova, mas o quê que tem? - Perguntou impaciente.

- A senhora mais que ninguém sabe o que fazem com novatos por aqui... Sempre inventando histórias ou os mandando de outras formas para cá. Além disso, ouvi quando a Julie Drew e suas amigas contavam essa história, que até então estava proibida, para a Lia...

- Liza! - Corrijo.

- Sim, sim. -  Ele diz e estapeia levemente minha coxa e, logo entendo que está me mandando permanecer calada. - Como eu estava dizendo, se alguém tem culpa nesse ato são essas garotas por terem exposto a senhora.

- A Julie Drew? Novamente essa garota! Contudo, sua amiga aí tem uma grande parcela de culpa também, não acha? Ela não me pareceu ter sido forçada a gritar-me , nem a despejar desaforos e deboches a todo momento.

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