Teimosia gera teimosia

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 - O que faz aí, Samuel? - Perguntei quase gritando, claramente incrédula vendo o estado do garoto agora abancado.

 Samuel parece aturdido enquanto o examino dos pés à cabeça. O rapaz traz acima de sua bochecha um machucado roxo em demasia, múltiplos inchaços no rosto e uma linha de sangue escorrida pelo canto esquerdo da boca. Sua cabeleira anelada agora está uma bagunça e sua roupa imunda, manchada de terra e sangue.

Será que ele foi assaltado e espancado, ou coisa assim? Mas por que ele viria para cá , e não pra sua casa ?

- O que aconteceu contigo? - Falei me aproximando para tocar seu rosto ferido.

- Não encosta. - Ele afasta minha mão me assustando - Isso não é da sua conta. 

- Por ora, não seja um idiota! Você está muito ferido - Disse me aproximando e ele repete o gesto estúpido.

- RAIO , ME DEIXA! - Ele torna a deitar-se - Quero dormir em paz!

- Como assim Dormir

- Quer que eu te explique como é que se dorme? 

Olha, mas é um grosso mesmo, viu? Por que não vou embora logo?

- Eu sei como se dorme, seu animal! Quero saber como vai dormir aí. Deverias ir pra casa.

- Não posso voltar pra casa. - Disse cabisbaixo. 

Logo entendo que deve ter acontecido algo na casa dele.

- Vem pra minha então. - Falei sem pensar direito.

- De jeito nenhum!

-Ah, qual é, Samuel? Cala a boca e vem comigo! Não vês que estou tentando ajudar, caramba? Você não pode dormir nesse banco no meio da rua, machucado e fazendo papelões de cobertor. - Falei praticamente brigando.

- E por que você se importa? Se eu fosse um desconhecido você me deixaria aqui sozinho nessas condições - ele grita e aponta para o banco.

- Provavelmente - Assumi. - Mas como não és um desconhecido, é mais fácil ajudar... Na verdade, acho que faria isso por qualquer pessoa que eu visse machucada. - Me contradigo. - Nem o pior dos seres humanos do mundo merece estar nessas condições, mas como não dá para ajudar todo mundo, pelo menos que eu ajude aqueles que conheço... 

- Vem? - chamo depois de receber silêncio.

- Vai embora!

- GAROTO, PRESTE  ATENÇÃO... - Grito já impaciente - VOCÊ NÃO PODE DORMIR NO RAIO DO BANCO DA PORCARIA DA MINHA RUA! 

- Ah, não seja por isso! - Samuel ergue-se do banco e se estira na grama à frente. Que audácia!

Bufo com sua atitude infantil e vou embora com passos largos e xingamentos nos lábios.

(...)

- O que pensa que está fazendo? - Samuel disse isso quando me viu estirando um colchonete ao seu lado e me deitando.

Entrei em minha casa depois de despejar ofensas no meio do caminho, fui até o porão e encontrei um colchonete de borracha daqueles de ioga em bom estado. Tossi batendo a poeira dele, depois peguei um cobertor fino e florido em meu quarto e fui de encontro ao jovem rabugento. Meu humor melhorou e recarreguei um pouco minha paciência. 

Agora me deitei tranquilamente... Eu nem sei direito o que estou fazendo!

- Se você não vai entrar comigo, então dormirei aqui contigo. - Respondo-o finalmente.

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