Capítulo 03

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Acordo com o barulho do telemóvel a vibrar em cima da mesinha de cabeceira. Olho para o ecrã e vejo que é uma grande amiga minha a ligar.

— Bom dia dorminhoca!
— Bom dia Dya, acordaste-me.
— Eu sabia, mas tenho uma novidade. É por ser tão importante decidi ligar-te logo.
— Então o que é?
— Consegui emprego numa agência. Ligaram-me hoje de manhã, e tu sabes o quanto odeio que me acordem, só que quando soube o que era fiquei bastante feliz.
— Boa, parabéns. Agora é fazeres por lá ficar e por gostarem de ti.
— Sim, eu sei que não é fácil manter um emprego, essencialmente nos dias de hoje, mas sei que vou conseguir.
— Espero bem que sim.
— Onde é que vamos almoçar hoje?
— Hoje? Porquê?
— Quero comemorar. Diz lá onde é que vamos almoçar.
— Eu entro de manhã moça, tem que ser jantar.
— Tens razão, então vamos jantar onde?
— Chinês? Anda-me a apetecer.
— Pode ser, por mim na boa.
— Então vá, depois falamos melhor. Ainda me falta uma hora para o despertador tocar, vou voltar a dormir.
— Ok, ok. Depois diz quando saíres.
— Está bem, até logo.

Andreia Ricardo. Estudou Design de Moda por ser o único curso que lhe interessava e os pais obrigaram-na a frequentar a faculdade e a formar-se em algo. Depois de 3 anos desperdiçados num curso que ela até nem gostou tanto, anda à rasca para encontrar um emprego fixo. Começou por trabalhar no McDonald's, depois trabalhou no Continente, já trabalhou em bares e agora conseguiu emprego numa agência de viagens. Vamos lá a ver se é desta que é definitivo ou se está lá pelo menos 1 ano. Fui eu quem lhe deu a alcunha de Dya, já não sei porquê, penso que até foi no gozo, mas ela adorou.
Antes de pousar o telemóvel, vejo que tenho várias mensagens do Afonso e decido ver.

"Desculpa, estava a jogar. Espero que não fiques chateada."

"Ainda por aí?"

"Já deves de estar a dormir. Amanhã falamos visto que hoje não deu. Beijinhos"

Não respondo por ser ainda cedo e volto a dormir, depois de algum tempo às voltas na cama.
Sinto o meu telemóvel vibrar algumas vezes no meu bolso, mas a loja tem demasiada gente para poder ver quem é. Estamos a vender bem, estou aqui à pouco tempo e não quero ser despedida.
O Afonso vem na minha direção, mas não consigo falar com ele por estar a atender uma cliente. Acabo de atender a cliente e vou ter com ele.

— Hoje é um dia muito difícil para poder falar contigo. Como vez, a loja está cheia. Depois falamos.
— E se formos jantar fora?
— Já tenho coisas combinadas. Até logo.

Volto a minha atenção para os clientes, apesar de notar o olhar do Afonso que demonstra ter ficado chateado com a forma como lhe respondi. Neste momento, o meu trabalho é o mais importante para mim, porque só graças a ele é que já tenho a minha própria casa e comida na mesa. Não quero saber que ele tenha levado a mal. Se levou é porque não entende o que realmente importa. Aliás pela vida que ele leva, não deve de saber o que é depender de um emprego para comer. Não me vou chatear com ele, mas ele também tem que compreender o meu lado. Não somos nada, somos apenas amigos, não lhe devo explicações. Já deixei de ter que dar explicações aos meus pais há muito tempo, por isso não é ele que vai mudar isso.
Saio por volta das 18h da tarde, quando era suposto sair às 16h, mas não me importo desde que me paguem as horas extra. Combino com a Dya à porta de casa dela, pois ela ainda não conseguiu tirar a carta. Depois disso ligo ao Afonso, para saber se ficou realmente chateado comigo, ou se foi do momento.

— Oi.
— Olá, tudo bem?
— Sim. Já saíste?
— Já. Ficaste chateado?
— Não gostei da forma como me falaste, mas compreendi que estavas no teu local de trabalho, ainda por cima a loja estava cheia. Só queria mesmo convidar-te para jantar, mas pelos vistos já tens companhia.
— Sim, tenho. Só que estive a pensar e acho que não seria mal pensado vires jantar conosco.
— Com quem é que vais jantar?
— Com a Dya. Queria que vocês se conhecessem, quem sabe se não começam a gostar um do outro e tal, depois tenho casamento entre os meus melhores amigos.
— Tens muita piada, Zara.
— Vens?
— Posso ir, mas não vou jantar sozinho com duas raparigas. Não te importas que leve o Zé?
— Não, claro que não. Já agora, vamos jantar a um chinês no Porto.
— Vocês vão ao Porto só para jantar?
— Sim, vamos comemorar o facto de ela ter conseguido emprego e é o melhor chinês que conhecemos.
— Ok, tudo bem. Sendo assim podemos ir todos no mesmo carro, escusamos de levar os dois.
— Por mim tudo bem. Eu vou a casa tomar um duche, depois vou buscá-la a casa e posso passar por aí para vos ir buscar.
— Mas assim vão vocês a conduzir e vão os homens atrás. Eu vou lá buscar-vos.
— Desculpa? Queres ver que ides jantar só os dois?
— Vá lá.
— Nem penses. Eu vou buscar-vos por volta das 20h, é para estarem prontos. Até logo.

Desligo logo para que ele não pudesse protestar. Pouso o telemóvel no banco do carro ao pé da mala, mas recebo uma mensagem dele.

"Tu és má."

Rio com a sua mensagem e respondo-lhe, sem ser muito agressiva.

"Só para quem merece ;) "

Se calhar até que fui um pouco, mas não interessa. Já está, já está. Arrumo o telemóvel na carteira e vou para casa.
Tomo um duche e sento-me na cama a observar o armário, à espera que surgisse uma ideia do que vestir. A minha ideia não é de ir produzida, mas não quero ir como me costumo vestir diariamente. É sábado, provavelmente ela vai querer ir a algum bar depois de jantar, por isso também não convém ir de saltos, porque se for não me vou aguentar muito tempo em pé. Decido vestir uma saia vermelha que me fica pouco a cima do joelho e me dá pela cintura, com meia de vidro pretas, uma camisola preta de gola alta, um casaco fino de cor preta por cima da camisola, um blazer mais quente também preto por cima e uns sapatos pretos. Para completar uma mala vermelha com algumas flores cozidas. Para completar aliso o meu cabelo comprido, deixo-o dividido ao meio e solto. Coloco uma sombra brilhante que pouco se nota e mais escura nas pontas, com eyeliner preto e um batom vermelho. Observo-me ao espelho e fico contente com o resultado, apesar de achar que o eyeliner não está igual dos dois lados, mas a minha cara também não é simétrica por isso não me chateio muito. Afinal produzi-me um pouco, mas não vou mudar agora.
Guardo tudo o que preciso dentro da carteira, coloco um colar dourado comprido e um cachecol preto sobre o pescoço, sei que o cachecol tapa, mas é só na rua, porque depois tiro-o. Mando mensagem à Dya e saio de casa.

"Estou aí dentro de 5 minutos."

Entro no carro e guio até casa dela. Ao chegar mando-lhe mensagem, mas ainda fico no carro à espera dela. Aviso o Afonso de que não demoro e pouco depois chega a Dya ao carro.

— Estava difícil moça.
— Desculpa, mas a minha mãe não se despachava a pentear-me e demorei mais um pouco do que o previsto.
— Tudo bem, mas ainda tenho que ir buscar o Afonso e o amigo.
— Como assim? Eles também vêm?
— Sim, não te disse?
— Não. De todo!
— Desculpa, é que o Afonso queria jantar comigo, mas já tínhamos o nosso jantar combinado por isso disse-lhe para vir e pronto, não queria vir sozinho, por isso é que vem o amigo. Pensa assim, pode ser que comeces a gostar de algum deles.
— Mas pelo que me contas o Afonso é teu.
— Não é não. Sabes muito bem que eu não gosto dele dessa forma.
— Mas ele gosta.
— Mal me conhece. Pode ser que se apaixonem um pelo outro e que ele deixe de se preocupar tanto comigo. Não é que não goste, mas por vezes irrita um pouco.
— Logo vemos como corre.
— Exato.

Pouco depois já estávamos à porta de casa dele, a Dya veio o caminho todo agarrada ao telemóvel que mal deu conta que chegamos. Assim que eles entram no carro, a sua curiosidade em saber quem eram os rapazes foi maior do que a sua vontade de partilhar algo nas redes sociais e olhou logo para trás.

— Tu?
— Não acredito. Tu é que és a "Dya"?

Between Brothers [ Concluída ]Onde histórias criam vida. Descubra agora