Capítulo 47

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O meu coração aperta ao ver um vídeo que o Afonso gravou da noite em que estivemos juntos. Mas que merda é esta? O que é que lhe deu para fazer isto?
Agarro no computador e desço as escadas, volto para o jardim, caminhando na direção do Afonso, sem me importar com o facto de ser o aniversário dele e o jardim estar cheio de gente. 

— Afonso!
— O que é que foi?
— O que é esta merda?
— Do que é que estás a falar?

Entrego-lhe o computador e ele fecha-o assim que vê a que me refiro. Estou irritada e empurro-o para trás, fazendo-lhe novamente a mesma pergunta.

— O que é esta merda Afonso? 
—  Um vídeo.
— Boa, isso sei eu. Porque raio é que gravaste isso?
— Para, vamos falar para o meu quarto.
— Vamos o caralho! Vais dizer-me aqui o que é isto! 
— O que é que se passa? - pergunta o André ao meu lado.
— Não te metas que não tens nada a ver com isto. - responde o Afonso. 
— Como é que gravaste isto?
— Com o telemóvel.
— És nojento! 
— És uma vadia, exatamente igual a todas as outras. Estavas comigo por interesse.
— Tu sim estavas comigo por interesse, se assim não fosse, não tinhas feito o que fizeste, que é coisa que não se faz a ninguém. És nojento! Perdi todo o respeito que tinha por ti. Nem do teu irmão esperava isto.
— Claro que não, até porque é dele que gostas, não é verdade? Estavas comigo apenas por sexo e nada mais. Nunca gostaste de mim. Começamos a namorar e foste-te enrolar com o meu irmão.
— Se estivesse contigo por sexo, não tinha demorado anos a foder-te de certeza. Eu tentei gostar de ti, mas não se consegue obrigar o coração a amar alguém. E mesmo depois do que me fizeste, aqui estou eu feita otária a ouvir-te e a dar-te explicações quando nem sequer quero olhar para a tua cara.  
— Calma. Vamos resolver as coisas. O que é isso? - o André pergunta desta vez para mim enquanto aponta para o computador.
— Pergunta ao porco do teu irmão!

Saio dali de lágrimas nos olhos, a Andreia vem atrás de mim, mas chego mais rápido ao carro e arranco sem ligar para ninguém. Tiro o carro do estacionamento e começo a conduzir querendo apenas parar em casa para poder deitar-me e chorar até adormecer. 
Vejo um carro a aproximar-se do outro lado da estrada com os máximos ligados. Os meus olhos não aguentam e fecho-os por um segundo, quando os abro, vejo o carro ir contra o muro de uma casa.
Sinto algo escorrer pela minha testa e a minha cabeça dói como nunca me tinha doído. Vejo tudo à roda e fecho os olhos, deixando-me levar pelo sono que se estava a apoderar de mim.

— Zara?

Estou numa batalha contra os meus olhos que continuam fechados, a claridade incomoda-me cada vez que os tento abrir. Ouço uma voz familiar a chamar por mim vezes e vezes sem conta, mas a minha garganta está a arranhar e não consigo responder. Depois de muito esforço, consigo abrir os olhos e ver a minha mãe a chorar ao meu lado.

— Filha, estás bem?

Tento responder, mas não tenho forças. Quero dizer-lhe que estou bem, mas não conseguia. Os meus olhos enchem-se de lágrimas por vê-la chorar. Eu não a quero ver assim, ainda por cima quando a culpa é minha. Aceno afirmativamente com a cabeça e dou um sorriso fraco, numa tentativa de diminuir a sua dor e fazê-la parar de chorar.

— Descansa meu amor. Vai tudo correr bem.

Olho ao redor do quarto, com esperanças que ela não estivesse sozinha, com esperanças que o meu pai tivesse largado o trabalho ou a amante para me vir ver.
Só há mais uma pessoa no quarto que não conheço, mas deduzo ser uma enfermeira pela sua vestimenta. Esta aproxima-se de mim e aponta uma lanterna aos meus olhos. Fecho-os rapidamente por ter sido encadeada de novo. Os meus olhos estão sensíveis devido ao choro e ao impacto dos faróis do outro carro, agora ainda tenho que levar com esta lanterna irritante. Ela tenta de novo, abrindo os meus olhos à força, mas remexo-me por baixo de si e começo a chorar de novo.

— Largue a minha filha, não vê que a está a incomodar?

Vejo muitos enfermeiros à minha volta e pouco depois sinto uma picada no meu braço, que em segundos me faz adormecer.
Acordo e noto que estou sozinha no quarto, por isso, fecho os olhos de novo, numa tentativa de fazer o tempo passar mais rápido.
Ouço a porta bater com alguma força e abro os olhos, vendo a loira à minha frente bastante irritada.

— O que é que te deu para te meteres a conduzir depois do que aconteceu e ainda por cima estiveste a beber?

Faço um esforço enorme para tentar responder, mas não consigo. A minha voz falha e não consigo falar com a rapariga à minha frente. Só quero explicar o que aconteceu.

— Queres matar-me de susto? Isto não se faz Zara. Porque é que não esperaste por mim?

Nego com a cabeça, mas sinto uma dor enorme e levo a mão à cabeça, como se isso fosse parar a dor.
Endireito-me na cama e pego no copo de água que se encontra ao pé de mim, para poder beber um pouco, na esperança de depois poder falar.

— O André? - pergunto com uma voz rouca.
— A sério? Eu estou aqui a dar-te um sermão e tu perguntas pelo André? Ao menos não foi pelo Afonso.
— Onde é que ele está? Onde é que está o André?
— Deve de estar em casa, eu não lhe contei o que se passou, nem ao Afonso.
— Eu preciso de falar com ele.
— Estás parva? Vais é ficar aí quietinha, até te darem alta. Podes dizer-me o que é que se passou? O que é que te deu para te meteres a conduzir?
— Eu estava a conduzir calmamente e devagar, mas houve um carro que passou com os máximos ligados e fez com que eu fecha-se os olhos.
— Mas porque é que pegaste no carro?
— Porque eu só queria sair dali.

O silêncio toma conta do quarto e noto que ela está a pensar no que me vai dizer.

— Podes contar-me o que é que tinha naquele computador?
— Sim, mas não vais gostar de ouvir.
— Conta de uma vez. Prefiro saber agora do que quando já for tarde.
— Acredito. Se soubesse o que sei agora, já me tinha afastado do porco do Afonso há muito tempo.
— Mas diz lá o que é que estava lá no computador.
— Lembraste de eu te dizer que me enrolei com ele naquela noite em que o André ficou chateado comigo por nos ver aos beijos?
— Sim, claro.
— Pois bem, parece que o Afonso decidiu gravar tudo com o telemóvel.

Between Brothers [ Concluída ]Where stories live. Discover now