Capítulo 23

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Congelo com a sua pergunta. Como é que ele se foi lembrar de me perguntar tal coisa? Porquê agora? Eu devo de lhe contar, mas não aqui, nem agora, nem hoje. Quero contar-lhe quando tiver mesmo que ser.

— Achas mesmo que eu e o André podíamos vir a ter seja o que for?
— Porque não? Sois ambos humanos, podem apaixonar-se um pelo outro. A única coisa que me faz duvidar disso é ele que não me parece querer arranjar namorada agora.
— Porquê?
— Ele está em Itália, quer estar focado na sua paixão que é o futebol, e não distrair-se com uma paixoneta ou até mesmo um grande amor. Talvez alguém faça mudar isso, mas não acredito. Pelo menos, não agora.
— Pois, não sei.
— Então vá, vai descansar e depois diz-me alguma coisa, está bem?
— Sim.

Deposita um beijo na minha testa enquanto acaricia o meu rosto com ambas as mãos.

— Adoro-te pequena.
— Também te adoro Afonso.

Saio do carro e vou para casa, preciso e quero mesmo ficar sozinha agora.
Chego e pouso as minhas coisas na cadeira, dentro do quarto. Dispo ainha roupa e visto o pijama. Pego nos fones e no telemóvel, deito-me na cama e ponho-me a ouvir música. Ainda me lembro de ligar à Dya, mas a minha vontade é nula.
A pergunta que o Afonso me fez, não sai da minha cabeça. A conversa com o André segue-se e as lágrimas caiem de novo, pela segunda vez só hoje. Porque é que ele disse aquilo?Estava a correr tudo tão bem, porque é que ele quis estragar tudo? Será que havia possibilidade de nós ficarmos juntos? Ou será que o que o André fez, supostamente comigo, é tão grave que eu não seria capaz de o perdoar?

O André voltou para Itália e tanto ele como o irmão, disseram que ele iria ficar lá por muito tempo.
O meu turno acaba e tenho Afonso à minha espera para me levar a casa, porque fiquei sem carro e ele não me deixa andar de autocarro, táxi ou uber.

— Queres tu ficar com o dinheiro que iria gastar para ir para casa?
— Não, de todo. Já vais ter que gastar dinheiro com o arranjo do carro. Só te quero ajudar.
— Obrigada.

Sorrio e por breves segundos, sou observada por ele da mesma maneira, com um sorriso perfeito. Ele volta a sua atenção para a estrada, mas eu continuo a olhar para ele sem dar conta.

— O que se passa Zara?
— Nada, porque?
— Não paras de olhar para mim, começo a achar que afinal te estás a apaixonar por mim.
— Estava apenas a imaginar como seria tudo se eu tivesse aceite o teu pedido.
— Então?
— Imagino-te a viver comigo, a ires por e  buscar-me sempre ao trabalho, a jantar-mos sempre juntos...
— E a troca de carícias depois de jantar.
— Estás a pensar no que eu estou a pensar que tu estás a pensar, mas que não devias de pensar porque eu não penso nisso e não vale a pena pensar nisso?
— Já me baralhas-te todo. Já nem sei o que é que estava a pensar.

Rio e volto a minha atenção para a música que estava a dar na rádio, pondo um pouco mais alto e começando a cantar.

No matter where I go, I'm always gonna want you back
No matter how long you're gone, I'm always gonna want you back
I know you know I will never get over you
No matter where I go, I'm always gonna want you back
Want you back

Ele apenas se ri enquanto eu canto, provavelmente pela minha voz esganiçada, porque eu sei a letra. A música acaba e fico triste por apenas ter dado conta que estava a dar quando já estava no último refrão.
Chegamos à porta do apartamento e ele estaciona mesmo em frente. Há dias em que não há lugar nem para os moradores, por causa das lojas que temos no res do chão, mas milagrosamente, hoje há.

— Anda, vamos lanchar.
— Eu não te quero incomodar.
— Ai moço cala-te e anda embora.

Preparei o lanche para os dois, ambos comemos cereais, por isso, foi a coisa mais fácil e rápida que podia preparar.
Deixo a tijela e a colher na pia, assim que acabo de comer e vou até à casa de banho. Quando volto, o Afonso já está na sala a ver televisão. Isto deve de ser de família. Ia lavar a loiça, mas pelos vistos já estava tudo lavado. Demorei assim tanto?
Sento-me ao lado dele e fico a olhar para ele, que me olha assim que nota a minha presença.

— Que se passa?
— Não acredito no que fizeste. - digo com cara séria.
— Como assim? Do que é que estás a falar?
— Não esperava isso de ti. - baixo a cabeça e mexo nas mãos, para me distrair.
— Não estou a entender. O que é que eu fiz de mal?
— Ainda nem acredito, estou incrédula.
— Zara, o quê?

Ele puxa o meu queixo para cima, para que eu o olhe nos olhos, chega-se à frente acabando por ficar mais perto de mim e fazendo com que eu sinta a sua respiração na minha cara.

— Diz-me o que se passa.
— Tu lavaste a loiça???

Começo a rir e ele fica simplesmente a olhar para mim, até achar que devia de me fazer cócegas como castigo. Acabo deitada no sofá e ele em cima de mim, a prender ambas as minhas mãos.

— E agora? Ainda te ris? Já daqui não sais.
— Eu podia simplesmente dar-te uma joelhada aí em baixo, mas prefiro que colabores e me soltes.
— Quem te diz a ti que eu quero colaborar?
— Se não queres, já sabes o que te espera.
— Não se eu te distrair.
— E como é que me vais distrair?
— Assim.

Ele cola os nossos lábios de novo, depois de vários meses desde a última vez que senti o sabor da sua saliva. Sinto que preciso deste beijo, preciso de carinho, preciso do que o André não me quer dar.

Between Brothers [ Concluída ]Onde histórias criam vida. Descubra agora