Hannah

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Eu fiquei bem mal durante o mês que se seguiu. Parei de entrar no WhatsApp ou qualquer outra rede social, porque ver meus amigos juntos ou com outros amigos simplesmente era demais pra mim.

As manhãs começaram a passar bem mais rapidamente. Eu chegava na escola, sentava na minha cadeira e simplesmente desligava: era como se eu estivesse no The Sims e meu jogador acelerasse o tempo, mas ao invés de realmente fazer alguma coisa, eu estava congelado. Quando percebia, o sinal para o intervalo tinha batido e, para mim, não havia passado nem cinco minutos e eu não tinha prestado atenção nas aulas, muito menos anotado alguma coisa. Nenhum professor me conhecia, então eles provavelmente achavam que aquele era quem eu era, e nenhum aluno queria me conhecer, exceto por Hannah. Mas ela veio depois. Bem depois.

Comecei a passar o resto dos meus dias no meu quarto, apenas dormindo ou tentando fazer meus trabalhos e lições da escola.

Era quase novembro de 2015 quando minha mãe bateu na porta do meu quarto.

- Louis? - Ouvi sua voz.

- Pode entrar, mãe. - Falei, me sentando na cama e tirando meu fones de ouvido.

- Então... - Ela falou depois de abrir a porta e sentar do meu lado. Eu sabia o que vinha em seguida, e ainda não tinha certeza se eu queria ou não aquela conversa. - Sei que eu não fico muito em casa, mas ainda sou sua mãe e sei quando algo está errado com meu filhote. - Ela brincou, apertando minha perna com um sorriso no rosto. - O que foi?

- Ah, não é nada demais, mãe... - Menti, não querendo a preocupar. - Eu só não me enturmei direito com minha classe.

- É sempre difícil começar do zero, Lou. Você já passou por isso antes. Lembra como você chorou no dia que nos mudamos pra cá?

- É lógico que eu lembro, faz uns dois anos. - Eu ri, fazendo ela rir também.

- Você ficou tentando olhar para trás durante o máximo de tempo que conseguiu. - Ela disse, com um pequeno sorriso no rosto. Eu não tentava olhar para trás: tentava olhar para Harry. - Você estava aterrorizado, mas conheceu o Stanley e o Calvin. Se nós não tivéssemos vindo para cá, isso nunca teria acontecido...

- Eu sei. Eu gosto daqui, mesmo que sinta saudades de Holmes. É só que... As coisas estão diferentes agora. E eu não tenho o que fazer pra mudar. - Suspirei, olhando para frente.

Aquela conversa não me ajudava em nada: eu continuava me sentindo vazio, mesmo tendo toda a atenção da minha mãe. Não conseguia desabafar, não conseguia chorar... Eu só estava... Ali. Como sempre.

- As coisas vão melhorar, meu amor. De tempo ao tempo. - Ela sorriu pequeno, dando um beijo na minha testa e me puxando para um abraço. - E caso não melhorem... Bom, você precisa falar comigo, ou nunca saberei como te ajudar.

- Ok, mãe. - Tentei lhe dar um sorriso honesto. - Você precisa ir, ou vai se atrasar pro trabalho.

- Eu sei. - Suspirou, levantando da cama e me dando um último olhar. - Eu te amo, Louis.

- Também te amo, mãe.

Depois que ela foi embora e minha casa estava vazia, eu decidi ir tomar um banho. Tranquei a porta e me despi na frente do espelho, observando todas as cicatriz em meu corpo. Algumas eram antigas, de dias mais felizes, quando eu brincava com meu grupo e vivia quebrado. Outras eram novas e envolviam a lâmina do meu apontador. Esse era meu jeito de voltar para a realidade, nem que fosse por apenas alguns minutos. A dor de sentir minha pele rasgando significava sentir algo; um lembrete de que eu ainda estava vivo. Que eu não era um fantasma.

Eventualmente uma onda de sanidade subia por mim e eu jogava as lâminas na privada, puxando a descarga logo em seguida, mas então o dia seguinte chegaria e eu estaria desesperado em busca de um apontador nos estojos de minhas irmãs.

Bound to Lose • l.s Where stories live. Discover now