Capítulo 1 - EVA

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EVA

Estava tudo muito bem planejado, mas quando Lauro me ligou e avisou que era hora de agir, eu senti o nervosismo me dominar duramente e saí de casa. Nem tinha dormido naquela noite direito, embora só esperássemos Theo Falcão para de manhã. Quando ele voltava de suas taras no Clube de Sadomasoquismo geralmente era por volta de seis horas. Mas daquela vez passou na estrada quase 4:30. Quando saiu de Pedrosa, um dos comparsas de Lauro que estava vigiando a estrada o avisou e interditaram a rua.

Eu tinha trocado meu horário no trabalho para manhã naquele dia, com a desculpa que precisava caso me investigassem. E ia encontrar aquele homem “sem querer” um pouco cedo demais, mas não havia jeito. Deixei meu barraco e desci pela ruela dos fundos, pouco utilizada por ser mais perigosa, evitada pela maioria das mulheres da favela Sovaco de Cobra. Mas era o caminho mais rápido para a estrada e onde Theodoro Falcão foi largado inconsciente.

Mesmo sabendo de tudo, eu estava nervosa e tremia. Sentia um misto de raiva e medo, por que finalmente ia me aproximar dele, ia arriscar tudo em uma vingança que, para ser vitoriosa, me cobraria um alto preço. Criando coragem, desci os degraus irregulares e estreitos e falei com Lauro ao celular:

- Deu tudo certo?

- Não. Ele estava armado e reagiu. – Sua voz era fria, sem emoção.

Engoli em seco e arregalei um pouco os olhos, olhando por onde andava para não cair, mas preocupada.

- Alguém se feriu?

- Ele matou dois dos meus homens.

- O quê? – Parei, chocada, apoiando a mão em uma parede de tijolo dos fundos de uma das residências ainda em construção.

- Atirou no peito de um e na cara de outro, Eva. Por pouco não acaba com todos nós. Vou te falar, quase que deixo tudo isso de lado e mato o filho da mãe. Por meu irmão Flávio e por ser a porra de um assassino frio! Tinha que ver, nem vacilou ou pediu clemência.

- Meu Deus ... – Senti a bílis subir por minha garganta e estremeci, o pavor vindo gelado dentro de mim.

Aquele homem era ainda pior do que imaginei. Primeiro matava meu namorado Flávio, alguns meses atrás, que sumiu após desconfiarem que era um dos ladrões de gado. Ele saía da delegacia sem poder ficar preso por falta de provas e nunca mais foi visto. Estava na cara que foi pego pelos Falcão, que fizeram justiça com as próprias mãos. Depois foi Abel, que segundo Lauro, ele matou covardemente. E agora mais dois.

Mesmo desconfiando que eram bandidos, Theodoro Falcão não tinha o direito de sair matando pessoas. Era um desgraçado que se achava o dono do mundo, um assassino como o pai, que matou meu avô e roubou nossas terras. Eu tremia descontroladamente, com vontade de eu mesma matá-lo. Encostei-me à parede e respirei fundo, sem saber como eu conseguiria fingir ser doce e apaixonada para um homem que eu odiava tanto!

Lembrei de seus olhos azuis penetrantes quando o encontrei apenas uma vez frente a frente em uma festa em sua casa, então eu estava disfarçada. Foi rápido, não nos falamos, mas nunca esqueci a perturbação e o medo que me percorreu ao sentir aquele olhar duro e fitar sua cara de mau, com aquela ruga pronunciada entre as sobrancelhas e o nariz arrogante. A energia que vinha dele era diferente, poderosa, parecia sufocar. Nunca esqueci aquele encontro. Como eu poderia falar com ele, fingir, deixar que me tocasse, quando o temia e odiava assim, a ponto de me tremer toda?

Ao mesmo tempo, era um homem com uma carga sexual altíssima. Além de saber que frequentava aquele clube de sadomasoquismo e fetiches, de ter visto sua foto com a mulher na coleira, de ter consciência que tinha um apartamento para levar suas submissas, era também excepcionalmente lindo. De uma beleza máscula e marcante, inesquecível. Tudo aquilo era muito para administrar. A única coisa que eu tinha a meu favor era o fato de saber tudo aquilo dele e me posicionar como uma submissa para tentar agradá-lo. Mas tinha muito medo. Muito mesmo.

FERIDA - Livro 2 da Série Segredos.Where stories live. Discover now