Capítulo 3 - THEO

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THEO

O Falconetes não enchia muito até quarta-feira, só a partir de quinta. E era assim que eu preferia. Quando saí do trabalho, senti vontade de tomar um drinque e parei lá antes de ir para casa. Teve uma época em que eu frequentava mais o local, no entanto minhas visitas agora eram ocasionais. Embora gostasse de ir lá, rever alguns conhecidos e bater um papo. Principalmente com Abigail, a dona do bar e restaurante que era minha amiga de muitos anos.

Como sempre, ela ficou feliz ao me ver entrar. Atrás do bar, linda e maquiada como sempre, parou de fazer contas em um calculadora e seu rosto se iluminou ao me ver. Quando sorri e sentei em um dos bancos vazios à sua frente, seu sorriso já era amplo e me cumprimentou com aquela sua voz rouca:

- Lembrou que tem uma amiga aqui?

- E quem disse que esqueço? – Inclinei-me para frente e depositei um beijo em seu rosto. Senti-a um tanto nervosa e sabia por que, mas fingi não notar.

Tínhamos sido amantes por anos. Antes mesmo dela casar pela primeira vez. Abigail nunca escondeu que me amava e que esperava por mim. Desde que se mudou para Florada com as irmãs, há mais de vinte anos, houve uma atração forte entre nós. O que mais me atraía nela era sua sensualidade à flor da pele e sua curiosidade em explorar coisas novas. Apesar de não ser uma pessoa submissa, na cama me permitia tudo e gostava. Assim, éramos muito compatíveis naquele ponto. E havia uma camaradagem entre nós, eu ficava à vontade com ela. Foi a única mulher que conseguiu isso, me agradar tanto na cama quanto fora dela.

Era uma relação divertida, pois nunca abaixou a cabeça para mim além do sexo. Se neste eu a amarrava, usava, submetia, no dia a dia era decidida, brigava comigo quando achava necessário, não tinha medo de me enfrentar. Se eu fosse escolher qualquer mulher no mundo para ter um relacionamento sério, seria ela. O problema era que eu não queria me casar nunca. E isso era o sonho da vida dela.

Chegamos a um ponto em que Abigail pressionou e eu me decidi por me afastar. Segui minha vida e então ela fez o que sempre quis: se casou com Zé, o dono daquele bar, eternamente apaixonado por ela. Não a toquei mais, pois nunca seria o outro ou o substituto de ninguém. Embora visse seu olhar de desejo e arrependimento para mim a cada vez que nos encontrávamos. Dois anos depois, ela ficou viúva e assumiu o bar, mas enfrentava problemas financeiros. Eu a ajudei e se reergueu, fez reformas ali, transformou em restaurante. Nos aproximamos de novo e voltamos a ter relações sexuais, como se não tivéssemos parado nunca.

Abigail me disse que só casou com Zé para me fazer raiva e ciúmes. Lembro que fui brutalmente sincero com ela na época e deixei claro que não a amava e que não senti nenhuma das duas coisas. O que eu sentia por ela era atração e amizade. E então me afastei, para não magoá-la mais. Finalmente ela entendeu que só aquilo seria possível entre nós e foi o que tivemos. Continuamos amigos e com sexo ocasional.

Três anos depois, ela se casou com Netinho, dono da funerária. Disse que queria ter filhos e se sentia solitária. Mais uma vez me afastei e fomos só amigos durante o ano em que ficou casada, até se tornar viúva novamente. No enterro, entre lágrima, deu uma risada e me disse que agora é que eu nunca casaria com ela, pois tinha fama de viúva negra. Eu fiz algum comentário irônico e a confortei, mas estava mais do que claro que não era aquela fama que me impedia. Mas o fato de não querer me casar nunca nem a amar.

Fomos amantes ocasionais durante os anos seguintes. Mas aos poucos fui me distanciando. Meus desejos se tornaram cada vez mais exigentes e eu a via mais como amiga do que como amante. Abigail nunca perguntou por que não a procurei mais. Simplesmente aceitou. Felizmente nossa amizade continuou. Tínhamos liberdade de falar tudo um com o outro e, fora meus irmãos e Tia, era a pessoa que eu mais confiava.

FERIDA - Livro 2 da Série Segredos.Where stories live. Discover now