Capítulo 2 - EVA

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EVA

Oh, can anybody hear me

(Oh, alguém pode me ouvir?)
Can anybody feel me

(Alguém pode me sentir?)
'Cause I don't even know which way to go, ohohoh

(Porque eu não sei nem para onde ir, oh oh oh)

Can anybody hear me,

(Alguém pode me ouvir?)
Can anybody feel me

(Alguém pode me sentir?)
Can't keep pretending

(Não posso continuar fingindo)
It's gonna be alright

(Que tudo vai ficar bem)

 

(Pain is, Alex Hepburn)

 

Era domingo de manhã e eu tinha ficado até de madrugada no restaurante desde o dia anterior para compensar meu atraso, assim só trabalharia novamente mais tarde, depois das dezoito horas. Tinha acordado ainda há pouco e, sentada no único sofá de dois lugares da sala, com um short preto, camiseta branca, os cabelos soltos ainda sem pentear, eu falava com minha mãe ao telefone.

Ela já sabia de tudo desde sábado, quando contei a ela como foi meu encontro com Theo Falcão e tudo que aconteceu. Estava agitada, queria detalhes, parecia exultante, pois achou que tudo saiu melhor que a encomenda. Agora já tinha ligado de novo para falar do assunto:

- Eles procuraram você, Eva?

- Não, mãe. Se vieram aqui não me encontraram, pois trabalhei até de madrugada. – Bocejei, as pernas encolhidas sob o corpo, a cabeça apoiada no encosto.

Sentia-me cansada. Mais por tudo que vivenciei no dia anterior do que propriamente pelo trabalho, embora fosse explorada no restaurante e não parasse um segundo sequer. Mas as emoções todas que senti ao saber da morte dos dois homens, de ter conhecido Theo Falcão e ter sido engolida por sua força, de ter estado entre aquela família e Gabriela, tudo aquilo tinha cobrado seu preço. Sem falar depois, tendo que responder as perguntas do delegado e tentar parecer o mais inocente possível. Estava exausta emocionalmente, sem saber como conseguiria seguir até o fim com aquilo.

Estremeci e o que mais me abalou naquilo tudo foi imaginar me aproximar mais daquele homem. Na mesma hora fui engolfada por sua presença poderosa, como se ele estivesse ali, na minha frente, olhando para mim. Foi tão real, tão intenso, que meu coração disparou e me vi imobilizada por seus olhos azuis penetrantes sob as sobrancelhas grossas e aquela ruga entre elas, que lhe dava um ar duro, até amedrontador.

- Eva, está me ouvindo?

- Hã? – Tentei me concentrar em minha mãe, sentando-me direito no sofá, correndo os dedos entre os cabelos que se esparramavam longos e sem controle até o meio das minhas costas. Fui engolfada pela raiva, daquele homem e de mim mesma.

- O que você tem? Está com medo?

- Não. – Menti, sem coragem de contar a ela como me senti acuada e perturbada por Theodoro. Aquela parte eu tinha omitido. Segurei o telefone com força e ela continuou:

- Não se preocupe. É claro que o delegado vai investigar você, mas como não sabem até que ponto estamos envolvidas, será tudo superficial. Então a descartará como suspeita. Tivemos muito cuidado. Vai dar certo.

Minha mãe tinha muitos contatos. Um dos homens do seu círculo, um hacker de primeira, tinha criado aquela minha identidade falsa, com tudo que tinha direito. Documentos, registros no computador do orfanato e no Ministério do Trabalho, mentiras forjadas, nome e idade inventados. Enquanto as investigações se limitassem a esses registros, tudo estaria bem. Agora se alguém fosse até o orfanato e pedisse para ver minha ficha, segurar meu prontuário, veria que não existia. A órfã Eva Camargo de 22 anos era um fantasma. Por trás dela quem existia era Eva Amaro com mãe e avó vivas e com 19 anos.

FERIDA - Livro 2 da Série Segredos.Where stories live. Discover now