Capítulo 4 - EVA

20.9K 977 113
                                    

EVA

Eu o vi assim que entrou, mesmo com o restaurante cheio, o barulho de conversa e música alta, o inferno que era sempre aquilo lá no final de semana. Não sei como. Acho que foi sua energia ou aquela atração poderosa que parecia ter sobre mim, só sei que, mesmo atarefada, correndo de um lado para o outro, eu senti primeiro o coração disparar, como um aviso. Então meus olhos se depararam com a figura alta, elegante e máscula de Theo Falcão.

Fiquei imobilizada, nervosa, trêmula, como se tivesse levado um soco. Era daquela maneira que me sentia diante dele, sempre abalada, fora do meu estado normal. Isso me revoltava, mas não tinha jeito. Tudo se tornava incontrolável em sua presença, como se sugasse minha força, minha capacidade de pensar, ser racional.

Engoli em seco, pois tinha determinado a mim mesma que isso teria fim e que a próxima vez que o visse, estaria fria e preparada. Ledo engano. Era ainda pior, mais perturbador do que eu me lembrava.

Theo não tinha me visto e parou perto da entrada, olhando em volta. Sabia que me procurava e fiquei surpresa, pois imaginei que me ignoraria dali para frente. Tinha até imaginado que teria que armar outro encontro, forçar. Pois não parecia homem de voltar atrás em sua palavra e da última vez achei que saiu bem decidido da minha casa.

Respirei fundo, busquei um autocontrole, mas tudo que eu via era ele na minha frente e isso minava qualquer plano, deixava-me perdida, além de mim. Tinha raiva desse domínio tão enlouquecedor, mas como reagir? Como lutar contra algo que eu nem entendia direito o que era, só sabia que me consumia como uma força avassaladora, diferente de tudo que já senti na vida?

- Hei, moça, cadê minha cerveja? – Reclamou um dos homens na mesa da qual eu estava parada ao lado, tirando-me do meu transe. Pisquei, forcei-me a tirar os olhos de Theo e falei meio aérea:

- Vou buscar. – Dei dois passos entre as pessoas, mas meu olhar buscou-o novamente e dei-me conta não pela primeira vez do quanto era lindo. Talvez fosse isso que me perturbava tanto, aquela sua beleza viril, seu corpo alto e atlético de ombros largos e músculos definidos, sua postura de dominador com o queixo erguido e aquele nariz arrogante. Ou talvez fossem os olhos azuis penetrantes no rosto moreno, a boca sensual, aquela barba aparada que apenas fazia sobressair ainda mais o contorno angular de seu maxilar.

No entanto, era tudo aquilo e muito mais. Era a força agressiva que se espelhava em seu olhar e era contida pela aparente civilidade; assim como o fato de ser um homem com desejos pecaminosos e cruéis, como os que eu vira na foto. Isso me deixava nervosa, apavorada e ao mesmo tempo ansiosa, excitada, fora de mim. Em um descontrole que, se minha mãe soubesse, a faria arrancar os cabelos. Como eu podia ser racional daquele jeito, dominada em minha essência por Theodoro Falcão, o homem que eu deveria seduzir?

Cheguei ao bar, ainda muito nervosa. Deixei a bandeja sobre o balcão de madeira com os pedidos, forçando-me a não olhar para ele, embora estivesse nervosa e curiosa. Ganhava tempo para me recuperar quando viesse falar comigo.

- Eva, tem que ir mais rápido! Anda muito dispersa! – Reclamou o dono do restaurante, do outro lado do balcão, ocupado do caixa. Falava alto e era sempre grosseiro, exigente, sugando da gente o máximo que podia, mas não dando nenhum centavo a mais. Era um senhor grandalhão de sessenta anos, seco, chato.

Não falei nada, esperando o barman encher minha bandeja de bebidas, mas irritada. E cansada. Não parava um segundo sequer naquele lugar e mesmo assim tinha que ficar aturando aquelas cobranças. Agarrei a bandeja e saí para distribuir as bebidas, automaticamente meus olhos procurando por Theo. Dei praticamente de cara com ele e estaquei abruptamente com sua figura alta na minha frente, aqueles olhos azuis penetrantes me consumindo.

FERIDA - Livro 2 da Série Segredos.Onde histórias criam vida. Descubra agora