Capítulo 40 "Dói?"

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Esta semana foi tão complicada, as ultimas semanas tem sido, mas esta semana descuidei-me com a escrita e ontem e não tinha nada escrito, quando de repente avanço para baixo nas páginas do word e percebo que já tenho metade escrito. Tinha escrito isto numa noite em que não conseguia dormir. 

Pergunta de hoje: Quantas pessoas é que não leem o capitulo quando sai e guardam para mais tarde na semana? Notei que imensa gente lê o anterior na sexta em que eu publico um novo ahaha

love you



Quatro anos antes...

O problema da verdade e da mentira é que são ambas a mesma coisa. Eu minto porque sei a verdade. Eu anseio por me libertar deste peso que carrego, ás vezes anseio para que me libertem, alguém que grite por mim aquilo que me corrói por dentro. Não consigo deixar de pensar nisto, todos os dias, quando falo com alguém, quando vejo alguma coisa, durante o sono, sou arrastada para o meu covil de mentiras e verdades. A minha verdade é que estou partida, é que perdi aquilo que não sabia que tinha. Quando achava que não me podia tornar mais feliz do que era e meu único medo era ser miserável, mas a única coisa pior que ser miserável é perceber que se está a tornar miserável aos poucos. Quando me deito e fecho os olhos sinto o sol bater-me na pele e aquecer-me, sinto os dedos do Harry enrolados nos meus, os seus lábios na minha bochecha, promessas de amor eterno e uma sensação tão leve quanto o ar. E depois abro os olhos. E parte-se. Dói-me o corpo, estou assustada, não faço ideia de quem são as mãos que me tocam, mas puxam alguma coisa de dentro de mim. É minúsculo, teoricamente não é nada ainda, mas ao mesmo tempo é alguma coisa. Tem unhas. As orelhas estão a formar-se e tem o tamanho de um feijão. O meu estômago está vazio, ou devo dizer a minha barriga? O meu útero? Está vazio agora, e eu nem sequer sabia que tinha alguma coisa lá dentro. A minha mãe olha para mim com os olhos rasos de água, o meu pai anda lá fora de um lado para o outro e a minha irmã parece perdida sentada numa cadeira de plástico. Estou exausta, o meu corpo dói-me.

A médica fala comigo baixo como se eu me fosse partir. Pergunta-me se sei quem é o pai, se eu sabia que estava grávida... sei quem é o pai, não, não sabia que estava grávida. Quero chorar, mas estou travada. É como se estivesse a falar de todas estas coisas, tudo e todos à minha volta estão calados e eu tenho tantas vozes na minha cabeça a gritar. Ela diz-me que vou ter que tomar comprimidos, coisas que vão tirar... vomito. A minha mãe segura-me no cabelo enquanto alguém me mete algo em frente da cabeça. O conteúdo do meu estomago sai e a paranoia na minha cabeça procura um indicio do ser humano que estava a crescer debaixo do meu estomago.

-Está tudo bem Julieta. – A minha mãe sussurra e eu encosto a cabeça à almofada. A minha boca sabe terrivelmente mal, mas acho que se alguém me tentasse provar agora, toda eu seria azeda.

A médica sai e sinto-me da mesma maneira como sentia quando tinha febre no inverno frio de Inglaterra. A minha mãe passa-me a mão pelo cabelo e não sei o que é suposto dizer, ou fazer. Devo pedir desculpa? Devo dizer que sinto muito? Não quero pedir desculpa, acho que quem merece um pedido de desculpas sou eu. Fecho os olhos. Quando os volto a abrir a minha irmã está deitada num sofá e a minha mãe está a falar com o meu pai.

-Acho que ele deve estar a chegar.- Sussurra a minha mãe.

-Devia matá-lo.- O meu pai diz em surdina.

Silencio, montes de silencio. Viro a cara para eles e vejo que não me odeiam, ou estão repugnados, ou absurdamente zangados. Isso é bom acho eu. A porta do quarto abre-se. Um turbilhão de cabelos em desalinho aparece e vejo a angustia que sinto espelhada em cada ruga da sua testa.

Two ways to lie *Concluida*Where stories live. Discover now