Cap. 1

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{História Original}

Janeiro, 13

E ali estou eu, Hauana. O tipo de garota que quer guerra com o mundo, cara fechada, andar petulante, eu reconheço que não sou nada sociável, menos ainda simpática, a verdade é que eu sou insuportável mesmo, ponto.

O que as garotas pensam disso? Não sei, não há fórmula para entender o cérebro dessas malucas, e porra, até o presente momento eu consigo beijar na boca logo não há necessidade de alterar o sistema Hauana.

Vivo no meu desapego e individualismo, qual eu prezo intrinsecamente, esse papo de amor e romantismo não passa de um conto de fadas, e se você vive nisso, você não amadureceu.

Me encaro mais uma vez no reflexo da janela do ônibus, Hauana essa não é hora para refletir sobre o quanto precisa mudar.

Não me despedi da minha mãe antes de vim pra cá, ela é o tipo de mãe protetora que beija sua testa e espreme suas bochechas até você babar, e deixaria garantido um show gratuito no ônibus até que as pessoas implorassem para ela descer e o motorista garantisse que eu chegaria viva, e claro, ela acabaria com a minha marra de jovem viajante e descolada.

Sair do interior vai ser foda, lá é tudo muito limitado, pequeno e repetitivo, eu preciso ir para um lugar onde as pessoas não tenham tempo para cuidar de uma vida que não seja a sua própria.

O que importa agora é que acabou a palhaçada, eu até me diverti com o suspense que causei por anos, de que eu seria um fracasso e afins, não que isso vá mudar, mas agora eu terei os estudos para camuflar as merdas.

Desço do ônibus com vontade de sumir e reaparecer num brega, mas o que me espera na verdade é a família mimadinha do meu tio barata, onde forçarei uma simpatia vagabunda nos primeiros dias e sumirei em menos de uma semana pra um barraco velho que role uma putariazinha.

"Hauana!" ouço a voz do meu tio perdida em algum canto dessa rodoviária enorme e procuro pelo cara rico e vaidoso que tem a minha altura e o dobro da minha largura. Eu sou fina.

Avisto o coroa acenando próximo a sua mercedes branca, certamente mais cara que essa rodoviária inteira.

"Tio Barata." abraço o corno que sempre me apoiou, inclusive nos estudos, ele disputa o papel de pai junto com o meu avô, já que o meu biológico não existe.

"Enorme e ainda mais rebelde." analiso um sorriso caloroso de quem está mais feliz por mim do que eu mesma. Parece genuíno, quem sabe?

Permaneço em silêncio, encarando-o com um pequeno riso sonso, aguardando suas reações, é um truque psicológico bobo para ver até onde ele estica o assunto sozinho. E também para descobrir pessoas fingidas.

"E estou muito feliz por você, sabia que se sairia bem, e não vejo a hora de te ver na empresa, fardada." sai dessa neura maluco, eu fardada? Que utopia, admiro como você e minha mãe enxergam algo além das tatuagens.

"Não vai demorar não. Começo estagiando, ganho a confiança da bancada e arrebento nos algorismos bancários, ou seja, controlem as emoções." digo com firmeza e ele me espreme.

"Serão anos dolorosos, mas eu acredito no seu potencial porra." nos soltamos e entramos no carro. Um puta carro.

"Eu aposto ainda mais no seu potencial de me contratar independente das circunstâncias." brinco e ele casca o bico.

Quando mundos colidem |ACASOS|Onde as histórias ganham vida. Descobre agora