Cap. 97

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Hauana

Meus sentimentos pela Kia não são saudáveis. E eu cheguei a essa conclusão sozinha. Quer dizer, a forma como a Itália tenta me acalmar só mostra o quanto eu estou doente com isso. Desde que namorei aquela garota não tive paz, e na real, eu não dava uma gota de paz a ela.

Continuarei aqui, no quarto da Itália, ela que se dane, eu tô mal preciso me humilhar mesmo, um dia quem sabe ela não precisa de mim? Pelo menos para compensar a força que ela tem me dado sem cobrar nada em troca.

Espero que isso não custe caro. E eu? Eu só queria acalmar meus pensamentos. Já sei, já que não posso usar nenhum tipo de droga ilegal, tomarei drogas legalizadas para dormir por dias seguidos, daí a Kia vai embora do país e eu não vejo nada.

Eu sou genial. Eu sou genial.
Durmo por três dias e de quebra não sinto dor de ego ferido, nem dor de perda, nem luto, nem nada que mortais emocionados possam sentir.

Caraca, parceiro. Você, Hauana, é um ser humano transcendental, sua biografia deveria ser publicada em jornais. Pra quê sofrer se eu posso dormir?

Me levanto e sabe de uma? Irei na farmácia, comprar, com.. mexo nos meus bolsos.. porra, não, fala sério, sem grana?
Que humilhante.
Sem dinheiro rápido. Sem apostas, sem recursos. Por que ser uma pessoa melhor implica em ser uma fudida? Sério, nunca vi pessoas boas luxando, vivendo loucamente. Normalmente bom caráter é sinônimo de sofrimento.

Vou para casa.
Ou um mergulho?
E se eu ligar pra Kia ouvir a voz dela e desligar?
E se eu for visitar minha mãe?
Será que algum amigo toparia me ouvir? Preciso desabafar sobre as mesmas coisas de sempre até aparecer um novo problema e substituir o atual.
E se eu arrumar um problema maior? Só assim eu esqueceria a Kiara de vez. Tipo ser presa. Se eu for presa terei moradia comida e novos amigos, fora aquelas roupas folgadas estilosas e com certeza eu tatuaria na cadeia, faria uma grana foda e ainda teria cobaias fodas.
Eu posso fazer uma tatuagem nova agora inclusive. Tatuar uma bailarina. Não que seja pela Kia, até por que não existe só ela que faz balé no mundo né?

Meu deus! Eu não sou normal. Delegada. Vou para casa dela e pedir pra ela cuidar de mim, preciso de carinho e cuidados especiais.

"Drogas!!" a camisa gruda num prego da janela da Itália. "Oh caralho.." resmungo num tom absurdamente baixo enquanto tento esticar o pé pro muro.

Senhor eles não fazem mais casas como antigamente.

Não aguento mais, se a Kiara não for logo pra França eu vou sequestra-lá para mim. Ela vai ser bailarina na minha casa. A casa que eu não tenho.

Caminho rapidamente até o bar do Maitan para buscar minha vida, minha moto, a única mulher que não me abandona. Minha mãe me abandonou, a Kia me abandonou, a Itália foi dar e me deixou também. Enfim, não quero saber delas.

Avisto um rapaz alto, forte, metido a empírico, com pinta de charlatão malandro mentiroso, Maitan!

"Hauana." ele me cumprimenta.

"Fala a verdade, você é espírita e se acha superior a almas como a minha que estão com o progresso atrasado de vinte vidas atrás." atiro minhas palavras ríspidas e ele gargalha intensamente.

"Não. Não sou espírita e não me acho superior a ninguém."

"Lê a minha mão, aqui! Diz em que parte eu fico com a Kiara." estiro minha palma em sua frente tentando me manter séria.

Quando mundos colidem |ACASOS|Onde as histórias ganham vida. Descobre agora