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🔃 Narrações intercaladas 🔃

Laís narrando.

Pezão: Alguém tem que ir no iml fazer os bagulho pra liberar o corpo da mina.
Dilma: Eu vou.
-Se levantou do sofá, mas já caiu na mesma hora, minha mãe correu pra ajudar.
Laís: H, você pode ir buscar o David pra mim?
-Levantei os olhos pra ele que fazia carinho no meu cabelo enquanto eu estava deitada no sofá, no seu colo.
Pezão: Jae.
-Se levantou e eu continuei deitada, imóvel. Escutei a porta atrás de mim bater, tia Dilma estava desolada, nem se quer conseguia chorar.

Minha mãe me olhava com pena, meu tio se tocou e foi atrás de uma funerária, eu só conseguia sentir um grande e imenso vazio. Não tinha outra palavra pra definir o tamanho desse buraco dentro de mim.

Luiza: Filha, tem um cara no portão te chamando.
-Fechei os olhos, pálpebras pesavam de tanta dor, ah Viviane, porque?
Me levantei sem querer mesmo, abri a porta e fui até o portão.
Laís: Fala Magrinho?
-Me debrucei nas grades do portão e novamente as lágrimas me invadiram.
Magrinho: Pô morena, tem um povo lá embaixo querendo subir, falaram que são parentes do Arthur.
-Coçou a barba, logo avistei o Pezão vindo sem camisa com o David no colo que sorria pro vento, me perdi nos meus pensamentos, meu pequeno, ele foi quem mais perdeu com tudo isso.
Laís: Libera lá Magrinho, vou ter que contar pra uma criança de três anos que a sua mãe não vai voltar hoje pro jantar.
-Ele me olhou piedoso enquanto eu fungava, fez um carinho todo sem jeito no meu rosto.
Magrinho: Vai ser cobrado menina, agora já foi... descansa um pouco.
Laís: Você deveria ter dado o tiro na cabeça daquele maldito.
Magrinho: Você sabe que eu não podia.
-Assenti com a cabeça e ele subiu na moto.
David: Dinda, cadê minha mãe?
-O H interrompeu aquele momento com outro assunto, tão difícil quanto a pergunta do baby boy da Vivi.
Pezão: Ah, seguinte... eu tenho que ir desenrolar a fita do Tega tá ciente? Mas é que o doutor falou pra mina lá que tá de acompanhante com o Arthur, que não vai ter como liberar ele pro bglh do enterro não, ele tá com febre alta, delirando e teve uma parada do coração agora pouco.
-Coçou o queixo e me olhou com pena, porque tudo é tão difícil?

Bia narrando.

Juntei umas poucas roupas em uma mala grande, coloquei os três pacotes de dinheiro no fundo de uma mala de sapatos, coloquei tudo no porta- malas e saí em direção à rua que seria nosso encontro.

Bia: Eu vou te ajudar meu amado Bernardo.
-Fechei os vidros do carro e saí em direção ao outro lado do Morro.

Fui cantando um hino da igreja baixinho pra ver eu se conseguia me acalmar, respiração ofegante e as mãos suando frio.
Rapidamente cheguei até o local combinado, estacionei e desci, encostei na porta do carro de braços cruzados, esperando qualquer sinal do meu amor.

Tega: Sabia... que você não... me deixaria...
-Saiu atrás de uma árvore com uma mão na barriga, sua roupa estava toda ensanguentada e ele estava branco de doer os olhos.
Bia: Meu amor, quem fez isso com você?
-Corri ao seu encontro preocupada e ele sorriu fraco de lado.
Tega: Cadê... meu filho?
Bia: Chefe foi buscar, mas como assim seu filho?
Tega: Porra Bianca... não era pra ter... entregado ele pra ninguém...
Bia: Entra no carro agora Bernardo, tá vindo alguém.
-Escorei ele em mim e passei seu braço pelo meu ombro. Coloquei ele no banco de trás, coloquei uma toalha na ferida dele que estava bem exposta e bati à porta, fui pro meu lugar.
Na saída do Morro foi só piscar a luz da seta, o adesivo já dizia que era moradores.
Depois que eu ganhei a pista, senti um grande alívio.
Tega: Vamos sair da cidade, você precisa...
-Interrompi ele.
Bia: Chega Bernardo, eu vou te levar em uma farmácia de uma amiga minha, depois você vai me contar o que houve... ai sim vamos pra algum lugar fora daqui, chega de mentiras, chega desses teu caô.
-Encarava ele pelo retrovisor, que estava com uma cara de poucos amigos.

Thaís narrando.

Um cubículo mal arejado, cheio de terra e algumas poucas flores, era o local onde uma menina/mulher que tinha tudo pra viver ia passar um bom tempo até que todos nos encontremos novamente.

David: Porque minha mãe não acorda dinda? Balança ela, ela deve tá brincando, joga água nela!
-Aqueles olhos grandes olhava pra sua mãe numa caixa de madeira branca, com flores vermelhas.
XxX: Cinco minutos pra 
fechar o caixão.
-Nos olhamos, o desespero era nítido em cada um ali presente.
Laís: Viviane Juliane Oliveira da Silva, esse o nome da minha melhor amiga, prima, cumadre, companheira da vida, dividia uma pequena e aconchegante casa em São Paulo, maldita hora que resolvemos vir pra cá, maldita seja a hora que eu te deixei tomar as rédeas de uma situação que não era só sua. Nos vamos te amar pra sempre porque vai ser nesse pra sempre que eu vou poder ver teu sorriso novamente.
-Ela deu um beijo no dedo indicador e colou sobre os lábios da Vivi.
Magrinho falou algumas coisas, minha mãe pediu perdão baixinho em meios as lágrimas, era a minha vez.
Thaís: Eu fui honrada em ter sua amizade durante toda nossa infância,  eu me entreguei pra essa amizade completamente.
-Os soluços do meu choro de desespero, fazia tudo de se tornar mais difícil.- Eu não vou conseguir dizer tudo o que eu quero, mas me perdoa Viviane, me perdoa por não ter te procurado quando você disse estar grávida e depois nunca ter existido, me perdoa por ter te apresentado aquele desgraçado do Bernardo, me perdoa Viviane por um dia eu ter deixado você se sentir sozinha. Essa dor, esse maldito remorso, esse vazio, eu mereço, eu tenho grande parte nesse seu fim, eu me odeio por existir, eu odeio esse ar que entra nos meus pulmões e não entra nos seus! Eu me odeio por não ter conseguido te proteger, eu me odeio por te amar tanto. Me perdoa Viviane, me perdoa!
-Eu já estava debruçada sobre o caixão, as lágrimas ardiam a pele, Magrinho me abraçou me erguendo, eu dei um selinho nela e sussurei outro pedido de perdão.

****

Gente, pra quem não entendeu o capítulo anterior, Arthur está no hospital e teve um sonho com a Vivi!
Lembrando: já estamos perto do fim. ❤

OLHAR DO TRÁFICO - LIVRO 1 (F)Where stories live. Discover now