Capitulo 8

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— Essa cicatriz, me parece que foi causada por um tiro — Mencionou o doutor ao notar que no braço de Ethan havia uma marca.
— Sim, a adquiri durante uma missão.
— Serviu ao exército?
—  Sim, por um bom tempo.
— E abandonou?
— Fui obrigado, devido a uma doença.
— Qual?
— Esquizofrenia.
— Para um esquizofrênico você me parece muito bem.
— Não me afeta tanto em público, apenas quando estou sozinho. Meu médico disse que a interação social pode me ajudar, já que não se sabe muito sobre essa doença ainda.
— Se precisar de algo conte comigo.
— Você me lembra um medico que conheci no passado.
— E ele foi bom com você? Por que os médicos tem uma fama de serem bem temperamentais.
— Pode se dizer que foi, cuidou de mim depois que recebi esse tiro no braço.
— Qualquer dia passe aqui, adoraria ouvir suas historias sobre sua jornada no exército.
— Pode deixar.

Ethan saiu da sala e limpou novamente o corredor, dessa vez tinha a total certeza de que ficaria limpo já que o hospital estava quase vazio, levando em conta os funcionários, médicos e enfermeiros que transitavam pelo local.
Ethan subiu as escadas e andou até o quarto de Elizabeth, ficaria ali com ela até seu tempo terminar, faltavam aproximadamente meia hora até poder finalmente ir para casa descansar.
Dentro do quarto fez questão de limpa-lo novamente, tirar a poeira, ajeitar os lençóis e todo o resto.
— Enfim esta quase na hora de ir para casa, então voltei aqui para te ver, como eu havia dito que faria — Disse sentando-se novamente no chão e se encostando na cama. Elizabeth parecia normal, tirando o fato de alguns fios de cabelo estarem em seu rosto.

Ethan os retirou lentamente, fitando o rosto da jovem e acabou tocando seus lábios com os dedos, aquilo acabou mexendo com seus pensamentos. Imaginou como seria beija-la enquanto acariciava aquele rosto perfeito.
Se recompôs e sentiu vergonha de sí mesmo ao se deixar pensar aquilo, o chão estava frio, mas estava cansado demais para se levantar e pegar uma cadeira então preferiu ficar ali com o ombro encostado na cama.
— Como eu te disse antes, não confio em primeiras impressões, então peço que não confie na que eu estou te passando. Talvez eu seja tão ruim quanto aquela mulher do orfanato.

***

Quando finalmente retomei a consciência, estava sobre o chão daquele quarto e Peter encontrava-se parado bem a minha frente.
— Ela faz a bagunça e eu é que tenho que arrumar — reclamou me segurando e me fazendo levantar a força.

Olhei em volta e aquela mulher não estava mais ali.

— O que ela fez comigo?
— Cale a boca, aqui vocês só falam com nossa permissão — Peter começou a me puxar para fora do quarto — Mas respondendo sua pergunta, ela apenas te deixou inconsciente para poder injetar um presentinho em suas veias — Ele deu uma risada que fez minha alma gelar — logo você saberá o que te espera, pirralho.
Peter me arrastou por todo o corredor até chegarmos novamente no salão vazio onde eu estava anteriormente. O chão do lugar encontrava-se completamente molhado mas não havia mais crianças por ali, apenas um homem gordo secando toda aquela agua.

Peter me levou até uma porta de aço, meio enferrujada no fim daquele salão e a abriu, revelando uma longa escada de pedra que levava para baixo.
Começou a me empurrar degrau por degrau até chegarmos em outro salão. Este estava repleto de longas mesas e sobre elas havia um tipo de pó branco.
Estes eram embalados em pequenos saquinhos por crianças, e em seguida jogavam os saquinhos dentro das caixas de papelão no chão perto a elas.
Peter me empurrou até uma das mesas me colocando frente a ela.
— Ei, você — Disse ele chamando a atenção de um garoto perto a mim, logo o reconheci, era o mesmo menino que havia conversado comigo no salão anterior.
— Eu, senhor — Respondeu ele se virando e abaixando a cabeça.
— Tenho uma missão para você, ensine o nosso trabalho a este novato aqui e será recompensado.
— Sim, como queira.

Peter me largou ali e subiu as escadas, pensei em arrumar uma maneira de sair mas a única porta daquele maldito lugar era aquela no fim das escadas e esta certamente seria trancada por Peter.

— Oi — Disse ao menino.
— Está vendo essa caixa ai no chão, perto do seu pé. Seu trabalho aqui é encher esses saquinhos com essa farinha branca e os jogar dentro da sua caixa, até ela ficar cheia. Assim — Ele pegou um dos saquinhos e em seguida um pequeno funil de metal. Colocou a ponta dentro do saquinho e com a mão, despejou aquela farinha dentro do funil, enchendo o saquinho. Depois disso retirou o funil e usou uma fita azul para fechar a boca do saquinho — Faça isso até encher sua caixa.
— Obrigado.
— Não agradeça.

Tentei fazer o que tinha acabado de ver e acabei derramando a farinha no chão, peguei mais uma porção e nesta fiz da maneira certa. Amarrei com a fita e joguei dentro da caixa perto ao meu pé.

— Essas pessoas te prendem aqui? — Perguntei enquanto pegava outro saco, precisava saber mais sobre aquelas pessoas e suas intenções com todas aquelas crianças.
— Prendem todos nós, mas o que órfãos podem fazer? Aqui nôs dão abrigo e comida.
— Você não tem pais?
— A palavra órfão não te diz nada? E pelo jeito você também não tem.
— Tenho, por isso preciso arrumar uma maneira de sair daqui.
— Cassandra já te deixou inconsciente?
— Cassandra?
— Sim, a mulher que levou você para fora da área de banho.
— Sim.
— Então esqueça sua fuga, mesmo que conseguisse, acabaria morrendo.
— Por que?
— Cassandra deve ter injetado um veneno em suas veias, eles fizeram isso com todos nós, para nos impedir de fugir.
— Eu vou morrer?
— Não se continuar aqui, sempre na hora de dormir nos dão um comprimido que combate o veneno, sem eles nós morreriamos em vinte e quatro horas.
— Não podem fazer isso — Todo o meu corpo foi tomado por um medo descomunal, seguido de panico e desespero — Eu preciso encontrar os meus pais.
— Não fique assim, não demonstre fraqueza ou vão usar isso contra você. Apenas se acostume com a ideia de ficar aqui por um longo tempo, se preocupe em produzir para eles. Quanto mais você produz, mais recompensado você é.
— Recompensado?
— Sim.
— Como?
— Apanhando menos.

Peter desceu novamente as escadas e rodeou todas as mesas até chegar perto a uma garota, esta parecia um pouco mais velha que as demais e era ruiva. Usava um vestido rodado meio esfarrapado e tinha um semblante abatido.
Peter colocou as mãos nos ombros da menina e sussurrou algo em seu ouvido, em seguida andou até as escadas enquanto a garota o acompanhava de cabeça baixa. Ambos subiram deixaram o lugar.

— Para onde ele está levando ela?
— Emília é uma das mais velhas aqui, deve ter uns treze ou quatorze anos. Eles usam as garotas com essa faixa de idade, porcos imundos.
— Usam? Como assim?
— Melhor você não saber, não é algo que uma criança deva ter conhecimento.
— Mas você também é uma criança.
— Existe muita diferença entre mim e você, afinal você chegou a apenas uma semana.
— E você?
— Eu nasci aqui. É uma historia complicada. Mas me diga, qual é o seu nome?
— É Ethan, e o seu?
— Ethan, belo nome. Fique sempre perto de mim e eu cuidarei de você até se acostumar. Pode me chamar de Julian.

Ficamos alí por aproximadamente meia hora, enchendo nossas caixas e eu já estava cansado de ficar em pé. A tarde estava no fim e as luzes do local foram acesas.
Peter desceu novamente as escadas mas Emília não estava com ele.
Ele andou por todo o local checando caixa por caixa e ao se aproximar de mim, viu que eu havia deixado algumas porções de farinha cair sobre o chão.

— Foi você que derramou? — Perguntou, enquanto me fuzilava com o olhar. Não tinha a total certeza de que havia sido eu pelo fato de que Julian estava ao meu lado, poderia ter sido qualquer um dos dois.
— Fui eu — Respondeu Julian em meu lugar.
— Não, fui eu — Falei antes que Julian fosse punido no meu lugar.
— Digam logo quem fez isso seus pirralhos e parem de zombar da minha cara.
— Fui eu — Ambos respondemos ao mesmo tempo, não entendia o por que dele estar fazendo aquilo por mim.
Peter fez uma cara de ódio enquanto olhava para cima, fitando o teto.
— Que Deus me dê forças para não matar essas crianças do satã — Sussurrou para sí mesmo e em seguido nos olhou novamente — Todos sigam para a área de refeição! — Gritou para as demais crianças — menos vocês dois é claro, vão ter que ser punidos, mas como estou de bom humor vou apenas deixa-los sem jantar hoje.

A Garota Em ComaWhere stories live. Discover now