Capitulo 31

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Ethan chegou até o ponto de ônibus mas antes de sentar-se avistou o automóvel surgir no fim da rua, se tivesse demorado mais alguns minutos para sair de casa certamente teria o perdido.
Tempos depois chegou em seu destino final, desceu do ônibus e seguiu pela calçada indo rumo a pequena praça que ficava frente ao hospital. Haviam algumas pessoas deixando o local enquanto outras chegavam, a maioria de idade, o que era de costume já que tratava-se de um hospital.
Ethan adentrou no local, cumprimentou Margareth e em seguida foi colocar seu uniforme de trabalho. O chão do hospital estava completamente sujo, haviam pegadas de barro, papeis amassados e embalagens de produtos consumíveis.
— Meu Deus — disse ele enquanto varria o chão próximo a recepção — o que houve aqui?
— É isso que acontece quando um dos funcionários da limpeza resolve faltar — Margareth o alfinetou.
— Você tem filhos? Acho que nunca perguntei.
— E o que isso tem haver? — respondeu ela com outra pergunta.
— Responde ai, tem?
— Claro que tenho, porque?
— Eu jurava que pessoas com filhos eram amáveis e fofas, mas você é ranzinza e chata — Ethan sorriu.
— E como você acha que fiquei assim? Os filhos.
— Tenho é pena dos seus filhos.
— Já terminou seu serviço ai?
— Calma, não precisa me morder. Vou deixar este lugar brilhando.
— Como essa sua cara lavada?
— Exato. Sem a minha cara os seus dias seriam terríveis aqui.
— Ah claro.

Ethan continuou a limpar todos os corredores principais do primeiro andar e foi preciso um bom tempo até que tudo estivesse bem limpo e de volta aos eixos. Finamente poderia subir ao segundo andar para dar sequência a limpeza e também para poder ver Elizabeth novamente. E foi o que fez, subiu para o andar de cima mas antes de começar a varrer, fez questão de ir checar se Elizabeth estava confortável. Entrou em seu quarto e a janela do local já estava aberta. Andou até a cama e verificou se o travesseiro estava bem posicionado abaixo da cabeça de Elizabeth.
Após isso saiu do quarto e começou seu árduo trabalho diário, mas não achava ruim trabalhar com a limpeza do hospital, até gostava daquilo pois o mantinha ocupado e longe de suas alucinações. Quando enfim terminou de passar pano por todo o corredor, deixou seu kit de limpeza próximo a uma lixeira e voltou ao quarto de Elizabeth.

— Esse hospital não sobreviveria dois dias sem mim — disse enquanto aproximava-se da cama — eu fiquei fora um único dia e tudo por aqui estava uma bagunça sem fim — Ethan sentou as no chão ao lado da cama —  eu precisei faltar pra poder ir ver a sua avó, ela também sente a sua falta e é uma pessoa bem divertida — por motivos óbvios ele preferiu não contar a verdade a ela — bom... Ah, espero que tenha gostado do Julian e da Kathy, eles estão me ajudando em uma coisa muito importante. Ambos são bem hilários quando estão juntos, nós três andamos até um penhasco que fica entre duas montanhas atrás do hospital. É bem lindo lá, acho que você iria gostar da vista, se não for medrosa como eu, é claro. Mas enfim, nosso acordo ainda está de pé, certo?

***

— Ninguém vai falar nada? — Cassandra passou a demonstrar uma fúria fora de comum em sua voz e aquilo tudo estava me deixando muito assustado. Eu e Julian não havíamos participado daquele assassinato mas eu não suportava nem imaginar o que aconteceria conosco se ela descobrisse que andamos roubando comida — tudo bem então — seus olhos amargos percorreram cada criança presente — sem almoço para todos vocês e vamos duplicar o trabalho.
— Isso não é justo — falou uma das meninas que estava na fileira da frente, me foquei nela para saber o que iria acontecer diante daquela reclamação.
— Não é justo? — Cassandra deu passos suaves até a garota — posso saber o porque? — ela se inclinou para que seus ficassem na altura dos olhos da menina.
— T...todo mundo trabalha duro aqui, porque devemos ser punidos por algo que não fizemos? — a menina tentou desviar o olhar enquanto falava mas Cassandra segurou seu queixo com força.

— Olhe para mim enquanto fala, não precisa ter medo. Né? Eu cuido muito bem de todos vocês, dou comida e trabalho. Sem mim vocês seriam apenas órfãos passando fome pelas ruas. E respondendo a sua pergunta, querida. Se uma formiga decidir fugir das regras, todo o formigueiro deve ser punido.
— Mas somos apenas crianças, como iriamos matar aquele homem grande?
— Eu fiz coisas piores na sua idade, menininha.
— Ma... — Cassandra deu um tapa certeiro no rosto da menina antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa e esta caiu no chão chorando.
— Aqueles que me questionarem irão sofrer severas consequências — ela me encarou em meio a todas aquelas crianças e isso me fez tremer. Será que sabia algo? Ou apenas queria me amedrontar mais ainda?
Minutos depois nos levaram para a área de trabalho e todos nós estávamos famintos por ainda não termos tomado café da manhã.
— Julian — chamei meu único amigo naquele lugar ao vê-lo passar por mim mas ele me ignorou completamente. Achei aquilo estranho mas não liguei muito, afinal todos ali estavam morrendo de medo.

O procedimento seria o mesmo, encher, fechar e guardar toda aquela farinha estranha que eu havia visto no dia anterior. Esperava que Julian ficasse ao meu lado mas ele fez o contrário, preferiu ficar bem longe e aquilo estava me deixando incomodado. Aproveitei que o único adulto presente deixou o local e andei rápido até Julian, mas atento caso aparecesse alguém no topo da única escada que dava acesso aquele lugar abafado.
— Julian, porque está me ignorando? — perguntei baixinho ao ao aproximar dele, mas ele fingiu não ouvir e continuou seu trabalho — me responde — segurei seu ombo e o obriguei a se virar para mim.
— Você colocou todos nós em perigo. Fique longe...
— O que eu fiz? Por que está dizendo essas coisas? Não somos amigos?
— Devia ter pensado nisso antes de fazer aquilo, antes de mata-lo.
— Do que está falando?
— Eu sei que foi você, Ethan. Eu vi.

— Do que está falando? Ficou louco? — perguntei após ficar chocado com aquela afirmação de Julian.
— Eu que te pergunto, agora eles vão redobrar a segurança e os castigos.
– Eu não matei ninguém...
—  Volte ao trabalho, não nos cause mais problemas — Julian voltou a embalar e eu voltei para o meu posto antes que alguém chegasse ali e me visse de papo. Aquela história de Julian estava muito estranha, eu tinha a total certeza de não ter matado ninguém.
Foi ai que uma teoria surgiu em minha cabeça, eu não havia o matado e o único que me acusava disso era Julian, então o próprio Julian matou o homem e agora estava tentando jogar a culpa pra cima de mim. Comecei a embalar toda aquela farinha enquanto juntava as peças dessa teoria em minha mente.

— Vocês o mataram? — perguntou alguém ao meu lado, era Vanda que olhava fixamente para a grande mesa enquanto fazia seu trabalho.
— Não...
— Ele era minha fonte de comida e vocês o mataram.
— Nós não fizemos isso.
— Sim vocês fizeram, foram os últimos a terem contato com ele.
– Você também estava lá.
— Eu saí muito antes. Vou contar o que sei para Cassandra e veremos o que ela irá fazer com vocês dois.
— Já disse que não matamos aquele homem e se você disser algo também falaremos o que sabemos sobre você — fui obrigado a colocar minhas cartas na mesa pelo bem maior, se ela falasse qualquer coisa eu e Julian estaríamos muito ferrados.
— Então aprendeu a mostrar as garras.
— Eu não gosto de nada disso, eu não gosto deste lugar e quero voltar para os meus pais.
— Sinto muito te dizer isso mas você nunca conseguirá sair daqui.

— Não pode afirmar isso.
— Posso — ela me encarou pelo canto do olho — você é novo aqui então vou te dizer uma coisa, as crianças que tentaram fugir foram todas mortas a tiros antes mesmo de chegarem ao portão principal. E mesmo se alguém chegar lá, não vai conseguir abrir sem a chave que fica com um dos seguranças.
— Você sabe muito, nos ajude...
— Então andam tramando algo, querem colocar todos nós numa situação pior do que a que estamos?
— Eu tenho que voltar para os meus pais.
— Se tem pais como veio parar aqui?
— Eu não sei bem, numa hora eu estava com eles e na outra eu acordei aqui.
— Bom, isso não importa.
— Vai nos ajudar?
— Não.
— Por favor.
— Vê se cresce, aceite a sua nova realidade assim como eu aceitei. Acha que se eu soubesse como fugir daqui em segurança ainda estaria nesse lugar? — ela jogou todas as embalagens dentro de uma de suas caixas e eu fiz o mesmo. Em seguida fitei todos os cantos daquele lugar a procura de Peter mas ele ainda não havia retornado.

— Eu e Julian vamos pensar em algo e você pode nos ajudar. Só precisamos encontrar os remédios.
— Que remédios?
— Aquele que eles nos dão todos os dias. O que nos mantem vivos.
— Não seja tão idiota, aquilo não é remédio, é só um tipo de bala sem sabor.
— Cassandra disse que...
— Não importa o que ela ou o Peter disseram, tudo isso de doença é apenas uma mentira que ela inventou para colocar as crianças debaixo de sua ditadura.
— O Julian me contou que uma vez eles não deram o remédio para um garoto e ele morreu.
— Não, ele morreu porque já estava doente, então Cassandra aproveitou desse acontecimento para amedrontar ainda mais todos aqui.
— Não acredito que estava sendo enganado... então posso fugir daqui.
— Não vai passar do portão. E mesmo se passar vai ter que andar muito até a cidade mais próxima.
— Tudo é melhor do que ficar neste lugar.
— Boa sorte com sua morte.

A Garota Em ComaKde žijí příběhy. Začni objevovat