Capitulo 37

3.8K 378 70
                                    

— O que está vendo? — perguntei curioso, todos os olhos naquele local estavam voltados para as costas de Julian.
— Vocês não vão acreditar — respondeu com a voz agitada, mas não era um agitado ruim e sim aparentando animação.
— Diz logo — gritou Vanda.
Julian fechou rápido a porta e usou o corpo para bloquea-la. Após isso começamos a ouvir alguém bater nela.
— Socorro, me deixe entrar — gritou uma voz feminina vinda do outro lado da porta. As demais crianças ficaram assustadas enquanto a mulher repetia o pedido varias vezes.
Eu reconheci a voz, era de uma das cozinheiras do orfanato e logo tudo ficou silencioso. Novamente alguém voltou a bater na porta mas dessa vez com calma.
— Julian, você está ai? — agora era uma voz masculina e Julian abriu rápido a porta, revelando a figura de um homem careca de barba grande.
— Tom, vocês chegaram rápido.
— Viemos assim que a viatura saiu com você hoje. Essas pessoas merecem pagar por fazer isso com vocês — Tom nos fitou lá do topo da escada — vocês estão livres agora.

Após ouvir isso, todos começaram a sussurrar coisas entre sí. Era impossível para aquelas crianças acreditarem que estavam livres.
— O que fazemos agora? — perguntou Julian a Tom.
— Preciso que leve todas as crianças para fora desse lugar, não sabemos se mais dessas pessoas irão chegar aqui.
— Ok, vou guiar esses até a saída e volto para ver se tem mais alguém preso em algum dos outros andares.
— Faça isso, e sinto muito pelo que terão que ver. Mas não tivemos outra escolha.
— Ninguém aqui vai se comover ao ver os corpos mortos dessas pessoas imundas, não se preocupe.
— Nôs vemos lá fora então.
— Ei vocês — Julian se virou para nós — me sigam, vou leva-los para fora deste inferno.
De inicio as crianças continuaram imóveis apenas o olhando, assim como eu. Seria mesmo tudo verdade? Estávamos mesmo a poucos passos de ser livres? Ou seria tudo fruto da minha imaginação fértil? Eu não conseguia distinguir.
— Vamos Ethan — Vanda segurou o meu braço e me guiou degrau por degrau. Para mim era como se cada passo acontecesse em câmera lenta, eu estava tomado pelos pensamentos que começaram a circular em minha mente como carros em um cruzamento movimentado. Pensamentos positivos e negativos, a certeza de estar livre e a verdade de ainda ser prisioneiro.

— Ethan, você está bem? — perguntou Julian quando me aproximei dele.
— Eu... — olhei para ele e depois para Vanda.
— Caralho — disse ela em voz alta após ver algo que eu ainda não tinha visto. Havia uma mulher decapitada encostada na parede próximo a porta. Certamente a cozinheira que havia batido na porta a procura de refúgio. Sua cabeça estava jogada ao lado do corpo e em sua mão havia uma faca.
— Eles merecem isso — disse Julian fitando o corpo.
— Eles merecem coisa pior — falou Vanda rindo, ela estava em êxtase com tudo aquilo.
— Onde está aquele puto do Peter — Julian olhou em todas as direções — espero que também esteja morto ou quase morrendo assim eu posso chutar a cara dele.
— Uma faca — andei até s cozinheira morta e peguei a faca que estava em sua mão — talvez seja útil caso nos esbarramos com alguém.

— Oh Idiotas! — Julian voltou a gritar com as crianças e após usar sua lábia fatal ele conseguiu as convencer a segui-lo. E assim foi feito, fizemos uma fila que era liderada por Julian e terminava em mim. Andamos por alguns corredores e reconhece-mos alguns dos corpos que víamos pelo caminho. Encontramos outra cozinheira, dois funcionários da limpeza, um vigia e mais três pessoas que desconheciamos.
Também nos esbarramos com algumas mulheres mas essas eram aliadas de Julian, os demais civis ainda perambulavam pelo orfanato a procura de mais pessoas responsáveis pelo lugar ou por mais crianças. Alguns homens armados com facões estavam na porta do orfanato conversando algo entre si.
— Julian, seu filho da putinha imortal — disse um dos homens ao notar nossa aproximação.
— Qual é a nova, cachaceiro? — perguntou Julian rindo.
— Sua mãe me chama de outra coisa — retrucou o homem.
— Vocês vieram mesmo, serei eternamente grato. Nós todos seremos.
— Nunca duvide de uma multidão enfurecida.
— Leve as crianças para os veículos, eu vou voltar lá pra dentro para ajudar a encontrar mais. Conheço esse lugar como se tivesse morado aqui por toda a minha vida.

— Mas você morou seu peste.
— É verdade — Julian riu enquanto tava meia volta e retornava para dentro do orfanato.
— Eu vou com você — falei enquanto ele passava por mim.
— Não, você precisa de repouso e de cuidados. Vá com eles para fora daqui.
— Não, vou te ajudar.
— Que inferno Ethan, apenas obedeça. Está me atrasando.
— E vou continuar até consentir.
— Caralho, demônio, capeta. Você me causa ódio, venha logo.
Voltamos a caminhar orfanato a dentro até chegar-mos em dois caminhos diferentes. O corredor da esquerda levava até a ala da cozinha, entre outros quartos. O da direita eu não fazia a menor ideia e mais para frente estavam as escadas que levavam até os andares superiores.
— Siga para a cozinha e verifique os demais quartos — ordenou Julian.
— E você?
— Vou subir.
— Tudo bem.
— E Ethan...
— O que?
— Tenha cuidado — Julian me abraçou — a partir de hoje tudo vai mudar.

Em seguida ele subiu os degraus correndo. Fitei o extenso corredor que parecia não ter fim e comecei a andar abrindo porta por porta. Algumas estavam trancadas então eu batia e chamava para me certificar se havia ou não alguem ali. Foi então que vi uma enorme mancha de sangue no chão e esta fazia uma trilha que virava para dentro da cozinha que ficava no fim do corredor. Eu conhecia um pouco aquela parte do orfanato pelo fato de já ter estado ali antes, junto com Julian.
Segui o rastro de sangue cautelosamente, parei perto a entrada da cozinha e ela estava toda revirada. Mas vazia aparentemente. Voltei minha visão para o chão e o rastro de sangue se converteu a pequenos pingos vermelhos, estes levavam a um único lugar: a porta do grande armário onde Julian e eu havíamos nos escondido. Dei uma ultima olhada em volta e voltei a me focar no armário. Coloquei a faca no chão e de uma só vez puxei a porta revelando uma figura muito peculiar escondida ali.
— Ethan — disse a voz feminina quasse que sussurrando, ela tremia e em sua cabeça havia um enorme machucado. Seus cabelos certa vez elegantes agora estavam sujos com o próprio sangue. Sua boca que sempre encontrava-se tingida por batons caros agora possua um dos lábios inchados e com um leve corte.
— Cassandra — falei enquanto ela me olhava com os olhos lacrimejando, seu rosto clamava por ajuda e piedade.

— Ethan... – Ela posicionou o dedo indicador contra os lábios pedindo para que eu fizesse silêncio - não deixe que me vejam aqui. Me ajude, por favor. Eles vão matar todos..
– Todos já estão mortos.
– Você não vai me entregar, vai? Eu salvei você Ethan – seu corpo encolhia-se naquele cúbico apertado a cada nova palavra que saia de sua boca.
– Eu vou te ajudar, tem alguma arma?
– Arma, não. Eu nunca ando com nenhum tipo de arma – Cassandra ficava a todo momento olhando para o cenário atrás de mim, ela estava sorrateira e tremendo.
– Vou te dar uma faca para se proteger.
– Faca... não, aqu.. aqui não tem facas Ethan — ela sussurrou – eu procurei em cada gaveta mas não achei nada.
– Eu trouxe uma – Levei a mão até a faca que havia colocado no chão e lentamente a trouxe até o campo de visão de Cassandra, que sorriu de uma maneira estranha.
– Bom menino, bom menino. Agora me dê e feche a porta da cozinha. Pode ficar aqui comigo se quiser, eu protejo você. Não é isso que fazemos? Protegemos uns aos outros. O Peter, aquele maldito me acertou na cabeça pra que aquelas pessoas lá fora pudessem me pegar enquanto ele corria, mas eu consegui escapar.

A Garota Em ComaDonde viven las historias. Descúbrelo ahora