Capitulo 19

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— Qual o nome dessa garota?
— Elizabeth.
— Bonito.
— Sim, ela é, muito.
— Ethan, estou falando do nome.
— Ah, sim — ele riu — é um bom nome.
— Tem alguma coisa que você não esta me contando.
— Não tem não.
— Fala Ethan, ou melhor, apenas me responda. Por que esse interesse em ajudar essa garota se você nem a conhece?
— É complicado...

Kathy bateu na cabeça de Ethan, usando uma vasilha que havia pegado dentro da pia.

— Não quero saber.
— Não precisava bater.
— Sempre precisa bater, a violência resolve tudo. Agora fala.
— O meu medico...
— Não enrole, diga tudo de uma vez.
— Ele me disse que quanto mais eu me abrir para uma pessoa sobre as coisas que me perturbam, mais a minha doença ficará escondida dentro de mim.
— Hmm, nem precisa dizer mais nada, já entendi toda a situação.
— Entendeu?
— Sim, você esta usando essa garota para desabafar, por isso se apegou e não quer que ela morra.
— É... quem me dera essa ser toda a verdade. Eu não conseguiria conversar sobre isso com outras pessoas, me sinto mais a vontade com ela, mesmo que não me escute e nem saiba que eu existo. Só sei que preciso salva-la.
— Eu te ajudo então.
— Ajuda?
— Sim.
— Não me acha um cara muito estranho por me apegar a uma garota em coma?
— Ethan, eu te acho um cara muito estranho desde o dia em que te conheci.

Ambos riram, trocando um profundo olhar.

— Essa cidade, para onde iremos, existe uma base militar lá, foi onde passei meus últimos meses como soldado.
— Serio? Isso sim é uma baita coincidência, a garota que você ta afim morava na mesma cidade que você, e agora ambos estão nesta cidade aqui.
— Não estou afim de ninguém não.

Ethan ficou constrangido.

— Calma, calma — Kathy voltou a rir — estou só brincando. Mas que tudo isso é estranho você tem que concordar.
— Queria poder voltar no tempo — Ele fitou o teto de madeira.
— E faria o que?
— Mudaria algumas coisas.
— Todo mundo gostaria de voltar no tempo e mudar as coisas Ethan, mas isso não é possível, o jeito é encarar os fatos e enfrentar tudo e todos para poder salvar aqueles que amamos.
— Nossa...
— Eu sei, sou demais.
— Na verdade eu ia dizer que você deve ter lido isso em algum lugar.
— Claro que não, acha que eu não sei criar frases de impacto é?
— Acho, você não é do tipo que saiba fazer essas coisas.
— E você não parece ser do tipo que se apaixona
— E eu não me apaixono — Ethan a encarou.
— Ok, não esta mais aqui quem falou — ela deu as costas rindo e andou em direção ao hall que separava a cozinha do corredor que levava até a sala.
— Onde vai?
— Voltar pra festa, logico. Deixe de ser anti-social e venha conhecer o povo.

Ethan ficou alguns segundos olhando para o nada, estava feliz por ter conseguido a ajuda de Kathy, mas ao mesmo tempo estava com medo de não conseguir mudar nada em relação aos aparelhos de Elizabeth.
O fato de voltar a sua antiga cidade também o deixava nervoso, estava pensando em passar próximo a base e relembrar um pouco das amizades que havia feito lá. Agradecia por ainda ter contato com a amizade mais antiga e fiel de todas, com Julian, desde a época em que se conheceram no orfanato.
Também chamarei o Julian, pensou Ethan, planejando passar na casa do amigo pela manha, para ver se ele concordava em o acompanhar até a antiga cidade onde ambos serviram ao exército. Talvez fosse divertido, ou frustante demais para ambos. Mas não custava tentar.

Ethan acompanhou Kathy por todos os cômodos da casa, tentava a todo custo não se distanciar muito dela para não ter que dar atenção a algum convidado. Se sentiu desconfortável quando ela o obrigou a dançar uma música lenta e clichê, mas gostava da presença dela, aquilo poderia ser o inicio de uma grande amizade.
— Estou indo para casa — disse a Kathy, enquanto ela pegava mais algumas bebidas na cozinha.
— Eu te acompanho — ela colocou a caixa com as bebidas sobre a mesa.
— Não precisa, não quero incomodar.
— Não é incomodo, encare como um agradecimento.
— Pelo que?
— Bom, você veio.
— Mesmo assim, não precisa.
— Eu não preciso da sua permissão. — ela deu um soco de leve no ombro de Ethan — oras, eu não bebi tanto assim, posso muito bem acompanhar um amigo ate o fim da rua.
— Se você insiste...
— Volto logo, pessoal! — gritou, levantando as mãos enquanto acompanhava Ethan até a porta.
— Tem certeza que não bebeu muito?
— Não enche. Sábia que metade dessas pessoas que estão aqui eu nem conheço? São todas do bairro, eu tive muito tempo para sair batendo de porta em porta.
— Pensei que só chamaria os parentes.
— Os planos mudam Ethan, os planos mudam.

Eles caminharam até a calçada.

— Aqui está um pouco frio
— Sempre esta frio a noite. Que horas vamos sair amanha?
— Bom, que tal as sete?
— Da manhã?
— Claro que é da manha, não acha que sairiamos as sete da noite, ou acha?
— Acho — Kathy ficou na ponta dos pés e começou a caminhar, como se andasse sobre uma linha reta.
— Melhor você não beber mais nada hoje.
— Cale a boca, vai me desequilibrar.
— É mesmo? — Ethan a empurrou.
— Idiota — ela tentou acerta-lo com um soco, mas ele segurou sua mão e passou o braço por cima do pescoço de Kathy, quase que a abraçando.
— Eu te ajudo, bêbada — Ele deu a volta e ambos começaram a voltar para a casa de Kathy.
— Que diabos esta fazendo? a sua casa fica pra lá. Ou é pra cá — ela riu — olha, tem alguem dando uma festa naquela casa ali, odeio esse bairro novo, as pessoas dão festas e nem nos convidam.
— Deve ser porque a casa é sua e a festa também.
— Ah é.

Ethan a acompanhou de volta, mas Kathy acabou dormindo no meio do percurso e ele teve que pega-la no colo. Adentrou na casa com a jovem nos braços, todos os olhares presentes se voltaram para ele.
Ethan percorreu toda a sala, indo em direção as escadas que levavam até o segundo andar da grande casa. Subiu degrau por degrau até chegar em outro corredor, neste haviam três portas.
Empurrou a primeira com o pé, revelando um dos quartos da casa. Se aproximou da cama e cuidadosamente deitou o corpo de Kathy sobre ela. Olhou em volta, até localizar o guarda roupas. O abriu e retirou uma das cobertas felpudas que estavam dobradas na parte inferior do móvel.
Cobriu Kathy, aquilo o fez pensar em Elizabeth. Sempre se certificava para ver se ela estava bem confortável.
— No final das contas, eu é que te acompanhei — falou baixinho, enquanto deixava o quarto.
Fechou a porta e desceu as escadas, a missão agora era conseguir dispensar todas aquelas pessoas, já que a dona da festa estava fora deste mundo. Mas sua mente trabalhou rápido e ele logo bolou um plano infalível.

A Garota Em ComaKde žijí příběhy. Začni objevovat