Capitulo 43

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— E você vir voando com uma cegonha faz? Ou aparecer do nada na porta da casa dos seus pais?
— Então se eu colocar o pinto no bife nasce um bebê?
— Não é bem assim, a barriga da garota fica enorme e demora uns quatorze meses pro bebê nascer, ou vinte. Sei lá.
— Entendi, meninos tem pinto, meninas tem preciosas que se parecem com bife. Pinto mais preciosa é igual a bebês, foi fácil. Mas eu nunca vi uma preciosa, eu acho.
— Isso podemos resolver, amanhã vou te comprar umas revistas especiais.
— Especiais.
— Sim, mas não se preocupe. Amanhã saberá o porque são especiais.

Paramos perto a árvore.

— Em breve vai escurecer — falei enquanto tocava a árvore.
— Sim, temos que fazer a divisão dos quartos.
— É... E aquele seu plano doido de comprar animais, é sério?
— Se você assim quiser, afinal o dinheiro é seu. Eu acho vantagem, até porque já tem cercados e muita grama por aqui. Dá pra criar bastantes animais.
— Vou fazer o que você achar melhor, sua experiência em tudo é maior que a minha.
— E só pra constar, você não respondeu a pergunta que eu fiz lá dentro.
— Qual?
— Quem são as irmãs Grimes e o que elas fazem.
— Ah, elas são divertidas. Sempre me tratam bem e eu acho que são curandeiros. Os homens as visitam o dia todo.
— Homens?
— Sim, elas atendem os homens. Não entendo porque eles passam tanto mal.
— Deixa de ser tapado, então elas são prostitutas.
— Prostitutas, o que é isso?
— PUTA QUE PARIU ETHAN.

***

— E ele realmente cumpriu com o que disse — falou Ethan indo até a porta do quarto de Elizabeth, ele olhou para as duas direções do corredor e em seguida retornou para dentro — Julian comprou três revistas com pequenas histórias eróticas e me fez ler todas — Ethan deixou escapulir uma pequena risada enquanto falava — tinha mulheres em todas as posições possíveis.

***

— Ethan sai logo dai — reclamou Vanda do outro lado da porta do banheiro enquanto eu estava sentado folheando uma das revistas.
— Daqui a pouco, não encha o saco.
— Oh seu maldito, onde anda aprendendo a falar assim?
— Com o Julian — respondi enquanto fitava cada canto do banheiro a procura de um esconderijo para a revista.
— Tinha que ser aquele verme — a voz dela foi perdendo força enquanto falava, cheguei a conclusão de que ela havia afastado-se da porta e aproveitei aquela oportunidade para sair rápido dali com a revista em mãos.
Olhei para todas as direções possíveis e no desespero o único esconderijo que pude pensar no momento foi em baixo do carpete. O levantei, joguei a revista e a cobri antes de alguém chegar ali. Em seguida sai pela casa a procura de Julian como se nada de errado tivesse acontecido.
— O que está fazendo? — perguntei após encontra-lo nos fundos da casa, ele estava parado de frente para o cercado onde viviam os porcos.

— Analisando — respondeu, dando alguns chutes nas tabuas — pelo tamanho deve caber uns vinte porcos aqui. Mas ainda é pouco, precisamos aumentar o cercado e depois construir outro.
— Outro?
— Sim, para galinhas.
— Eu gosto de galinhas.
— Você gosta de tudo Ethan.
— Não, só de animais mesmo.
— Eles não são para gostar, são para comer. Uma galinha assada ou frita ao lado de um belo pedaço de porco.
— Eu estava pensando... — me apoiei sobre o cercado.
— Nas mulheres das revistas?
— Cale a boca.
— Eu ouvi a Vanda reclamando de você estar a tempo demais no banheiro.
— Agora não podemos mais usar o banheiro?
— Calma, não precisa ficar todo tímido — ele riu, numa tentativa bem sucedida de me irritar — mas continue, no que estava pensando?
— Em você.

— Como assim Ethan? Isso soou estranho demais, eu te dou algumas revistas com mulheres e você vem com essa papo estranho de pensar em mim. Pode ir parando por ai.
— Não seja retardado. Não é isso,  desde que nos conhecemos eu fiquei atolado em meus próprios problemas e não tive tempo de perguntar os seus.
— Eu não tenho mais problemas, Ethan. O único era estar preso naquele lugar mas agora sou livre.
— Sua mae e seu pai, onde eles estão?
— Então seu objetivo era apenas perguntar isso?
— Já é um começo, percebi que sei muito pouco sobre você.
— Bom, vejamos — Julian olhou para cima, fitando o céu. Eu fiquei curioso para saber o que se passava em sua mente naquele exato momento — minha mãe era uma das garotas que já viveram naquele orfanato, ela sofreu vários abusos e em um deles acabou engravidando. Eu nasci e eles a mataram. É isso.
— Entendo.
— É só isso? Eu te conto algo bem triste e você só diz "entendo"?
— Não quer que eu chore, quer?
— Será que ainda te restam lagrimas para isso? Acha que não sei que você chora escondido?

— Somos crianças estranhas.
— Não, não somos. As circunstâncias é que são estranhas. O certo seria nos conhecermos em algum pequeno campo de futebol, ou em uma classe escolar. Mas aqui estamos, crianças solitárias planejando o recomeço de algo que nem inicio teve.
— E vai dar certo?
— Talvez. E sobre o meu pai, bom. Você chegou a conhece-lo.
— Não estou entendo.
— O gordo que a Vanda matou. Ele era o meu pai. Um estuprador de merda, certeza que o desgraçado havia feito mais filhos por lá.
— Caramba.
— Eu sei. Muita informação.
— Por que não me disse isso antes?
— Não achei que seria uma informação útil.

— Bom, vamos deixar esses acontecimentos para trás. Parar de chorar e seguir, eu gosto do seu plano de restabelecer a fazenda.
— Precisamos comprar os porcos, sabe onde vende?
— Não. Mas deve haver alguém na cidade que venda ou saiba onde comprar.
— Certo, amanhã vamos procurar.
— Podemos ir hoje, ainda é bem cedo.
— Não, antes vamos nos preocupar com o interior da sua casa, Ethan.
— O quê tem o interior dela — quis saber.
— Está empoeirado, vamos nos juntar e arrumar tudo. Depois nos certificamos de que as cercas estão bem firmes e amanhã descemos até a cidade. Também vamos precisar de ração e etc.

— E vacas? Vamos ter?
— Vocês tinham?
— Claro.
— Quantas?
— Uma.
— Só uma???
— Sim.
— Me surpreende seus pais terem conseguido juntar tanto dinheiro com tão poucos animais. Agora me diga, onde a vaca ficava? Em qual cercado?
— Em nenhum, ela ficava solta pelo pasto.
— No meu reinado nesta fazenda isso não vai acontecer.
— Ah pronto — disse Vanda surgindo do nada — está se sentindo um ditador agora.
— Chegou a saco pela — reclamou Julian.
— Vanda acabamos de falar de você. Estávamos planejando nos reunirmos para limpar toda a casa, o que acha?
— Justo, quando começamos?
— Agora — respondeu Julian em meu lugar.
— Só mais uma coisa, por que tinha uma revista pornô em baixo do carpete? — aquela pergunta gelou todo o meu corpo.

***

Ethan interrompeu sua história e voltou até a porta do quarto.
— Acho melhor eu descer para ver se há algo para limpar. Antes de deixar o hospital eu volto aqui para me despedir.

Ao colocar um pé para fora do quarto, Ethan escutou uma voz feminina.
— Oi, onde estou?

Ethan virou-se para trás e pôde ver Elizabeth com os olhos abertos.

— Elizabeth?
— Onde eu estou? — disse ela tentando se levantar mas o máximo que conseguiu foi mexer a cabeça e um pouco dos braços — o que houve? — ela parecia confusa — por que não consigo me mexer? — ela o encarou.
— Elizabeth, é mesmo você? — Ethan falou bem devagar enquanto dava passos preguiçosos até a cama. Ele fitou todos os cantos do quarto a procura de algo que conprovasse que aquilo era apenas mais uma ilusão, mas não encontrou.
— Estou em um hospital?
— Sim — respondeu enquanto cutucava uma das bochechas da jovem, usando o dedo indicador.
— O quê está fazendo?
— Nada — respondeu enquanto seu coração acelerava — É mesmo você, eu consigo sentir — seu corpo todo tremeu como se fosse atingido por um raio.
— Pode me ajudar?
— Você sabe quem eu sou? — Ethan foi direto ao ponto.
— A sua voz, eu sinto que já ouvi antes mas não consigo me lembrar onde.
— Fique aqui, eu vou buscar ajuda.
— Bom, não é como se eu pudesse sair, minhas pernas não se movem.

A Garota Em ComaWhere stories live. Discover now