Capitulo 39

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— Vai toma no cu, Ethan — Julian afastou-se da parede, tentando se equilibrar. Mas não estava conseguindo.
— Era melhor se alguém te ajudasse no início — sugeriu Kathy.
— Eu também acho — concordou Ethan.
— Não, obrigado. Pelo menos não vocês.
— Oras, somos amigos ou não?
— É por isso mesmo. Agora a pouco estavam zombando de mim.
— Zombando não, enfatizando a situação de uma maneira humorada — explicou Ethan.
— Ah claro — Julian deu o primeiro passo é este saiu desengonçado. Ele não tirava os olhos das redondezas, não queria que ninguém o visse daquela maneira. Rezava para se adaptar rápido a prótese.
— Vamos, vamos — chamou Ethan dando passos para trás e batendo palmas.
— Oh desgraçado pare com isso, quer que o bairro todo apareça aqui é?
— Isso seria bom, teríamos mais torcida. Uhuull.
— Não seja dramático — disse Kathy — em uma semana você já vai estar até correndo.
— Isso — continuou Ethan — Você e a prótese serão um só, unidos por corpo e alma.
— Continue com suas gracinhas — Julian deu mais dois passos.

— Está andando igual um macaco de circo — Ethan começou a rir, Kathy não resistiu aquele comentário e fez o mesmo.
— É, foi o que sua mãe disse enquanto eu piruletava pelo arco de fogo dela — Julian acabou gargalhando após dizer isso e quase caiu, sorte sua que Ethan foi mais rápido e o segurou.
— Olha aí, está vendo? Justiça divina.
— E a justiça divina só funciona contra mim?
— Claro. Você tem mais pecados.
— Maldita hora que fui ter a grande ideia de chamar vocês dois.
— Você reclama demais — disse Kathy — comece a andar logo.
— Onde é mesmo a sua casa, bonitinha? Vamos andar até lá.
— Vamos, quero te mostrar meu belo jogo de facas.
— Isso foi uma ameaça? Saiba que eu adoro ameaças.
— Cale a boca Julian e mexa logo essa bunda — pediu Ethan o interrompendo.
— Nossa, falando assim você desperta meus desejos mais obscuros — Julian riu — essas falas são apenas em quatro paredes Ethanzinho. Não vai querer espalhar nossas intimidades, Vai?
— Vou te mostrar a intimidade — Ethan  andou até Julian e se posicionou atrás dele.
— O quê pensa que está fazendo, porra?
— Adora falar merda, agora vai andar a força — Ethan posicionou as duas mãos nas costas de Julian — está pronto?
— Nem pense nisso miserável, quer me derrubar? Eu não preciso que me ajude..
— Encare isso como um empurrãozinho amigo.
Ethan empurrou Julian e este saiu dando passos desengonçados até cair no chão.
— Ethan seu DESGRAÇADO.

Dia seguinte...

— Ontem eu ajudei o Julian com a prótese dele — disse Ethan abrindo a janela do quarto de Elizabeth — até que tudo saiu como planejado, eu acho. Ele só precisa praticar um pouco mais e tudo vai acabar bem — em seguida ele sentou-se no chão.

A FAZENDA

Senti meu corpo tremer e balançar, dar pequenos richotetes e depois refazer tudo de novo. Com dificuldades abri os olhos, revelando o teto de um veículo até então desconhecido por mim. Eu estava sentado em um dos bancos de trás, com a cabeça inclinada. Olhei para a direita e pela janela do veículo eu pude ver várias árvores correndo pelo meu campo de visão, estávamos em alta velocidade.

— Você acordou — disse Vanda ao meu lado, eu ainda não havia a notado ali.
— Ethan — Julian que estava sentado no banco da frente virou-se para me olhar.
— Onde estamos? — perguntei.
— Em um carro, não está vendo?
— Isso eu percebi, idiota — desviei o olhar para ver quem estava dirigindo e me surpreendi ao notar quem era — Will — fiquei feliz em ver um rosto conhecido. Eu sempre fazia entregas no comércio dele.
— Ele também disse te conhecer — falou Julian sorrindo — Isso não é incrível? Estamos indo para a sua cidade Ethan.
— Sempre metido em confusão — resmungou Will.
— Sempre mau humorado — retruquei.
— Seja grato, Ethan — pediu Julian — Ele estava com as pessoas que nos salvaram.
— Agora estamos todos indo morar na sua fazenda — disse Vanda.
— Onde estão as outras crianças? Elas estão bem?
— Elas vão ficar bem — respondeu Julian — os civis vão cuidar para  que elas recebam o tratamento que merecem a partir de agora.
— Cassandra... — me recordei dos últimos instantes antes de desmaiar.
— Vamos falar disso outra hora, Ethan — Julian parecia saber bem o que havia acontecido com a mulher.

***

— A questão é que eu realmente acreditava que as coisas voltariam ao normal — disse Ethan levantando-se do chão — aliás, todos nós acreditávamos. Will nos levou até o bairro onde eu fazia as entregas sem me dizer nada do que sabia. Talvez por não gostar de conversar ou simplesmente pelo fato de não querer ser o responsável a contar coisas ruins a uma criança que só queria voltar para casa.

***

— E agora? — perguntou Julian olhando para todas as direções, haviamos acabado de descer do veículo e estávamos próximos ao comércio de Will.
— Agora seguimos para lá — apontei para o horizonte, para uma inclinação de terra — subimos e pegamos a trilha . Minha fazenda fica alguns metros depois disso.
— Eu ainda acho que os seus pais não vão aceitar esse monte de criança — comentou Vanda.
— Eu também — Julian concordou — e é com pesar no coração que digo: Vanda, foi bom conhecer você mas agora trace o seu destino. Adeus.
— Vou traçar, indo com Ethan. Boa sorte em sua jornada Julian. A estrada oposta será seu guia.
— Touche.
— Não sejam idiotas, meus pais são pessoas boas e é claro que vão acolher dois pobres órfãos destrambelhados — entrei na discussão besta deles e me peguei sorrindo, já fazia algum tempo desde a última vez.
— Espero que eles não sejam como você — Julian me alfinetou.
— O quê quer dizer com isso?
— Nada, então. Vamos? Estou com tanta fome que poderia comer dois porquinhos de uma só vez — disse ele começando a andar na minha frente, Vanda o seguiu.
— Você não vai encostar nos meus bichinhos de estimação — reclamei enquanto começava a andar.

A Garota Em ComaWhere stories live. Discover now