Almost Paradise

Whatever

Movo meus pés devagar até a cama, e é nesse momento que observo o quarto. As paredes são azul marinho, uma delas está coberta de pôsteres de homens surfando, andando de skate e tocando guitarra. A mobília é branca. Em cima da estante encontram-se alguns livros e um computador. O chão é coberto por carpete bege. Sento. Olho para meus tênis. Estão sujos.

- Já pode me contar.

- Você não vai poder participar com a gente do show de talentos, nem ajudar.

Meus olhos ficam úmidos e minha garganta seca. Não tenho uma reação imediata. Não sei lhe dizer exatamente, mas acho que fiz uma cara de pura surpresa e medo. Jungkook apenas encara o chão e dá continuação a sua fala.

- Foi o Namjoon. Falou que era você ou ele. Não sabemos por que, simplesmente chegou em casa dizendo que não ia se apresentar ao seu lado e que não devíamos inscrever seu nome.

- Ele tá em casa? - apenas pergunto.

- Acho melhor não...

- Eu perguntei se ele está em casa.

- Sim. No quarto do Jimin. Na porta do lado.

Levanto da cama rápido demais e meus pés tremem. Não acredito que Namjoon fez isso. Saio do quarto e bato na porta ao lado. Não vou gritar. Não vou parecer agressiva. Não vou ser grossa. Não vou me exaltar. Não vou demostrar raiva, por que isso é o que ele gostaria.

Jimin abre a porta.

- E aí?

- Pelo visto eu estou fora.

Tento parecer indiferente, mas ele percebe o tom de pré-choro em minha voz. Me abraça. Seus braços são fortes e minha vontade é ficar envolta por eles para sempre. Mas luto contra essa vontade e me desvencilho.

- Namjoon tá aí?

Jimin ri.

- Sim, quer falar com ele?

- Por favor.

- Vou dar uma volta.

- Não me deixe sozinha com ela! - escuto Namjoon berrar. De onde estou não consigo vê-lo. Jimin sai do quarto, me empurra pra dentro e fecha a porta. Merda.

Não me preocupo em observar o quarto, mas faço isso automaticamente. Três das paredes tem a cor branca, a outra é preta e tem skates perdurados nela. A cama está desarrumada. Vejo revistas masculinas no chão. Uma guitarra está em cima da estante. Na cadeira tem roupas. Localizo um pedaço de sanduíche perto da janela. Ele fede.

- Pediu pra me tirarem da apresentação por causa de uma droga de um trabalho? As coisas não deviam funcionar assim.

- Não foi pelo trabalho. Você toca mal e tenho medo que atrapalhe o show.

- Eu poderia ficar atrás das cortinas, ajeitar o figurino, cuidar da iluminação. Posso até parecer, mas não sou idiota - digo, ficando nervosa.

- Não, você não poderia e não vai.

- Tem certeza? - tento me acalmar.

- Sim, afinal o futuro depende daquilo que fazemos no presente.

- Mahatma Gandhi. - digo e saio do quarto.

Procuro o banheiro no corredor. Lavo meu rosto e vejo no espelho gotas pretas escorrerem pelas minhas bochechas. Meus olhos verdes parecem cansados. O coque caiu e meu cabelo loiro cobre-me os ombros. O moletom aparenta ser largo demais. Os tênis machucam meus pés. Quero ir pra casa. Mas tenho que estudar com Jungkook, foi pra isso que vim até aqui. Estou triste e isso só aumenta minha sede de vingança. Minha linha de raciocínio é simples: se não posso me apresentar com eles, vou ganhar deles.

•

Entro em minha casa. Os estudos não foram muito bons, nenhum de nós estava prestando atenção o suficiente. Shinhye fez biscoitos pra mim, daqueles que tem uma aparência horrorosa e um sabor maravilhoso. Comi todos. Talvez ela tenha achado que passo fome, o que não é totalmente mentira. Meus pais estão trabalhando, em pleno sábado. Pego meu celular. Ligo a internet. Pesquiso sobre músicas. Fico todo tempo que meus créditos permitem. Achei muitas opções, mas uma canção em particular chamou minha atenção.