Capítulo 1

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Rio de janeiro, 2007

— Morgana, acorda. Já são meio dia.

— Não quero! Dormi mal a noite, me deixa em paz, Amália.

— Tome ao menos seu antidepressivo, são ordens do seu pai.

— E quem é ele para me dar ordens? Você mesma sabe que se ele tem tudo que tem hoje, é graças a fortuna e burrice da minha mãe. Não passa de um gigolô.

— Sim, Dona Morgana. Mas se ele ver que você não tomou, irá brigar comigo.

— Faz o seguinte, joga fora e diz que eu tomei. Não me questione, por favor.

— Está certo. Com licença.

Amália é nossa governanta, trabalha conosco desde que eu era um bebê. Essa noite tive outro dos meus sonhos.

Querido diário, os meus sonhos são constantes, novamente sonhei com o homem misterioso do primeiro sonho. Dessa vez foi diferente, estávamos tão felizes juntos. Só poderia ser em sonho mesmo, na realidade, não tenho capacidade de fazer ninguém feliz. Só queria encontrar alguém que me compreendesse e talvez me ajudasse a mudar, é horrível sofrer em silêncio, mas é melhor do que desabafar e ser taxada de louca. Prefiro seguir na minha escuridão. Ás vezes me pego a pensar se aparecerá um anjo para salvar-me do abismo.

Depois de registrar tudo em meu diário, tomei um banho para despertar de vez. Queria entender a confusão da minha cabeça, quero ser boa e sou outra coisa totalmente diferente, vai ver é porque as mocinhas sempre se fode, as vilãs também, mas ao contrário da mocinha, ela não aceita ser pisoteada por ninguém. Eu sou exatamente assim, aí daquele que atrapalhar meus planos.

Depois do banho, desci para cozinha, estava faminta. Todos haviam almoçado, já se passavam das treze horas.

Comi apenas bolacha e um copo de suco, não ando com muito apetite. Depois de comer, voltei para o quarto e me tranquei, quero ficar sozinha. Dormi a tarde toda.

Naquele dia a noite

— Morgana, acorda filha. Amália disse que você não saiu do quarto, passou o dia trancafiada.

— Me deixa em paz, mãe. Desde quando se importa com minhas atitudes? E para com essa mania de usar a chave reserva, para destrancar meu quarto.

— Para com isso! Olha, que tal irmos ao seu psiquiatra?

— Psiquiatra? até parece! Se você tivesse feito seu papel de mãe, não estaríamos tendo essa conversa agora. Você só pensa na sua magnífica empresa e nas reuniões das suas amigas imprestaveis. Nunca se preocupou de verdade com a Sabrina e eu.

— Você está sendo muito injusta, Morgana. Vocês sempre tiveram tudo.

— Não estou sendo e você sabe, não queríamos seu dinheiro e sim seu amor.

— Está tudo bem aqui? — Meu pai aparece na porta do meu quarto.

— Está tudo ótimo, já terminamos nossa conversa, mãe. Pode cair fora e você também não precisa entrar, dê meia volta.

— Você é tão estúpida! — Minha mãe reclama saindo do quarto.

Acho que estrapolei com ele, talvez eu deva pedir desculpas.

Vou até seu escritório e o vejo cabisbaixo em sua mesa.

— Posso entrar?

— Entra.

— Me desculpa? Fui muito grossa com você, pai.

— Porquê me odeia tanto, Morgana. Sou tão ruim assim?

— Eu não sei, só não consigo te tratar bem.

— Acha que me casei por interesse com sua mãe, se soubesse o que aguentei por essa família, talvez as coisas mudasse.

— Então me diz.

— Deixa para lá, isso não importa mais. Não precisa gostar de mim, mas ao menos trate sua mãe bem.

— Eu gosto de você, só tenho um modo diferente de expressar. — Deixo um sorriso escapar. Vou tentar melhorar na condição de cortar os antidepressivo, não preciso disso.

— Como quiser. Vamos jantar?

— Não estou com clima, pai.

— Podemos ir naquele restaurante que você adora, só nós dois.

— Sério? Quer passar um tempo comigo?

— Claro! Vamos?

— Vamos sim, só vou pegar meu celular.

Por essa eu não esperava, depois de tanto desprezo, meu pai ainda quer ficar comigo. É, realmente ele não merece essas grosserias. Ao contrário da minha mãe, ele sempre fez tudo para se fazer presente.

Fomos para o restaurante Mitsuba na Barra da Tijuca, simplesmente amo comida japonesa, fora que o lugar é muito aconchegante.

— Obrigada, pai. Estou feliz de estarmos juntos aqui.

— Eu também, se você quiser, podemos sair com mais frequência.

— É, pode ser.

— Ah! Esqueci. Seu motorista se demitiu, estava se sentindo cansado, ele havia comentado a alguns dias então, já contratei outro.

— E quem é?

— Um jovem rapaz, seu curriculum me chamou atenção então, resolvi dar a oportunidade.

— Ok.

Fiquei curiosa para conhecê-lo, nunca tive um motorista jovem, só velhos. Espero que não seja um porre.

A comida está ótima, me acabei de comer sushi, fora as risadas que foram ótimas. Amei passar esse tempo com meu pai, ele não é o crápula que penso.

Depois de saborear a comida, voltamos para casa. Amanhã terá um evento importante na empresa da minha mãe, ela possui uma filial aqui no Brasil. Preciso arrumar um acompanhante, seria frustante chegar sem um bonitão ao lado.

Os caras da nossa sociedade, são ridículos! Nenhum desperta nada em mim a não ser, asco e pena.
Digo pena porque se acham, mas no fundo, são tão carentes quanto eu.

Chegando em casa, minha mãe e Sabrina estavam assistindo TV.

— Onde estavam? — Minha mãe levanta do sofá e beija meu pai.

— Fomos jantar fora. — Meu pai responde tranquilamente.

— E por que não chamou a gente? — Questiona Sabrina.

— Porquê esse era um momento nosso, adorável Sabrina. — Respondo rispida. Boa noite, pai.  — Me despeço somente dele e vou para meu quarto.

Por mais que tentamos, essa família nunca será normal. Talvez o problema seja eu com minha ignorância.

Coloquei uma camisola de seda, deitei e fiquei olhando para o nada, pensando no meu novo motorista. Por qual razão estou pensando nisso, que bizarra eu sou. Pensando em um cara que nem conheço, mas tenho o pressentimento que será diferente dos outros. Bom, vamos descobrir em breve.

Morgana حيث تعيش القصص. اكتشف الآن