Capítulo 19

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Universos de dor esmagam meu peito, sempre que me encontro no vazio de sua partida.

Esses dias, estão sendo os mais dolorosos da minha existência, o choque não passou e a ficha não caiu. Estamos nos preparando para a cremação do corpo, depois de aguardar quarenta e oito horas o final está próximo, depois disso, nunca mais voltarei a ver o rosto de minha mãe. Na minha cabeça, passa um filme de tudo que vivemos, desde a infância, ate agora. Me arrependo de algumas coisas e comportamentos, o que me conforta, é saber que antes de partir, nos perdoamos de todo feito.

Meu pai está se mostrando forte, mas basta olhar em seus olhos para saber que tudo está desmoronando lá dentro.
Depois de tudo acertado, o corpo foi colocado em uma câmara de cremação, com ele, está se queimando metade de mim, Sabrina, meu pai e eu, ficamos abraçados durante todo o período que aconteceu.

Nunca vamos entender os mistérios da vida, ela te prega peças o tempo todo, umas boas e outras como essa, que é capaz de nos fazer perder tudo em segundos. Felizmente tenho por perto, pessoas maravilhosas, Gabriel é uma delas, é o anjo que Deus mandou para cuidar de mim, neste período, perdi três kilos, eu não sinto vontade de comer, minhas noites são péssimas e sempre me pego chorando olhando para o nada.  Depois de todo o processo, suas cinzas foram entregues a nós, foi tudo que restou dela.

Voltamos para casa do meu pai, não quero deixá -lo sozinho neste momento, ele precisa de mim mais do que nunca.
Ficamos sentados na sala em um silêncio perturbador, cada um estava afogado em suas próprias memórias.

— Se me dão licença, vou para meu escritório.  — Meu pai se levanta do sofá, deixando suas lágrimas rolarem.

— Sabrina, porque você não come alguma coisa? – Não pode ficar sem se alimentar, pelo bebê.  — Sento perto de minha irmã que repousa sua cabeça em meu ombro.

— Eu não sinto fome! Minha mãe era tudo que eu tinha, agora estou sozinha.  — Sabrina lamenta em meio a choros e soluços.

— Você não está sozinha! Ainda tem o papa, e eu também. – Eu sei que nunca fomos próximas ou tivemos uma convivência agradável, mas nunca é tarde para mudar as coisas.

— Verdade! Me perdoe pelas vezes que eu importunava você, eu só queria me aproximar e não sabia como, e acabava por te irritar.  — Sabrina abre um sorriso fraco.

— Todos nós fazemos merda em algum momento da vida, não se preocupe.  — Nos abraçamos com ternura pela primeira vez em anos.

— Senhora Morgana, eu preparei uma sopa, vocês não podem ficar assim.  – Leva para o seu pai.  — Amália me entrega uma bandeija com uma sopa de legumes que parece estar ótima.

— Obrigada por tudo, Amália.

Vou em direção ao escritório e ouço o choro desesperado do meu pai, é a primeira vez que o vejo neste estado, e é compreensível sua dor. Ele está agarrado a uma fotografia dele e de minha mãe, e com uma garrafa de whisky já pela metade. Coloco a bandeja na mesa e me ajoelho perto dele.

— Papai, eu sei o quanto está sofrendo, eu também estou, mas temos que ser forte e reagir, ela não ia gostar de te ver assim.

— Você não entende! Erin apareceu no pior momento da minha vida, eu tinha acabado de perder meu pai, estava sem nada e sem rumo na vida.  – Não só me deu emprego, me deu seu ombro amigo, cuidou de mim e quando percebemos, estávamos apaixonados. – Apesar do que aconteceu, não podia abandoná-la e deixar seu nome ser manchado. – Recomeçamos e fomos felizes até agora, do nosso jeito.  — Me mata por dentro ver ele chorar tanto e não poder fazer nada.

— Ainda tem Sabrina e eu, você precisa cuidar da gente, como sempre fez. – Não existe no mundo, um pai melhor que você, felizmente percebi isso a tempo. – Eu te amo tanto!  — Nos abraçamos e nossos sentimentoa foram expressados em forma de lágrimas.

— Eu também amo vocês! – São tudo que eu tenho agora. – Você se parece muito com a sua mãe, os olhos, o sorriso, o cabelo. – De certa forma, sempre terei uma Erin por perto.  — Ele sorri enxugando suas lágrimas.

— Fico feliz por isso, agora pare de beber! – Você não precisa disso, sempre foi forte, a sopa parece deliciosa, deveria comer um pouco, promete?

— Prometo! — Meu pai beija minha testa e me retiro levando a garrafa comigo, não vou permitir que meu pai se afunde na bebida, é doloroso o que estamos passando, mas temos que ser forte.

Subi para meu antigo quarto com Gabriel e fomos para o banho, como precisávamos disso, revigorou um pouco de minhas energias. Depois do banho, descemos para jantar, meu pai aparentava estar melhor, um banho e uma refeição boa fazem milagres. 
A sopa da Amália realmente estava ótima, ela tem um tempero único na cozinha.
Depois de comer e fazer as últimas higienes do dia, Gabriel e eu fomos dormir, estávamos esgotados e precisando dormir.

— Amor, obrigada por ficar o tempo todo comigo. — Agradeço enquanto estou envolvida em seus braços, olhando em seus olhos.

— Você não tem que me agradecer! Quero ficar ao seu lado nas boas e más horas, casamento é isso, um cuidando do outro nos piores e melhores momentos.  — Ele retira uma mexa de cabelo do meu rosto, olhando em meus olhos se declara.

— Eu te amo! Quero passar a vida com você e ter uma família, assim que tudo passar e você estiver pronta, quero me casar com você. — Ele sorri acariciando meu rosto.

— Eu serei a mulher mais feliz do mundo quando esse dia chegar.  — Nos beijamos lentamente, sentindo o amor que temos um pelo outro.

Depois de algum tempo adormecemos abraçados um ao outro, acordamos por volta de meia noite com a campainha tocando, eram dois oficiais da polícia.

— Boa noite e desculpem o incômodo, sou o Tenente Vargas.

— Boa noite, tenente. Em que posso ajudar? — Meu pai está curioso assim como eu, o que a policia poderia querer aqui a esta hora.

— Viemos informar que o Vanderlei acabou de morrer!

O que?!  O Vanderlei morreu....

Morgana Where stories live. Discover now