08 - Eu sou mais que isso

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[Música do capítulo: Starset - Antigravity] and

Amelie Cooper

"A montanha atrás do castelo assombrado, trás boas memórias do nosso passado…"

Um sonho.

Uma moça de vestido amarelo segurava um ramo de flores enquanto sorria. Ela vê alguém, já que começa a acenar. Eu sou somente uma telespectadora já que ela não percebe minha presença, ou melhor: eles.

O alto homem bem vestido se encontra com a moça de cabelos castanhos a abraçando. Eles eram um casal.

Verdadeiros amantes com seu destino traçado. Casamento marcado o anel já comprado, eu e você meu amor eternamente lado a lado…

Acordei com lágrimas nos olhos, enquanto novamente Daryl me segurava pelos braços e me encarava com seu olhar que costumava ser vazio, agora, eu vejo um resquício de ódio e dúvida.

— Como você a conhece? — ele me pergunta, e eu pisco duas vezes tentando entender a questão — Como você conhece essa música porra?

Música? Ah! O sonho.

— Daryl, me solta, você está me machucando! — tento me desvinciliar do aperto das suas mãos.

— Só responde! — ele fala baixo e entre dentes.

— Eu estava cantando enquanto dormia? Era só um sonho, Daryl. Me solta.

Ele me encara, e logo então me solta e sai pela porta do quarto.

Por que ele ficou tão zangado com isso?

Tento não me importar muito com as atitudes estranhas do Daryl e volto a dormir, tentando então sonhar novamente.

Gritos e sangue ecoavam por todo lugar. Uivos ensurdecedores de enormes lobos se faziam presente também. Novamente estou como telespectadora neste sonho que acaba de se transformar em pesadelo.

A mulher já não está mais no monte atrás da casa, nem seu amado cavalheiro. Entro no castelo negro e tudo o que vejo são resquícios do início de a batalha. Corro olhando para as grandes janelas até chegar na porta da cozinha. Olho para a grande floresta negra que ficava atrás do castelo e percebo que mais gritos vêm de lá.

Corro entre as árvores e galhos secos quando finalmente vejo o amado cavalheiro sem o seu terno negro, descalço, de calças rasgadas e sangue em sua camisa e nas mãos. Logo atrás percebo os lobos que na verdade eram monstruosos para serem simples lobos.

Percorro com os olhos procurando a jovem dama e tudo que vejo é uma mulher de vestidos rasgados com um sorriso perverso no rosto.

Tento olhar nos olhos do pobre rapaz que parece estar sozinho e tudo o que vejo é dor. Mas espere! Eu conheço esse olhar, conheço essas mãos e esses cabelos desalinhados… Daryl.

Sim era ele. Ele exalava raiva e a dama se despia em meio às criaturas.

— Eu nunca amei você! — foi o que ela disse antes de se abaixar e gritar de dor.

Daryl também grita em meio ao sentimento de dor por ser rejeitado quando então, a dama se ergue do chão como uma besta fera, de olhos amarelados, de dentes grandes e pelos por todo o corpo. Ele vai para cima dela para atacá-la e dar seu golpe mortal.

— Senhora! Senhora! — sou acordada.

Abro os olhos com pesar, sentindo meu corpo doer como se eu mesma tivesse travado aquela batalha, e então foco meu olhar para a moça que estava ajoelhada aos pés da cama me encarando.

— Me desculpe acordá-la, mas, são ordens do patrão. — claro, nem dormindo e nem em sonho aquele miserável me deixa em paz.

— Tudo bem. — eu disse forçando um sorriso — E você, como se chama? Nunca a vi por aqui antes.

— Ah senhora, desculpa não me apresentar. Sou Isabel, as suas ordens. — ela fez referência.

Isabel aparentava ter a mesma idade que a minha. Esbanjava juventude com os seus cabelos castanhos e olhos escuros. Sua baixa estatura a deixava mais jovial ainda, com sua pele queimada do sol.

— Não precisa dessa reverência toda enquanto o Daryl não estiver por perto Isabel. Pode me tratar por Amelie ou Amy, como desejar. — sorri de novo para a garota e vi seu rosto iluminar.

Levantei-me e Isabel me ajudou a me vestir para o café da manhã. Optei por algo leve como um vestido curto mas de mangas longas. Um tecido muito confortável, que para dentro de casa era algo perfeito.

Enquanto caminhavamos em direção a sala de jantar, percebi que Isabel me mandava olhares de soslaio com uma pitada de preocupação, resolvi ignorar, e só então quando desci as escadas e cheguei à mesa, que pude entender a expressão tensa da menina.

Victória.

Ela se atreveu a voltar.

Quando finalmente chego ao meu lugar — que infelizmente era perto daquele crápula, e finalmente percebi que a Victória se sentava frente a mim — pude esboçar alguma reação. Isabel fica de prontidão atrás de mim.

— Posso saber o que se passa aqui? — perguntei tentando manter toda a calma possível — Daryl, você pode me explicar que merda é essa?

— Ora ratinha! — ouço a Victória rir e isso me dá mais raiva ainda — Eu só estou tomando café com a Victória.

— E para que me chamou então? — pergunto ainda de cabeça baixa ouvindo os burburinhos das risadas que Victória soltava.

— Eu quero que você entenda de uma vez que ela, e só ela é minha mulher. Você é só uma das minhas propriedades que tive a infelicidade de adquirir. — vejo ela tocando na mão dele. Desgraçado!

— Então Daryl, — finalmente levanto o rosto — isso me dá o direito de ter alguém também, não é? Ou você acha que ficarei trancafiada aqui para o resto da vida? Ah, você já me falou isso, falou tanto que perdeu o efeito. Dizer que não valho nada para você e blá blá blá não me causam nem dor, nem medo, nem nada. Daryl Ulric parou de ter efeito sobre mim. Quanto a você, vagabunda — olho para a Victória — aproveite o título de amante o quanto quiser, já que de esposa ele tem a mim. — me levanto e vou em direção a porta. Isabel me segue fielmente.

— Aonde pensa que vai? — ele grita, e então eu abro a porta dando de cara com Enrique.

— Aonde eu vou não lhe interessa.

Enrique me encara, e sinto o olhar do Daryl nas minhas costas. Saio andando enquanto Isabel se limita a continuar. Eu entendo, era o emprego dela. Vou em direção às árvores negras, procurar quem sabe um consolo ou uma resposta para essa vida minha.

Casada com um Vampiro - Livro 01 (Série Universo Ulric) [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora