15 - Eu te vejo: efeito colateral dois

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Amelie Cooper

Eu realmente não estava no meu estado habitual. Como eu pude? Por quê?

Há uma semana e meia eu estou sob o mesmo teto que esse monstro, com uma ideia ridícula de vingança com o irmão dele. Que merda eu ando pensando? Já não ficou claro o suficiente que ele me odeia?

"Sim ele te odeia" uma voz ecoa na minha cabeça e isso me faz lembrar do meu delírio de que "fui escolhida para alguma merda".

Encarar meu reflexo horrível no espelho não é nada agradável. Quem era Amelie Cooper, uma garota amada e cheia de vida, que se tornou infeliz, machucada, com um plano ridículo de vingança e umas olheiras terríveis.

"Você é a nossa escolhida querida. O evento anterior é só o princípio do que você pode fazer com o sangue do maldito correndo em suas veias."

Era a voz de uma velha que ecoava e ecoava na minha cabeça. Eu a ouvia nitidamente com seu sotaque terrível e arrastado de um resto de espanhol de restaurante mexicano de beira de estrada.

- Vai embora! Me deixa em paz! - eu gritava com as mãos socando minhas orelhas.

De olhos fechados eu desejei com todo o meu ser que aquela gargalhada sinistra cessasse e então pude ouvir o espelho estralando e espatifando em pedaços caindo sobre a pia e pelo chão do banheiro.

Uma voz distante me chama e finalmente crio coragem para abrir os olhos e ver quem está na porta gritando por mim.

- Amy! Amy!

Eu vejo a silhueta embaçada de dois homens altos e forço a visão para conseguir enxergar.

Dentes longos e pontudos, olhos completamente negros e a pele pálida tinha rachaduras, como uma peça de argila velha.

Um deles estava chamando meu nome, e a voz parecia semelhante. Eu me abaixei e agarrei um caco de vidro.

- SE AFASTEM DE MIM! - os ameacei, porém, eles deram um passo até mim — Saiam de perto de mim seus monstros!

Eu tentei enfiar o caco de vidro em um deles, mas eu estava zonza demais e acabei multilando a mim mesma.

— AHHH! Droga de garota imbecil! — eu reconheço essa voz grossa que ressoa como uma trovoada, mas ela me trás sentimentos tão ruins... — Você ficou maluca porra? — eu sentia o calor do sangue escorrendo pelo meu braço e pernas e as coisas que já estavam estranhas foram ficando mais estranhas ainda.

Eu vi aqueles dois na minha frente se transformem em algo mais ridículo ainda. Demônios sugadores de sangue, com olhos vermelhos e garras enormes. Suas veias eram bastante escuras como sangue coagulado, que facilmente se destacavam na pele branca e quebradiça.

— Daryl, se controla!

— Que merda Enrique! Nem você consegue fazer isso, olhe só o seu estado.

Eu reconhecia-os. Eu queria os chamar e perguntá-los se eu estou louca ou eles são assim mesmo, queria pedir ajuda para sair desse pesadelo ridículo, mas, como um milhão de abelhas zumbido em meus ouvidos, eu já me sentia fria e dormente. Eu já estava perdendo os sentidos. Minha garganta estava ressecada e as palavras não sairiam facilmente, então resolvi desistir de falar, olhar, ouvir e entender. Eu me rendo a tentação de sentir o contato frio do mármore branco manchado de vermelho contra a minha pele acabada, flácida e manchada. Isso não acontece e então eu perco os sentidos.

★★★

— Vampiros, vampiros, eles são vampiros! Você é burra? Eles te mordem e arrancam esse sangue desse seu corpinho de merda. Te maltratam pois não sentem compaixão. Te usam porquê fazem de você, humana, descartável. Mas você não é assim mais... A maldição se voltou contra eles, e seu sangue se faz forte em suas veias.

— O que querem? — eu pergunto em meio a esse sonho ridículo.

— Nós ou eles minha doce princesa? — a mesma voz com o sotaque espanhol responde.

— Ambos.

— Vingança, dor e morte.

Eu abro meus olhos, e vejo duas íris azuis me queimando.

Enrique.

— Amelie? — ele me chama com aquela voz de sempre, mas sem o peso da indiferença, nervoso e ódio.

— Enrique? — eu o vejo suspirar aliviado enquanto bate suas pestanas para mim. — O que aconteceu?

— Você não lembra de nada? — eu aceno com a cabeça negativamente.

Eu lembrava do episódio do banheiro, mas para mim era tudo loucura.

— Você teve uma crise. Entrou em pânico e acabou se machucando. Sinto que isso é minha culpa. — ele se senta na beira da cama fitando minhas mãos e eu carinhosamente seguro as suas.

— Não foi culpa sua. — a loucura ainda estava lá, eu ainda via a mesma alucinação, só que sem nitidez alguma. — Onde está o idiota do Daryl?

— Daryl? Ele saiu, foi resolver umas coisas com o nosso pai.

— Ah...

Espera! É isso mesmo? Decepcionada pela falta de presença daquele insuportável?

— Ele voltará para o jantar. Estamos revezando, afinal somos humanos...

"Humanos. Há! Faça-me o favor. Vampiros" voz chata, voz chata voz chata!

— Mas você é o médico, e além do mais, me salvou.

— É eu sei, — ele retira suas mãos da minha e coça a nuca — mas como médico e salvador, preciso comer e descansar. Bem, a Isabel irá ajudar você no banho e para se trocar. Nos vemos no jantar. — ele sorri calorosamente e sai pela porta do quarto.

Depois de pronta e arrumada, Isa me ajuda a descer aquele inferno de escadas lentamente. Sério, qual o fetiche desse povo com essas escadarias?

Eu encontro um Daryl sentado na cabeceira da mesa com uma camisa preta e lendo um jornal. "Tem pornô aí" eu me lembro desse dia.

— Boa noite. — eu digo.

— A noite está boa para você, ratinha?

Eu ia responder a altura, mas um Enrique de blusa cinza me chamou mais atenção. Ele sentou em minha frente sem desgrudar os olhos de mim. Eu me perdia naquela imensidão de azul facilmente, aonde se eu olhasse atentamente, via doçura.

— O jantar senhores, senhora.

E assim foi, o constrangedor e silencioso jantar no castelo Ulric.

Me retirei educadamente e fui em direção a porta para fora do castelo. Ainda estava frio, e por sorte estava agasalhada adequadamente.

O céu estava limpo, sem nenhuma nuvem para cobrir o brilho das estrelas e a luz da lua cheia. Eu me sentia inquieta e sentia meu sangue ferver. Estava sendo observada talvez?

— Caminhando sozinha nessa escuridão? — Enrique aparece do meu lado.

— Então era você?! — ele me encara com uma expressão de interrogação estampada em sua face — a pessoa que estava me seguindo e observando.

Ele sorri sem graça enquanto íamos passeando pelo jardim morto.

O seu fim era próximo a floresta dos fundos do castelo que por sinal, estava medonha.

Caminhavamos em silêncio, mas eu sentia a tensão corroer o corpo do Enrique e foi então que pude ouvir em alto e bom som um uivo. Um forte e estridente uivo vindo de dentro daquela floresta tenebrosa.

Casada com um Vampiro - Livro 01 (Série Universo Ulric) [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora