PRÓLOGO

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Ultimamente o tempo em Los Angeles anda ensolarado e agradável, mas ainda assim, não há uma queda significante no número de pacientes visitando minha clínica. Como sempre, minha secretária reclama sobre sua profissão não ser valorizada mesmo sendo importante, entre os pequenos intervalos que tem enquanto atende telefonemas. Os pacientes mantêm seus silêncios ensurdecedores, bebericando água enquanto as plantas crescidas demais se enrolam em suas delimitações escassas.

Eu sou um psicólogo, 42 anos, ainda solteiro e vivo na América por mais de dez anos até então. No geral, não tenho muitas insatisfações ou expectativas de mim mesmo.

Nos meus dias de colégio, Los Angeles já não era tranquila. Mas isso, claro, não tem relação com a minha escolha de cursar psicologia. De qualquer forma, ao selecionar meu doutorado, não pude me esquivar do meu interesse. Eu diria que a escolha de psicologia criminal teve muito a ver com minha paixão pela coordenação psicológica entre maridos e mulheres.

Não me leve a mal, não quero desrespeitar as responsabilidades da minha ocupação, mas a maior parte do reconhecimento que tenho vem porque eu entendo que viver não é fácil.

Eu era (e ainda sou) um fornecedor bem satisfatório, fazendo uso de minhas habilidades profissionais para ganhar as almas dos demônios e depois vendê-las para Satã. Isso, obviamente, não inclui minha própria alma.

Minha alma não precisava de nenhum resgate, eu a concedi diversão ilimitada no inferno e desse modo acabei aprendendo sobre dor. Esse povo da polícia não precisava saber da minha orientação sexual, não seria benéfico para o meu "negócio" e os faria pensar em mim como um psicólogo com problemas psicológicos.

No começo do ano passado, eu pretendia reduzir minha cooperação com eles, porque a grande quantidade de pacientes particulares resultou em falta de atenção para mim mesmo. Eu definitivamente não pedi pela pressão horrível de eventualmente precisar do trabalho de outro psiquiatra.

Entretanto, na última semana, um caso mais grave apareceu, envolvendo numerosos homens descendentes de asiáticos. Isso pode ter acontecido devido ao caso peculiar e minha forte relação psicológica com asiáticos, mas quando David, o inspetor de polícia de quarenta anos me telefonou para um convite, não recusei.

Falando de modo simples, um grupo coreano jovem e popular veio para Los Angeles na última sexta em preparação para uma tour de shows, algumas entrevistas e uma série de filmagens de videoclipes. Eles desapareceram no momento em que desembarcaram do avião; o pessoal da companhia local que esperava recebê-los não os viram, e o pessoal que os acompanhava os perderam enquanto saíram por um corredor diferente. Eles perderam contato desde então.

"Só ouvi duas pessoas chamando o nome de um dos membros." Um organizador local disse.

Foi somente até ontem, numa manhã de terça-feira, que a polícia localizou alguns garotos na casa de campo de uma fazenda suburbana.

Infelizmente, quando foram encontrados, apenas um homem estava vivo. Sentado no banheiro, tentando engolir enormes quantidades de pílulas para o coração.

"Esse garoto é como você, ele é chinês." Disse Mike, o estagiário, pra mim.

Evidentemente tendo sofrido uma intensa quantidade de estimulação mental, o garoto se recusou a comunicar-se com as pessoas desde que fora descoberto pela polícia.

O pior é que ele era a única pessoa que sabia da história inteira. Ao mesmo tempo em que ele era uma vítima ele era também o principal suspeito. Além do autismo temporário, ele demonstrou sinais óbvios de mudanças de humor e tendências violentas. Ontem, ao receber uma caneta para preencher um documento de identificação, ele tentou agredir o policial. Devido à natureza altamente sensível desse caso, ele agora está sendo mantido em uma sala de monitores durante todo o dia.

48 HOURSWhere stories live. Discover now