CAPÍTULO 14

4.4K 715 186
                                    

Algum tempo depois, voltei a minha vida normal. A quantidade montanhosa de pacientes me fez não ter tempo para mim mesmo, como sempre. Meu encontro com o jovem adolescente, chinês-canadense, foi gradualmente esquecido como todos os meus outros pacientes. Só ocasionalmente, quando leio os jornais, relatos da mídia e especulações sobre esse caso generalizado no país, eu era relembrado do meu contato com ele.

Na verdade, eu não estava nem um pouco preocupado com a situação dele, tinha total confiança em relação a Konrad, seu advogado. Que eu saiba, quando uma pessoa é colocada em um ambiente à força, que também representa uma ameaça tangível à sua vida, todos os atos podem ser classificados como autodefesa. Então, espero que esse julgamento não seja tão difícil de ser ganho.

Talvez uma pessoa como eu, que não sabia muito sobre a lei e essas coisas, pudesse sentar no júri, votando em sua inocência. No entanto, eu estava um pouco hesitante e desconfortável com as palavras de Mike; se ele mentisse para mim novamente, ajudá-lo seria totalmente fora de questão.

"Eu tenho tempo. Quero dizer, para o julgamento." Eu disse no telefone.

"Ah, é mesmo? Suas consultas foram adiadas até o próximo mês, certo? Parece que você se interessou muito por esse garoto, na medida em que ele até se tornou um paciente vip." David disse com um sorriso.

"Eu disse que tenho um ponto fraco com garotos bonitos." Eu mostrei um sorriso. "É engraçado... Eu sou alguém contratado por você, mas ironicamente, estou esperando que você perca o caso."

"Você julga um livro pela capa." Disse David através de sua voz rouca. "No futuro eu gostaria que você tratasse os criminosos feios."

"Por favor, não me atormente assim. Isso só vai resultar em eu querendo mudar de profissão. É isso, até a próxima semana, diga um olá por mim."

"Você está se referindo a Mike, ou aquele garoto?" Ele riu.

"Descubra você mesmo." Eu desliguei o telefone.

Quinta-feira. O céu estava um pouco sombrio. E como sou acostumado a decidir sobre o meu humor de acordo com o tempo, senti uma pontada de medo. Ao dirigir-me para a quadra do tribunal, vi um grande grupo de repórteres, muitos dos quais tinham rostos asiáticos.

Quando saí do carro depois de estacionar, eles começaram a me filmar, provavelmente por causa do terno que eu estava vestindo e do distintivo da agência de acesso livre preso no meu peito. Um asiático que não compreendia inglês estendeu o microfone para a minha boca, perguntando se eu era um advogado ou um oficial de investigação.

Eu acenei, pretendendo não falar nada.

Uma voz alta viajou em direção aos meus ouvidos, "Aquela são as famílias dos falecidos..." E então a multidão pulou na direção atrás de mim. Eu instintivamente olhei para trás, observando um velho homem de meia-idade proteger algumas mulheres idosas de todas as perguntas fofoqueiras da mídia, além de sua situação indefesa, provavelmente não entendiam o que os repórteres estavam perguntando.

Suspirei e me espremi entre a multidão para proteger os dois. "Por favor, podem se afastar?" Eu disse enquanto os levava até as escadas, e em direção à entrada. A maioria dos repórteres estavam sentados do lado de fora.

"Obrigada." A mulher de meia idade disse de cabeça baixa.

"Coreano? Chinês?" Eu perguntei em inglês simples, antecipando sua compreensão.

A mulher de meia idade olha para o homem, "chinês." Disse o homem.

"Ah, é? Eu também." Sorri, observando como eles claramente se sentiam mais aliviados. Aquela mulher levantou a mão e disse: "Quando chegamos, havia uma barreira de idioma, a equipe da recepção parecia tão ocupada, estávamos preocupados por não sermos capazes de encontrar o caminho hoje."

"Está tudo bem, agora vocês já chegaram." Eu os trouxe para a sala de espera da corte, ainda não havia muitas pessoas presentes. Fiz meu caminho até a máquina de café no canto, logo servindo duas xícaras de café adoçado com leite.

"Só temos café por enquanto, por favor, peço para se contentarem com isso." Eu disse.

"Obrigado, obrigado..." Eles rapidamente se levantaram para pegá-lo, mas não pareceram muito interessados ​​em café. "Você é do departamento de polícia também?" Ele perguntou.

"Oh, não." Eu disse com uma risada. "Eu sou um médico."

"Médico?..." Eles pareciam intrigados. "Então os médicos também precisam estar presentes no tribunal... Médico forense?" De repente eles ficaram tensos.

Apressei-me em confortá-los: "Não, não, sou apenas um psiquiatra, alguém que teve contato com o suspeito."

Sua expressão mudou ligeiramente, provavelmente ao ouvir a palavra 'suspeito'.

"Se não for muito intrusivo, vocês são..." Eu lutei com a escolha das palavras, cautelosamente perguntando, "pais de quem?"

A mulher de meia idade olhou para o marido e falou: "Eu não tenho muita certeza se você o conhece, mas meu filho se chamava Zhang Yixing."

48 HOURSWhere stories live. Discover now