18. White room

662 108 28
                                    

"Por sua causa eu nunca ando muito longe da calçada

Por sua causa eu aprendi a jogar do lado seguro, assim não me machuco

Por sua causa eu acho difícil confiar não só em mim mas em todos à minha volta

Por sua causa eu tenho medo"

Ficar naquele limbo entre da consciência sem o corpo físico era algo muito estranho e surreal. Sabia que estivera inconsciente durante o processo, e que agora possivelmente já estaria em outro corpo, porém era esquisito. Era como se não encaixasse direito num primeiro momento, como se o cérebro estivesse flutuando num imenso vazio, e quando queria acordar, não conseguia se ancorar naquele novo corpo.

A mente flutuava aqui e ali, buscando um modo de se conectar, e quando finalmente conseguiu, sentiu uma forte pontada na cabeça, vendo vários flashes de sua vida misturados com coisas estranhas, provavelmente da vida do dono anterior daquela sleeve.

- Boa tarde, o senhor está bem? - um dos enfermeiros perguntou, e ele logo percebeu que seus batimentos cardíacos e ondas cerebrais estavam sendo monitorados.

- Sim, acho que sim. - estranhou quando falou, pois aquela não era sua voz.

O procedimento correu bem, e Jimin apenas fez os exames de praxe para poder ir logo pra casa. No entanto, levaram muitos dias para se acostumar à sua nova situação. Seu companheiro tinha adorado e ficado super feliz, afinal de fato seu novo corpo era muito atraente, porém o próprio Park achava muito estranho se olhar no espelho e não se ver. Saber que nunca mais veria aquele que era antes, que esse homem sexy e bonito era seu novo eu, podia até parecer bom, mas causava uma angústia que ele não conseguia explicar.

Abriu os olhos assustado por sonhar com aquela época. Há muitos anos já nem se lembrava mais de como era sua aparência antes do procedimento de troca de sleeve. O desconforto em seus olhos se fez presente, aquele quarto todo branco lhe trazia essa sensação. Tinha gritado e pedido por socorro quando se viu ali, sem sequer lembrar como havia ido parar em tal lugar, mas depois de algumas horas sem resposta desistiu. O único sinal que teve de estar sendo vigiado foi quando recebeu por uma mini porta no canto esquerdo um prato branco cheio de arroz. Era angustiante como tudo ali era sem cor, as paredes, o chão, o teto, a pequena cama, sua roupa e até a comida.

Não fazia ideia de há quanto tempo estaria ali, mas parecia uma eternidade. Viu que tinha uma saída de ar próxima do teto, que vez ou outra soltava uma fumaça que acreditava conter alguma substância tóxica, pois sempre lhe fazia dormir e ter pesadelos. E por mais que eles fossem ruins, Jimin não podia se decidir se eram piores do que ficar naquela apatia do quarto branco, se pegando por vezes a pensar que gostaria que lhe drogassem logo, pois até mesmo a agonia de seus sonhos era melhor que o nada.

O mundo parecia tão mais bonito e colorido naqueles dias. Amar alguém e ser correspondido era uma sensação nova para si, e poderia sair por aí cantado e saltitando, tamanha a felicidade que sentia em saber que uma pessoa tão especial estava em sua vida. Conforme caminhava pelas calçadas do centro movimentado da cidade, viu uma floricultura do outro lado da rua, pensando que não custaria nada passar ali e pegar um presentinho, quem sabe uns girassóis, Jeon parecia gostar da cor amarela e combinaria com aquele sorriso lindo que iluminava seus dias. Saiu da loja com um lindo buquê, contendo seis daquelas belas flores. Era difícil depois de tanto tempo sozinho, só curtindo a vida, se permitir apegar a alguém, dizer que amava ele de volta, principalmente depois de tê-lo deixado falando sozinho quando se declarou. Mas ele tinha confiança que seria perdoado, Jungkook era bom de coração e não guardaria rancor por aquilo, certo? Pelo menos era nisso que acreditava.

SleeveWhere stories live. Discover now