Treze

2.4K 141 87
                                    

No fim das contas, contar ao senhor Jaime sobre meu relacionamento com Marco não foi a coisa mais difícil do mundo, como eu achei que seria. Ainda naquela noite, quando todos foram dormir, meu pai e Marco ficaram na sala, disputando pênaltis no videogame. Quando o jogador sentiu uma brecha, a meu pedido, ele comentou com o meu pai que achava que estava tendo sentimentos por mim, para saber a reação dele.

No início, meu pai pareceu confuso, e sem entender se o garoto queria um conselho ou apenas desabafar. Acabou dizendo uma meia dúzia de palavras que ele considerava como um conselho. No dia seguinte, durante o café da manhã, quando estávamos apenas nós três, eu e Marco soltamos a bomba. Ao ouvir as palavras: “eu e sua filha estamos namorando” saídas da boca de Marco, o senhor Jaime entendeu tudo o que se passou, caiu na gargalhada, e cumprimentou o novo genro feliz da vida.

Para os meus irmãos, exceto Tomás, que estava fora de órbita ultimamente, a notícia foi recebida como uma final de Copa do Mundo: os quatro comemoraram e abraçaram Marco, praticamente acolhendo o jogador como um irmão, dessa vez mais tecnicamente falando. Até mesmo Daniel, que parecia não entender muito o que estava acontecendo, se juntou à comemoração dos mais velhos.

- Eu sempre achei que vocês deveriam namorar. – Antonio soltou no meio do almoço. Eu olhei de lado para Marco e ri, e o jogador fez o mesmo. – É SÉRIO, FLORA! O Marco sempre aturou você. Vocês implicavam um com o outro o tempo todo. Cedo ou tarde isso iria acontecer.

- Você é muito abusado, garoto. – eu disse e mostrei a língua para ele.

- Irmãzinha, preciso concordar com ele. Mais claro que dois e dois são quatro.

- E desde quando vocês dois concordam em alguma coisa? – eu impliquei com o gêmeo, que revirou os olhos.

Todos participavam da conversa à sua maneira: minha mãe respondia à Daniel o que era um namorado e porque dois mais dois resultavam em quatro. Marco atualizava meu pai sobre as últimas notícias dentro do Real e sobre o próprio pai e irmão. Antonio e Enrique discutiam amigavelmente sobre alguma razão que provavelmente era irrelevante, como sempre eram as discussões dos dois. Tomás permanecia quieto, encarando seu prato e remexendo a tradicional paella espanhola. Eu o chamei baixinho e ele olhou para mim por pouco tempo, apenas o suficiente para que eu o perguntasse o que ele tinha de errado. Ele não me respondeu, mas dispensou sobremesa e subiu para o quarto.

*

- Oi. – eu disse abrindo a porta depois da autorização do único gêmeo em casa, já que Marco e Enrique tinham ido fazer seu programa de sempre: procurar uma pelada pelos campinhos de futebol de Mallorca. – Posso conversar com você um minutinho? Não quero te atrapalhar. – eu completei ao perceber que ele estava com os livros da escola sobre a escrivaninha.

- Entra.

Eu me sentei na cama fofa do garoto, abraçando o travesseiro dele, o que deu tempo a ele de fechar o livro e se virar para mim na cadeira de escritório.

- Você vai me contar agora o porquê de estar tão quieto nos últimos dias? E não me diga que é cansaço, eu vejo que você está dormindo até mais tarde. – eu abracei o travesseiro com mais força. – Você não está chateado por causa de Marco e eu, está?

- Dios, não! É claro que não, Flori. Eu gosto de Marco, e ele parece gostar muito de você. Estou feliz, você parece feliz. Tudo certo.

- Então qual o problema? – eu disse sorrindo para meu irmão.

O garoto suspirou e fechou os olhos, esfregando as mãos nas pernas.
- Eu recebi a resposta de Sorbonne. – ele disse olhando no fundo dos meus olhos. – Eu entrei.

LuckyWhere stories live. Discover now