Dezessete

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Papais.

Meu corpo todo estremeceu.

E ainda estremecia ao recordar, quase uma semana depois.

Encarei a imagem do ultrassom pela milésima vez só naquela semana, ainda sem acreditar que uma nova pessoa morava dentro de mim agora.

Eu me sentia... confusa.

Uma vida é sempre uma vida, é claro, e eu não pensei em nenhuma loucura desde a descoberta da vida daquele bebezinho.

Daquela menininha.

Quando Natalie, a médica de Cardiff me disse que já conseguia identificar o sexo do bebê, eu imediatamente quis saber. Nunca entendi mães e pais que querem esperar o nascimento do filho para saber se vão ter um menininho ou menininha. Nunca fora o meu sonho.

E quando eu ouvi a palavra menina sair da boca da médica galesa, meu coração sorriu e eu também.

Apesar de ainda estar impressionada com toda a carga informacional – o bebê estava ótimo, mas eu precisava de vitaminas pré-natal, e procurar por um médico em Madrid -, eu me sentia feliz. Sabia que aquele provavelmente não era o melhor dos momentos – com Marco ainda se firmando no time, e eu no meio de uma faculdade em tempo integral, praticamente -, mas eu não podia deixar de me sentir a mulher mais feliz e sortuda desse mundo.

Em dois dias, eu completaria a décima quarta semana de gravidez, e eu me olhava no espelho pensando como pude não ter percebido as mudanças em meu corpo: minhas roupas estavam mais justas, meu apetite tinha aumentado. Uma pequena barriga começava a despontar, e aos poucos eu criava o hábito de acariciá-la e conversar com a pequena que estava ali dentro.

Enquanto isso, Marco tentava à sua própria maneira absorver essa novidade da nossa vida. Ele preferia não tocar no assunto, e toda vez que eu comentava alguma coisa sobre a neném, ele se enrolava nas palavras, demonstrando toda a sua ansiedade e ainda incompreensão pelo que tínhamos acabado de descobrir.

De início, eu achei o hábito admiravelmente fofo. Mas depois, aquilo me frustrava. E para me proteger, eu simplesmente parei. Parei de falar sobre o futuro, sobre a filha dele que eu carregava dentro do meu ventre.

Era o melhor para nós dois, por enquanto.

Alicia foi a primeira pessoa com quem eu escolhi compartilhar a novidade. Não aguentei esperar chegar novamente em casa, e assim que fui liberada, contei, ainda em choque, o que Natalie me dissera no hospital. Mas ao chegar em Madrid, depois de um dia de internamento em Cardiff, eu procurei por uma obstetra, que passaria a acompanhar todo o meu pré natal. Da consulta, onde tudo foi reafirmado – o número de semanas e o sexo da bebê - parti imediatamente para o apartamento da futura médica, que me atendeu com um sorriso no rosto e um abraço preocupado. Foi no seu ombro que eu chorei tudo o que eu sentia acumulado no meu peito desde aquele exame.

- Está tudo bem, querida. – ela se sentou comigo no sofá, mexendo em meus cabelos de leve. – É o que eu estou pensando, certo? – eu assenti e ela sorriu, enxugando minhas lágrimas. – Ah, Flori. Você está nervosa?

- Estou. Estou nervosa, preocupada... feliz. Eu sempre quis ser mãe, amiga. Você me conhece, você sabe. Mas Marco...

- Se o Marco não ficar do seu lado agora, ele é um idiota, o que nós duas sabemos que ele não é. Ele precisa de um tempo. Você o conhece melhor do que eu.

- Eu sei. Eu só... só queria saber como ele se sente sobre.

- No momento certo ele vai lhe dizer. Como você se sente, Flora?

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