Quatorze

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DEZEMBRO DE 2016

Dois meses passaram na velocidade da luz e eu tive a impressão de mal ter tempo para respirar antes que o Natal batesse à minha porta em forma de frio, neve e Dean Martin tocando em todas as ruas. Não reclamei, o Natal era meu feriado preferido, e esse seria especial: minha família viria para Madrid e celebraríamos todos juntos. A família de Marco se reuniria com a nossa, e seria tudo como nos velhos tempos em Mallorca.

O Real Madrid vinha colecionando vitórias e goleadas em sequência. O último jogo tinha sido uma vitória magistral, consagrando o Real Madrid como campeão mundial sobre o Kashima Antlers, ao qual não tive oportunidade de assistir pessoalmente, mas assisti em casa, roendo as unhas de ansiedade.

A equipe de Madrid abriu o placar com Benzema, mas o primeiro tempo terminou em empate. O Kashima Antlers até passou a frente durante alguns minutos, mas uma atuação magistral de Cristiano Ronaldo, que marcou o gol que levou o Real ao empate e posteriormente à prorrogação, na qual o português cravou mais dois, firmando um hat trick e a vitória da equipe.

Marco foi ao Japão acompanhando a equipe, mas não chegou a ser relacionado para começar jogando nem para o banco. Assistimos ao jogo simultaneamente, eu de Madrid, ele de Yokohama, e ele vibrou junto com a equipe, recebendo o prêmio junto com todos, voltando para Madrid sorridente e feliz com seu primeiro mundial.

O próximo partida seria apenas em janeiro, e desde a chegada dos meus pais, faltando 5 dias para a véspera de Natal, eu tinha praticamente me mudado para a casa dele, já que meus pais e meus irmãos mais novos ocupavam meu apartamento. Eu e Enrique fomos recebidos na casa dos Asensio, que obviamente tinham mais espaço do que o meu pequeno apartamento.

Tomás tinha tomado duas decisões importantes nos últimos dias, e eu estava orgulhosa dele por isso. A primeira, e mais estrondosa delas: ele iria para Paris, para Sorbonne. E ele continuaria seu namoro com Serena, que funcionou bem nos meses que se seguiram depois de nossa conversa, mesmo à distância. Quando possível, meu irmãozinho ia para Barcelona para ver a namorada, e ela também ia à Palma ou vinha a Madrid para vê-lo. Ela era uma menina adorável, com quem me dei bem logo de cara. O Natal dele, então, seria dividido: ele passaria alguns dias conosco, em Madrid, mas iria à Barcelona para a noite da ceia e tudo o mais. Enquanto isso, no ano novo, Serena se juntaria a nós em Mallorca, onde decidimos passar a virada do ano.

Aos poucos, a vida de todos ia ganhando um novo ritmo: meus pais se adaptando a nova rotina dos meninos, os meninos se adaptando às suas próprias novas rotinas, e Marco e eu nos preparávamos para um grande passo. Nosso próprio grande passo.

Nós passaríamos a morar juntos.

Tinha sido uma decisão espontânea de ambos. Já passávamos mais tempo juntos do que cada um em sua casa, e pareceu uma boa ideia. Numa tarde de domingo na casa de Marco, comentamos como seria uma boa ideia se isso acontecesse. Concordamos, e a ideia ficou na cabeça. Nossos pais ficaram meio resistentes quando tocamos no assunto, mas a ideia já estava tão fixa em nossa mente que eles perceberam que nada do que fizessem nos faria mudar de ideia. Aos poucos, a ideia foi amadurecida, e eu logo comecei a encaixotar todas as minhas coisas. Louças, livros, DVDs, tudo pronto para um novo começo.

Era o começo do nosso para sempre.

Eu não queria nunca mais que Marco ficasse longe da minha vida.

🍀

- Eu vou te pegar, garotinho! – eu ouvi um ofegante Antonio gritar e correr mais um pouco atrás de Daniel, ouvindo a gargalhada gostosa do meu irmão mais novo.

A primeira e última celebração em família no meu apartamento estava saindo melhor do que o esperado. Apesar de estarmos todos nos ajeitando, alguns comendo no sofá ou usando qualquer coisa como um banquinho, aquela bagunça era a minha família. Minha mãe se divertia, mas ao mesmo tempo morria de medo de que algum móvel fosse quebrado por Marco e Enrique, que faziam uma disputa de embaixadinhas no meio da sala. Igor e Antonio se alternavam para correr atrás do Conte mais novo, que tinha muita energia para gastar. Os mais velhos resolveram se encarregar do jantar, e riam juntos na cozinha, ouvindo música e conversando, provavelmente sobre os velhos tempos. Enquanto isso, eu me ocupava trocando mensagens com Alicia e Jade, que estavam em Barcelona e Roma, respectivamente.

LuckyWhere stories live. Discover now