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Os dias passavam lentamente, como se o relógio  risse incansávelmente da minha cara. Eu mantinha olheiras terríveis, passava noites em claro tentando recomeçar meu livro do zero.

Meu pai, bom, ele passa a maior parte do seu tempo livre motivado a fingir que não existo. Ao fim da semana, deixo metade do dinheiro recebido sobre a mesa da cozinha e ele some na manhã seguinte.

Na escola as pessoas me evitam, em especial os garotos, como se eu tivesse um vírus contagioso que os transformará em coisas ainda mais nojentas ou por puro medo de que eu os agarre só por se aproximarem.

As garotas não se importam tanto, só as mais populares que me ofendem as vezes, mas parece que já perdeu a graça pra elas também.

Estou sentado atrás da escola, sozinho, ouvindo música. Mantenho os olhos fechados, ainda é possível ouvir os sons do ambiente, que é longe o suficiente da quadra.

Me poupei da aula de educação física hoje, eu realmente não quero jogar com os outros garotos. É o último horário, falta poucos minutos para a hora de ir embora.

Meu estômago ronca, eu não como nada desde ontem depois da aula. Finalmente o sinal toca, me levanto e espero que o aglomerado de pessoas na saída se dissipe antes de ir até lá.

O movimento é mínimo agora, Kurt espalha poesia em seus versos que me acalmam. Ajeito meus cachos com os dedos, eles estão um pouco compridos preciso resolver isso.

Há um grupo de garotos parados ao lado do portão de ferro, eles me encaram, são os delinquentes que tem passe vip para a sala da detenção. Desvio o olhar, eu só quero ir pro trabalho.

- Olha só o viadinho - um deles diz rindo, tento andar mais depressa.

- Não se enxerga mesmo em?! - eu não consigo andar tão rápido assim, sendo puxado pela mochila.

- Por favor, eu só quero ir embora - digo baixo, minha garganta está seca.

- Lixo como você não devia nem andar na mesma rua que nós - diz o mais alto, ele é tão grande.

- Pessoal, vamos - diz um garoto de cabelo longo, de braços cruzados.

- Qual foi Thomas? Ele é um merda, onde já se viu isso? - ele segura minha camisa.

- Me deixa em paz, por favor - o garoto alto se aproxima e se põe ao lado do amigo.

- Claro - Então finalmente ele me acerta.

Quando foi o meu pai, me doeu a alma mas desta vez é o suficiente para deixar minha visão turva.

- Eu disse vamos - o mesmo de antes descruza os braços e se aproxima.

- Qual foi Thomas? Vai defender esse viadinho agora? - ele grita.

- Vou - ele não demonstra medo, mesmo aparentando ser o mais fraco dos três.

- Tudo bem então, aproveite o seu namoradinho, nem pense em nos procurar amanhã - ele me solta, ainda estou tonto e caio de joelhos.

- Eu não vou - ele grita.

O projeto de jogador de basquete e o idiota de marca maior se afastam.

- Você está bem? - Thomas de abaixa, eu me afasto quando ele tenta colocar a mão em meu ombro - eu sinto muito - ele entende e afasta a mão.

- Obrigado - eu digo, sentindo meu rosto arder.

- Fiz bem menos do que deveria - ele soa culpado.

- Não é sério, obrigado - eu faço força e me levanto - Preciso ir agora, tenho que trabalhar - dou de ombros.

- Tá - ele se levanta - Acho melhor colocar um gelo nisso aí - ele aponta pro meu rosto.

- Ah sim - me abaixo pra pegar meu celular, que só agora me dou conta que caiu - Bem, até mais - me despeço lhe dando as costas.

- Até - ouço dizer, antes de seguir pela rua.

Querido Henry,
Pelo que parece nem todos os idiotas são idiotas...
Sorte a minha...

Caminho até o trabalho, pedindo silenciosamente que Sr. Frank me dê algo pra comer...

Querido Henry - Concluído Where stories live. Discover now