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Primeiro dia no meu novo emprego e não poderia ser mais deprimente. Revisar blogs literários, tudo parece uma ladainha pra mim, uma ladainha com erros ortográficos.

Ainda não sei oque estou fazendo, eu deveria voltar para casa e deixar Henry em paz. Mas depois daquela noite eu não quero que ele fique sozinho, me sinto incapaz de o deixar.

As horas passam e minha ânsia por cafeína não, já me levantei duas vezes para pegar mais do líquido escuro e perfumado. A luz do sol me incomoda, ainda mais depois de adquirir o hábito de vida noturna, não me refiro a festas mas a madrugadas depressivas de intermináveis séries adolescentes.

Depois de chorar horrores por dramas fictícios, sobra menos lágrimas para gastar com os meus próprios. Olho para o relógio e já são cinco da tarde, meu estômago reclama pois não comi nada e depois do fim de meu café, não tenho mais nada para afastar a fome.

Tem dias em que me sinto um tremendo intruso nesta casa, em outros é como se Nick fosse meu filho também e precisasse permanecer aqui. Mas me limito em relação a liberdade, não assisto TV ou consumo os alimentos mais caros, as vezes ajudo comprando coisas e pretendo pagar metade da fatura de água e luz por ser o que mais consume ambos.

Não vejo meus amigos a tempos, meus únicos dois amigos...

Mas não quero os ver agora, ainda preciso me acertar comigo mesmo...

Ainda estou exausto do velório, abracei parentes de quem nem sequer me lembrava. Tios que não sabia que existiam, mas que ao verem Henry me olharam com certo desprezo.

Nojo talvez...

Talvez eu tenha nascido para ser apenas a decepção da família, eu nunca fui o neto ou o sobrinho mais querido. Eu nunca fui quem desejariam que eu fosse, nem eu mesmo me orgulharia de mim.

Apoio os cotovelos na mesa, meu corpo só pede uma pausa de descanso. Talvez eu esteja a mais de 24 horas acordado, mas eu realmente não quero dormir.

A pior parte de dormir é ter que acordar...

Eu só não queria ter que passar por isso, estou em um estado vegetativo e deprimente. Minha real intenção era apenas terminar meu livro, no entanto, estou terminando apenas comigo mesmo.

- Nich? - ouço a porta abrir, eu nem notei a hora ou os passos.

Ainda tenho pensamentos insistentes sobre como eu realmente gostaria de ser morto em um assalto, mas talvez eu não seja útil nem para morrer.

- Você está bem? - Henry vem até mim, puxando minha cadeira e se sentando na cama, me encara como se eu fosse um animal exótico.

Uma mecha de seu cabelo cai em seu olho, diferente da primeira vez, acabo por erguer a mão para tirá - la dali. Depois acaricio sua bochecha, tão calmamente, como se ele fosse desaparecer.

- Henry... - fecho os olhos, sinto minha garganta se fechar por um instante.

- Eii! - ele me puxa para seu colo, me abraçando como se não pudesse jamais me soltar.

- Eu amo você - sussurro em seu ouvido, sabendo que ele não iria me responder, li uma vez que o amor não é construído pelo tempo mas pelos motivos.

Os motivos que me fazem o amar não podem ser contados em uma mão,  talvez nem em duas.

Nosso lábios juntos se encaixam perfeitamente, nossas respirações são como uma melodia que segue o canto de minha melancolia. Estar deprimido me fez poeta...

Estar contigo me fez amor...

"Querido Henry,
Me segure como se fosse incapaz de me soltar, me faça acreditar que existe amor...
Mesmo que seja mentira, me faça acreditar que exista nós..."


Querido Henry - Concluído Where stories live. Discover now