Prólogo

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Charlotte Liv Victoria Bernadotte Oldenburg Glucksburg. Esse foi o longo nome dado à pequena menina que nascera há três anos na capital dinamarquesa. Não havia criança mais promissora em todo mundo, nem mesmo tão poderosa, disso todos tinham certeza. Ele se lembrava, de quando a vira pela primeira vez na tela de um televisor e percebera que a sua história seria muito maior do que todos imaginavam. A menina de menos de uma década de vida poderia ser uma dádiva ou uma sentença de desastre para todo um continente.

Era verão no hemisfério norte, o sol era infinito no horizonte norueguês, não importava a hora do dia – ou da noite – que fosse. Ele, na realidade, não tinha muita noção do horário em sua rotina pouco complexa.

Um jornal televisivo fazia questão de fazer a cobertura completa para o mundo do primeiro evento real que a menina participaria. Ninguém ousava mudar de canal, todos queriam ver aquela miniatura de gente com um vestido rosa cruzando as portas de sua casa ao lado dos pais. Ficara sabendo que algumas empresas por todo o Reino Escandinavo haviam dado folga aos seus funcionários para que ninguém perdesse esse momento: A Princesa do Reino Escandinavo era apresentada por completo, depois de anos limitada aos olhos do povo e de toda a mídia alvoroçada.

Ela era diferente de como ele havia imaginado. A estatura da princesa de poucos anos de vida não atingia nem mesmo a altura da coxa de sua mãe que segurava suas pequenas e delicadas mãos de criança. Sua pele era tão branca quanto à da maioria dos demais cidadãos de seu país natal. Seus olhos pareciam de algum tom de azul que a imagem não o permitia decifrar. Mas, os fios de seu cabelo eram totalmente dourados.

Fez questão de acompanhar as ações da princesa e de seus pais. A Rainha Luiza foi a primeira a atravessar as portas de ferro do palácio de Copenhague. O tempo parecia ser incapaz de atingi-la, três anos passaram como dias para sua beleza imutável. Mas, ele não era ingênuo ao nível de dizer que ela estava igual aos anos anteriores. Luíza era uma verdadeira rainha, como aquelas que eram retratadas nos filmes de princesas encantadas. E sim, estamos falando da rainha malvada que lidera um reino de terror e prende sua enteada em uma torre. A expressão em seu rosto perfeito demonstrava o seu completo poder, força e prestigio. Sua ação de abrir aquele cortejo, deixando para o seu marido a simples tarefa de segui-la, quebrava todos os protocolos reais. Ela sempre adorou não seguir nenhuma regra.

O Rei Nicholas surgiu segundos depois, carregando a princesa no colo, antes de colocá-la no chão e permitir que a mãe lhe desse a mão. O Rei não possuía a mesma expressão, não transbordava poder, ele não era como a esposa, parecia um figurante em toda aquela cena.

A Princesa Charlotte tinha poucos anos de vida, mas contagiava todos a sua volta com seu sorriso infantil e espontaneidade para sorrir e acenar para todas as câmeras que disparavam em seu rosto. Por sorte, a princesa havia puxado o protagonismo de sua mãe e não a acomodação de seu pai.

Ele podia garantir, com toda a sua experiência, que a rainha era a única que sustentava aquele reino. E esperava, de verdade, que isso durasse o tempo que fosse necessário. Mas, sabia que, por mais que torcesse, isso não iria acontecer. Luíza era esperta, poderosa, forte, contagiante... Mas, não era politica.

Talvez, Charlotte poderia ser...

— Visita para você! – Anunciou um guarda atrás dele. Voltou sua atenção, que estava na televisão, para a porta da cela, onde ele aguardava ao lado de uma mulher. Não qualquer mulher, uma das mais importantes de sua vida.

— Emma, o que faz aqui? – perguntou, enquanto ele abria a porta permitindo a entrada dela. Sua irmã apenas o encarou por alguns segundos, antes de voltar sua atenção para o televisor.

— Não sei como pude supor que você não estaria vidrado nisso – disse simplesmente antes de se sentar na cama e observar todo o ambiente com seu olhar sempre tão atento. Ele simplesmente sorriu em sua direção, enquanto puxava a cadeira para se sentar a sua frente – No que você se meteu, meu irmão?

— Não importa. Diga-me, Emma, o que veio fazer aqui? Disse que nunca iria voltar à Noruega na nossa ultima ligação.

— Eu realmente não iria voltar, mas algumas coisas mudaram... – Ela contou sem dar grandes detalhes, algo que ela costumava fazer com frequência. Se ela era realmente boa em algo, era em guardar segredos. Como ele odiava aquilo...— Não acredito que você foi capaz de falhar, você não é assim, nunca perdeu nem mesmo em um jogo de xadrez!

Ela não se preocupava com o tom de voz, parecia se esquecer de que se encontrava em uma prisão de segurança máxima em plena Noruega. Sua irritação parecia ser superior a qualquer outra coisa. Provocou-a mais ainda quando sorriu em sua direção.

— Eu não perdi, Emma, apenas mudei minhas prioridades – A contou simplesmente, a fazendo enrugar a testa, completamente perdida naquele dialogo. Era a sua vingança contra todas as frases pela metade que ela sempre dizia para esconder alguma coisa, normalmente algo que seu pai a havia confidenciado.

— E eu posso saber quais são suas malditas prioridades agora? – Ela praticamente gritou se levantando, sua hiperatividade era mais forte que sua sensatez.

— Olhe bem para a televisão. Olhe bem para a sua princesa e me diga o que você vê! – disse simplesmente enquanto revirava os olhos, implorando para que Emma não o forçasse a explicar a coisa mais básica desse planeta.

— Eu vejo uma menininha fútil, cheia de privilégios, trancafiada em um castelo. Sem qualquer noção, igual à mãe dela! – Ela cuspiu quaisquer palavras que sua raiva a permitia pensar. Ela não tinha raiva da princesa, tinha dele, tinha de Luíza.

— Não estou falando do que você pensa dela! Estou dizendo para você a observar com atenção! O que vê? – disse antes de bufar, Emma o estava envergonhando. Como ela não podia estar vendo o que ele via tão claramente?

— Eu vejo... Meu Deus! Você não pode estar falando sério! Quando pensou em me contar sobre isso? Foi por isso que você se deixou ser preso? Foi por isso que você perdeu! Você a deixou ganhar!

— Achei que nunca iria perceber – disse simplesmente, sendo encarado por seus olhos azuis profundos tomados pela raiva de não estar no controle de todas as informações, pela primeira vez.

— Pelo visto, ainda não acabou. Farei o que você me pediu em sua carta, meu irmão. Descobrirei mais dessa princesa. Só me prometa uma coisa, me prometa não se deixar se amolecer como a Rainha Luíza fez com você! Não era esse destino que o papai queria para você!

— Não posso prometer isso! – disse a levando até a porta da cela. Emma se virou para ele com a raiva voltando para o seu rosto.

— Você precisa prometer! Luka! – Ela gritou antes que ele fechasse a porta. Se veriam em breve. Diz isso para Emma, mas para ela também, a tão querida Charlotte. Ele estava ansioso para finalmente a conhecer!

Por trás de uma PrincesaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora