Era uma vez, no Rio de Janeiro

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"Faço votos, eu tenho sonhos

E eu ainda quero acreditar que

Qualquer coisa pode acontecer nesse mundo

Para uma garota comum"

( Hannah Montana)

4 anos antes...

— Próxima parada, Museu do Prado – dizia o áudio que ecoava por todo o ônibus. Repetiu, dessa vez em inglês. Uma voz, em espanhol, começava a narrar à história daquele local através do fone em seu ouvido, mas Charlotte pouco se importava, já sabia todas as palavras que seriam ditas. Já fazia o mesmo circuito no ônibus turístico vermelho pela terceira vez naquele mesmo dia, e obviamente as gravações não se alteravam.

Era inverno em Madrid, mas o tempo estava insano naquele dia, fugindo totalmente do normal, surpreendendo o mais inteligente meteorologista. A jovem sentia o sol forte queimando a sua pele clara, pois o segundo andar do ônibus não possuía cobertura. Ela pouco parecia se importar com a possível vermelhidão e ardência que logo sentiria em sua pele, muito menos com a marca dos óculos escuros, ela só queria não ter que se importar com nada. Simplesmente, com nada.

Naquela mesma semana, ela tivera uma severa discussão com o pai. É claro que nessa idade, aos 14 aninhos, tais brigas eram normais. Mas, Charlotte sentia que com ela era diferente, e talvez realmente fosse, pois poucas adolescentes possuem uma coroa na cabeça.

O pai não concordava com as vontades dela de ter pelo menos um gosto da vida normal. Ela queria poder viajar, poder fazer amigos de verdade, poder caminhar pelas ruas sem ter com o que se preocupar. Queria poder se sentir livre, pelo menos uma vez na vida. Seu pai achava que ela deveria se focar mais no seu futuro real e pelo menos aceitar conhecer um príncipe que seus pais adoravam dizer que era seu "pretendente" desde a infância. E não, essa história não se passa no século XIX e sim no XXI...

Sua mãe havia proposto algo para controlar a filha há alguns meses. Escolhera a dedo um segurança para lhe acompanhar. Jasper também era novo, tinha apenas 18 anos, e era filho do chefe da guarda real, era alguém de confiança. Charlotte não se incomodara tanto, ele havia se tornado um bom amigo, mas mesmo assim ela sentia falta de conhecer pessoas da idade dela, de viver um pouco, pelo menos.

O rei a havia chamado de irresponsável por ter saído para andar sozinha pelas ruas de Oslo naquele dia, disse que ela não conhecia o perigo que sofria. Perigo, em plena Dinamarca. Charlotte se perguntava qual seria o maldito perigo que somente seu pai enxergava. A mãe nada disse em sua defesa.

Não era novidade que ela e o pai brigavam com frequência, mais do que era considerado normal. Atitudes que para ela eram aceitáveis, para ele eram bem opostas. Não concordavam com o numero de aparições publicas da jovem, não concordavam com as regras de etiqueta obrigatórias, não concordavam com os amigos que a filha escolhia, não concordavam com os amigos que o pai alegava que ela deveria ter – normalmente filhos de nobres importantes, que eram tudo, menos pessoas minimamente legais – não concordavam no que eram livros uteis para se ler, não concordavam com as atividades para fazer no mínimo tempo livre, não concordavam nem ao menos com o cardápio do jantar. Todas as vezes que esses assuntos surgiam, uma briga ocorria.

Naquela semana mesmo – não no dia da briga por causa do passeio da princesa, mas no dia anterior — os pais discutiam sobre o aniversário dela que se aproximava. Na terra da mãe, na Espanha, algumas comunidades de origem latina comemoram a passagem da menina da infância para a vida adulta, como uma apresentação comum nos séculos passados. Luíza sempre gostou dessas tradições e achava que um baile em homenagem ao aniversario da filha seria uma boa ideia, principalmente porque sabia como esses eventos ajudavam da opinião pública.

Por trás de uma PrincesaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora