Vida de Mentira

287 37 86
                                    


"Sua maquiagem, suas tatuagens

São proteção, chamam atenção

que seu pai não pode dá-la"

(Oriente)

— Charlotte... – Ele tentou, mas ela não parecia estar disposta a ouvir mais desculpas, mais mentiras. Ela não estava disposta nem mesmo a ter alguma conversa com ele, mas não percebeu quando sua raiva transbordara por meio de palavras desconexas mesmo contra a sua vontade ou o seu senso de razão.

— Você é um mentiroso! – acusou gritando – Eu sempre soube que era, minha mãe sempre tentou me avisar. Mas, você é pior! Nem mesmo teve coragem de me contar quem era, quis me enganar, me manipular, se escondendo. Você é um mentiroso da pior espécie, é um covarde!

Ele nada respondeu, parecia um tanto cansado, ou pior, parecia pensar que aquela discussão não valia a pena.

— Droga! – Ela exclamou – Minha vida inteira sempre foi cheia de mentiras, eu achei que você fosse diferente, que estava tentando me ajudar a... Ai meu Deus! Aquele teatro todo no Parlamento, você estava...Você estava tentando brincar comigo da mesma forma que fez com a minha mãe! Você estava me transformando em uma marionete do Parlamento Negro também? Como pôde? Eu confiei em você! Você é um monstro!

— Basta! – Ele gritou a fazendo se calar no mesmo instante. Charlotte sabia que tinha toda a razão no seu escândalo. É claro que estava certa, ele havia mentido para ela e merecia os seus gritos. Mas, ela não compreendia o motivo que a levou a se calar. Não sabia se era o poder de fala, de convencimento, que ele sempre possuiu, ou se era outro motivo, mas o que importava era que, contrário a qualquer razão, ela o obedeceu e se calou – Chega! Não irei ouvir mais nenhuma acusação de sua parte!

"Sim, eu menti para você. É claro que menti! Como esperava que eu conseguisse chegar até você? Acha que me aceitariam tão facilmente no palácio? Que eu receberia uma festa de boas vindas. Desculpe, querida, mas eu conheço sua mãe melhor do que você própria!

— Eu não acredito nisso! Você está admitindo as suas mentiras como se fossem apenas um detalhe! Você brincou comigo! Isso não é um detalhe! – Ela gritou novamente, mas ele não parecia se alterar.

— Porque é apenas um detalhe. A mentira que eu contei para você é apenas um grão de areia em um imenso deserto. Há mentiras muito maiores... Inventei uma identidade para conseguir me aproximar de você, para conseguir te ajudar.

— Conte-me – Ela disse depois de uma pausa para respirar o mais fundo que conseguia. A raiva que sentia com aquela discussão começava a produzir lágrimas em seus olhos. Ela odiava aquilo, odiava quando suas emoções se manifestavam em forma de lágrimas, ela odiava aparentar fragilidade. Respirou novamente, não iria deixar que ele percebesse.

— O que? – Perguntou confuso a encarando com seus olhos azuis tempestuosos.

— As mentiras. Disse que há mentiras muito maiores, quero saber quais são – disse tentando controlar toda a guerra que acontecia em seu interior. Ela havia confiado nele, havia construído uma amizade com ele, havia acreditado em suas palavras enquanto ele se apresentava como Axel Malory. Agora... Ela somente conseguia se lembrar das palavras que sua mãe lhe dissera há anos, a história que ela lhe contara. Sabia agora quem ele era, sabia de sua facilidade para manipular todos aqueles sentimentos.

Mas, algo dentro dela duvidava dessa certeza, duvidava que tudo tivesse sido uma grande manipulação. Era aquilo que lhe dava mais raiva. Ela queria acreditar que ele era uma pessoa boa e isso somente a machucava mais. Por que isso estava acontecendo?

Por trás de uma PrincesaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora