Uma Cinderela descalça

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"Eu sou do tipo

Que adora um perigo

Que metade é juízo

Mas a outra é louca"

(Anitta)

Poucas pessoas podem dizer que já vivenciaram as inúmeras experiências que Monte Carlo tem para oferecer. Esse quadro ocorre principalmente por causa dos preços elevados, suponha-se, ou por não ser um programa que entra na lista de prioridades de alguém que planeja uma viagem à Europa. O minúsculo principado de Mônaco é muitas vezes caracterizado como o paraíso de celebridades e milionários, e é possível garantir isso ao olhar para as vias lotadas de carros de luxo e para as jóias exibidas nos corpos de belas mulheres que desfilam pelos conhecidos casinos.

E é exatamente a história de uma celebridade milionária que esse humilde narrador irá contar. A mulher, adormecida naquele momento em uma das suítes mais caras do Hôtel de Paris, era muito mais do que uma jovem rica e de uma beleza quase injusta para os demais mortais, ela carregava uma coroa tão poderosa que chegava a parecer mentira.

Ela era ninguém menos que a conhecida Princesa Charlotte do Reino Escandinavo. Uma jovem de insignificantes dezenove anos, cuja vida foi acompanhada por olhos atentos da mídia cruel de todo um planeta, que quis ver de perto cada etapa do crescimento de uma menina que tinha tudo para ser a mulher mais poderosa do mundo.

E ela honrou tudo o que esperavam... Bem, pelo tempo que conseguiu manter as boas aparências. Quando seu aniversário de dezesseis anos chegou, as coisas começaram a desmoronar a fazendo passar de "A princesa encantada do norte" para "A vergonha da família real".

Claro que essa mudança drástica de imagem não foi de graça. Por exemplo, ninguém esperaria ver a doce e perfeita princesa no estado que ela se encontrava naquele momento em sua habitação no luxuoso hotel.

Naquela manhã de verão, Charlotte acabava de acordar com a sensação de que alguém pressionava sua cabeça com uma força digna de Hércules. A luz que escapava das cortinas parecia queimar os seus olhos recém-abertos. Os conhecidos fios loiros enroscados em si próprios ajudavam a perturbar aquela beleza surreal. Ela parecia tudo, menos perfeita.

Talvez, o homem deitado ao seu lado pudesse contestar essa afirmação, se pelo menos ele estivesse desperto. Continuaremos a chamá-lo simplesmente de "homem", pois nem a princesa saberia informar o nome dele.

Ela levantou-se com as mãos pressionando a cabeça na tentativa de amenizar a dor que sentia, mas não parecia funcionar. O milagre aconteceu quando abriu a porta que dava na sala de estar de sua suíte. Havia algo sobre a mesa principal, que ela não havia visto até aquele instante, provavelmente fora deixado por algum camareiro antes que ela pudesse acordar. Era um copo de água ainda gelada e um conjunto de comprimidos de diferentes marcas.

"Lotti, sei que vai precisar muito quando acordar! Espero-te para o café da manhã, não me deixe esperando! É embaraçoso! Da pessoa que você mais ama no planeta!" – dizia um bilhete em francês com uma caligrafia que ela não reconhecia, provavelmente a pessoa – que ela sabia muito bem quem era – havia mandado que algum funcionário escrevesse por ela. Era uma pessoa bem preguiçosa, era preciso admitir.

Depois de se vestir de maneira que ela considerava aceitável, deixou seu quarto á caminho do restaurante do hotel. Caso estejam se perguntando, o homem continuava adormecido e ela não tinha como se importar menos.

— Bonjour – saudou um homem quando ela entrou no elevador. Os olhos castanhos dele não pararam de admirá-la nem por um segundo, nem mesmo quando ela não o respondeu. Apenas lhe dedicou um sorriso e deixou o ambiente ao chegar ao seu andar desejado e entrar no restaurante para encontrar a única pessoa que merecia sua atenção naquele momento. Ignorar alguns homens já havia se tornado alguma espécie de habilidade.

Por trás de uma PrincesaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora