Entre o passado e o presente

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"Vi sua foto em um jornal,

Lua de mel na Jamaica,

ela é uma garota de sorte.

(...)

Eu tenho o primeiro beijo e ela vai ter o último

Ela tem futuro, e eu tenho passado"

(Jana Kramer)


3 anos antes...

— Acho que você está precisando de um café – Nicholas estendeu o copo de plástico, único adereço da cantina do hospital, na direção da esposa. Luíza agradeceu com os olhos antes de cheirar o liquido, era uma mania que ela possuía desde a infância – O café está fraco, prometo. Sei que odeia café forte. Somente corro o risco de confundir quando preciso levar um para Charlie... Se ela pudesse tomava o grão puro – Ele disse com um sorriso, era uma tentativa de aliviar o clima do local. Luíza apenas assentiu com a cabeça, queria ter tanta leveza na alma, mas era impossível.

Era impossível sentir qualquer leveza, o ambiente não ajudava. Por um tempo, Luíza havia acreditado na possibilidade de passar toda a sua vida trabalhando em um hospital. Deus, não conseguia imaginar uma vida mais terrível. Ela odiava aquele ambiente, odiava a energia, o sofrimento impregnado.

— Ela vai ficar bem – Nicholas afirmou depois de um longo silêncio. Seus olhos não estavam mais na esposa, estavam na filha adormecida no leito hospitalar. Tudo bem, talvez adormecida não fosse a melhor palavra. Ela estava em coma. Em coma desde aquele terrível acidente na Noruega.

Luíza sempre sentira que a decisão de ter deixado a única filha ir para a Noruega sozinha seria a pior que iria tomar em toda a sua vida – e ela já tomara muitas decisões catastróficas. Mas, fora ainda pior. Charlotte podia descobrir um mundo que sempre fora escondido dela pelos pais, poderia se envolver com pessoas perigosas, poderia... Mas se acidentar naquele nível? A mãe nunca poderia imaginar.

O marido tinha razão, ela deveria acreditar nisso. Deveria ter um pensamento positivo uma vez em sua vida. Charlotte iria ficar bem, ela iria acordar e cresceria ainda mais saudável e mais alegre, se isso fosse possível.

É, ela não se parecia em nada com a mãe. Nem mesmo o gosto por café era igual. Charlotte era o tipo de pessoa que preferia o café mais forte que a cafeteria fosse capaz de produzir. Luíza só conhecia duas pessoas assim.

Além disso, a pequena princesa era sempre dona de uma alegria contagiante e muito senso de justiça, algo que a mãe nunca possuiu.

Charlotte sempre fora muito decidida, desde criança. Era extremamente questionadora e amava achar uma causa para que lutar. Luíza tentava controlar esses impulsos da menina, não porque ela era uma princesa, isso era uma boa característica para uma jovem monarca. A intenção era não a deixar se aproximar do Parlamento como a menina gostaria. Não podia deixar que Charlotte se aproximasse da verdade. Assim que o Parlamento visse o jeito que ela se portava, o jeito que discursava... Eles iriam se lembrar, eles iriam conectar, iriam saber a verdade.

Por isso, a mãe fizera de tudo para manter a menina em uma torre, uma torre de proteção melhor que a da Rapunzel. Até um príncipe perfeito encontrara, não para tirá-la da torre, mas para garantir seu "felizes para sempre" bem longe daquele reino, bem longe do passado.

Como podem ver, isso não funcionou. Charlotte fugira da torre, se aproximara da verdade e as consequências se manifestaram naquele acidente.

Luíza se culpava até mais do que era possível pela razão.

Por trás de uma PrincesaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora